Sara e Santiago seguiram para a cafeteria que estavam habituados a frequentar. Mesmo que tentasse, ela não conseguia parar de falar sobre os detalhes do casamento de Dominique e Ulisses, nem mesmo quando, sem querer, deixou escapar o quanto aquilo tudo a deixava extremamente estressada. Mas não queria se sentir assim. Queria estar animada e poder assegurar que tudo daria certo, para garantir a felicidade da amiga, mas a dor que ainda sentia ao se lembrar da rejeição causada por Benício mexia com todo o seu estado emocional. E não havia ninguém com quem pudesse compartilhar, a não ser Santiago.
— Acho que você deveria dar um tempo e falar a verdade para a Dominique. Ela é a sua melhor amiga, tenho certeza de que vai entender.
— Não sei – Sara assoprou o café. — Ela confia tanto em mim, San, e eu desejo tanto que tudo saia como ela sonhou... E eu nunca contei para ela que quase me casei, então ela não entenderia. Não quero que ela pense que eu sou um fiasco e que vou, sei lá, trazer má sorte para o seu casamento.
— Está brincando? – Santiago arregalou os olhos. — Nunca contou para ela sobre o Ben-atrapalha-filme?
— Ah, claro que contei, é a primeira coisa que faço após apresentar o meu nome – Sara gargalhou, deixando o café escorrer por seu casaco de couro. — Prazer, meu nome é Sara e fui abandonada pelo meu noivo no dia do meu casamento.
Santiago riu.
— Sinta-se privilegiado, meu nobre – ela pegou um guardanapo e secou a parte molhada. — Não me sinto confortável para contar essas coisas. Quero dizer, apenas para você. Sabe, é estranho, porque com você tudo é diferente. Sempre que está por perto, preciso me policiar para não contar até os meus mais bizarros sonhos.
— Que seriam?
— Engraçadinho, não vai funcionar – ela riu, observando discretamente a movimentação da cafeteria. — Quer dar uma volta? A lua está maravilhosa.
— Que bom que sugeriu antes de mim – o homem sorriu, levantando-se e pegando o copo. — Podemos caminhar até a sua casa.
— Está encerrando a nossa noite? Meu Deus, você não sabe o quanto isso me animou – disse sarcasticamente. — A ideia era apenas sair desse lugar, mas tudo bem.
— Já reparou no quanto é dramática? Apenas gosto do caminho até a casa onde mora. Acho bonito.
Sara colocou as mãos sobre o rosto.
— Malditas aulas de dramaturgia! Não consigo me livrar de todo o aprendizado! Deveria ter feito sapateado!
— Imagina como iria caminhar – Santiago riu alto, abrindo a porta para que ela passasse.
Os dois, então, seguiram pela calçada, compartilhando risadas e experiências profissionais. Falavam sobre situações inusitadas pelas quais já haviam passado como se fosse uma competição para saber quem passava mais vergonha. Sara se sentia bem ao lado dele. Por muitas vezes, imaginou que se não fosse pela companhia do amigo, talvez já tivesse voltado para a sua antiga cidade.
Abaixando o olhar, encarou a própria palma da mão, refletindo, onde costumava colocar o anel de noivado todas as vezes em que se sentia insegura.
— Quando paro para pensar sobre o que Ulisses disse para Dominique no dia do noivado, começo a me fazer inúmeros questionamentos, porque foi algo que sempre me questionei. Já passou pela sua cabeça que possa existir apenas uma pessoa certa para cada pessoa?
O homem continuou caminhando, olhando para os próprios pés, enquanto pensava na resposta.
— Algumas vezes, mas não acredito mais na teoria do quarto de vidro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Filme das Nossas Vidas
SpiritualSara, uma jovem inteligente e obstinada, foi abandonada pelo noivo no dia do casamento e acabou criando uma barreira que a coloca em uma confusão emocional sempre que está diante de um desafio. Do outro lado do país, o economista Santiago, que está...