Capítulo XVI

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Sara não imaginou que aquele casamento seria tão conturbado. Mas, após acalmar-se, conseguiu explicar toda a história para Santiago. Ele começou a chorar como um irmão faria, preocupado acima de tudo com o seu futuro, mas não foi inconveniente ou julgador. Ela também chorou. Sara temia que, de alguma forma, a relação dos dois nunca mais voltasse ao que era.

Ao contrário do que esperava, Sara recebeu todo o apoio do rapaz em relação à gravidez. Ele havia escolhido cuidadosamente cada palavra, calmo e centrado, as quais fizeram com que se sentisse melhor. Também a convenceu de contar para Benício e para seus familiares, e assegurou que lhe daria toda a ajuda que precisasse e que estaria com ela o tempo todo.

Não haviam ficado durante toda a festa. Foram embora antes mesmo que Dominique fizesse o discurso – o qual havia ajudado a preparar. Conversaram durante horas dentro do carro, projetando o futuro e procurando soluções para enfrentar seus medos.

Às vezes, Santiago parecia irreal.

— Já teve a sensação de que tudo o que faz é errado? – Indagou, tirando a maquiagem com o auxílio do retrovisor. — Sinto como se estivesse escolhendo todos os caminhos errados, pisando em todas as bombas do campo minado. Talvez o universo me odeie.

Santiago sorriu gentilmente.

— Não é que o universo te odeie, Sara. Esse é o filme das nossas vidas, esqueceu? Tem que ter drama, muito, muito drama. Um pouco de suspense, para dar aquela emoção. O terror não é necessário, então, apesar de sabermos que é real, podemos ignorá-lo. O romance é importante, mas não é a prioridade.

Sara permitiu-se rir.

— Realmente, não é a prioridade.

O rapaz ajeitou-se no banco e olhou em seus olhos.

— O que eu estou tentando dizer, é que a tendência é ter um final feliz. Depois que se passa por tantas coisas ruins, há um final que nos surpreende de forma positiva.

— E isso não te assusta? Ter que esperar o final para ser feliz? E se for daqui a dez, vinte, cinquenta anos? Como sobreviver sendo triste durante todo esse tempo?

— A vida não corresponde ao tempo do nascer ao morrer. É mais do que isso. A vida é feita de ciclos, e acredito que o final de cada ciclo tende a terminar bem. Porque os ciclos só se fecham, quando conseguimos nos sentir satisfeitos.

— Entender e viver isso não é nada fácil.

— Mas não será tão difícil se tivermos um ao outro – Santiago falou calmamente, sorrindo, segurando a sua mão e envolvendo seus dedos como em um laço. — Vamos passar por tudo juntos.

Sara estendeu-lhe um imenso sorriso, agradecida, enquanto lágrimas desciam sutilmente pela face.

— Não sei o que seria de mim sem você.

— Apenas me prometa que nunca mais vamos nos afastar.

— Eu prometo, Santiago.

Após despedir-se do amigo, subiu para casa e, em silêncio para não acordar Beto e Ágata, deitou na cama. Estava tão cansada e aliviada pela conversa com Santiago, que não demorou para pegar no sono.

Seus primeiros sonhos foram tranquilos e calmos, transitando entre momentos da infância, como as brincadeiras com os irmãos na casa de campo, ao início da faculdade. Depois, começou a sonhar que estava segurando o bebê recém-nascido, que dormia serenamente em seu colo, naquele mesmo quarto. Ela não conseguia enxergar o rosto da criança, pois havia uma manta cobrindo-o, mas sentia o seu doce perfume.

O Filme das Nossas VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora