Capítulo XX

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Sara continuava ignorando as persistentes mensagens e ligações de Benício. Aquela havia sido a gota d'água para terminar de vez a sua relação com o homem. Não podia perdoá-lo por ter mentido para ela, por ter escondido que havia se casado e que tinha uma filha. Como ele poderia ter se casado com outra mulher, após tê-la abandonado no altar? Como poderia ter tido uma filha? Como poderia tê-la tratado daquele jeito, desejando ter uma vida ao seu lado, se já havia construído uma história ao lado de outra pessoa?

Não aguentava mais pensar naquilo. Ao menos não enquanto ainda se menosprezava por ter perdoado o rapaz tantas vezes. Sentia tanta raiva de si mesma por ter deixado que ele bagunçasse a sua vida outra vez, que sequer conseguia olhar no espelho. Se sentia ainda pior quando percebia que ainda o amava. Mas agora já não tinha volta. Estava decidida a esquecê-lo e esquecer tudo o que o envolvia. Estava decidida a criar o filho longe do rapaz, sem qualquer contato ou ajuda.

Após ter sentido uma dor aguda na cabeça quando Ágata contou sobre Benício, Sara disfarçou para não preocupá-la, pois sabia que era apenas estresse. Então, decidiu contar para a mulher que o homem era o pai da criança e explicar sobre quando namoraram em Azevinho, quando foi deixada no dia do casamento e também sobre o reencontro na festa. Ágata ficou visivelmente surpresa com a complexidade da história, mas em momento algum julgou a situação.

De vez em quando, principalmente à noite, Sara sentia algumas dores mais intensas na cabeça, mas preferia não comentar nada com ninguém. Não queria que preocupassem ainda mais com ela ou com a criança, e nem que a gravidez fosse um peso para os outros. De vez em quando a sua visão ficava turva e sentia dormência do lado esquerdo, mas passava com o tempo.

Mas, por mais que quisesse ser independente, seus insistentes amigos tomavam a frente de tudo. Dominique agendava todas as suas consultas – coisa que Sara achava desnecessária, uma vez que ela mesma podia fazer sozinha – e Santiago era quem sempre a levava.

Sara, não se esqueça, amanhã você tem uma consulta marcada – Dominique falou ao telefone. — Não se atrase e não ouse faltar. O San vai te buscar às sete. Beijos.

A jovem se emburrava todas as vezes em que Dominique mandava nela ou a tratava como criança. Não gostava de obedecer ordens, principalmente quando vinha de seus amigos, e a bomba de hormônios apenas intensificava a situação.

Na manhã seguinte, acordou com o barulho da buzina do carro de Santiago próximo à janela do seu quarto. Sara cobriu a cabeça com o travesseiro para ignorá-lo, então seu celular começou a tocar. Contrariada, levantou-se e gritou da janela que estava descendo, mesmo que ainda não estivesse se arrumado. Colocou uma blusa azul e vestiu uma calça mais larga, sequer se importando se combinavam ou não, ou se eram muito velhas. Depois, calçou os mesmos chinelos e desceu.

— Bom dia! – O homem falou calorosamente. — Que cara é essa?

— Estou dormindo muito e descansando pouco. Não tenho mais ânimo para estudar e nem para fazer nada – ela reclamou. — Estou toda inchada e esquisita, queria pular para a parte em que a criança nasce. Estou em jejum, Santiago!

— Sabe que vai demorar um pouquinho ainda, não sabe? – Santiago sorriu, mas Sara permaneceu séria. — Desculpe, não vou falar mais nada.

Sara bateu os dedos sobre o painel do carro, um pouco impaciente.

— Contei para o Benício sobre a gravidez.

— E aí? Como ele reagiu?

— Ficou muito feliz – respondeu, ainda com expressões sérias.

— Isso é bom. Não é?

Sara bufou.

— Foi o que pensei – falou zangada. — Mas você não vai acreditar no que descobri. Depois que me deixou no dia do casamento, ele se casou e teve uma filha! Dá para acreditar?

O Filme das Nossas VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora