Capítulo VII

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Sara esforçou-se para não ficar com raiva de Dominique, dizendo que estava bem e que não havia nada de mais, mas não conseguia disfarçar suas expressões. Desde que haviam saído juntas, não respondera às suas mensagens e sempre evitava olhá-la nos olhos. Estava triste com o fato de ter sido trocada naquela noite, com tanta facilidade, mesmo tendo se divertido. Ela não era muito insegura de si mesma, mas, desde que fora abandonada pelo noivo, sempre se questionava se era uma boa companhia, e, quando tinha pensamentos assim, se questionava se sabia mesmo escolher as suas amizades. E, então, virava um efeito dominó e ela mal conseguia se concentrar em qualquer coisa.

As aulas de cirurgia sempre a deixavam animada, principalmente as da visão. Ela gostava de ver como tudo funcionava tão bem e o quanto cada pequeno detalhe era importante para que fosse possível enxergar tantas cores e formas, como cada músculo e nervo trabalhava tão perfeitamente. Gostava, até mesmo, quando os outros alunos ficavam comparando suas miopias, hipermetropias e astigmatismos, como se estivessem em uma competição para saber quem enxergava pior. Mas, naquele dia, ela não estava animada. Nem mesmo conseguia fazer qualquer anotação.

— Estou tão empolgada! – Dominique disse, exuberante, colocando a bandeja ao lado da de Sara. — Hoje começo a ajudar no tratamento de anemia falciforme de uma gestante. Acho que estarei à frente do caso, porque fui eu que diagnostiquei. Foi muito legal ter descoberto, Sara.

Sara grunhiu, torcendo o nariz.

— Que foi? Não ouviu o que acabei de dizer? – A moça balançou os ombros. — Vamos, se empolgue comigo.

Sara ficou em silêncio por alguns instantes, reflexiva. Sentindo a garganta pinicar, ela torceu a boca e suspirou fundo.

— Não quero saber dessas coisas. 

— Por quê? Não está feliz por mim? 

— Não é nada. 

— Você está brava por algo que te fiz. 

— Até parece.

— Eu conheço você, Sara. Fale, o que foi que eu te fiz?

A jovem virou o pescoço e suspirou.

— Você me deixou sozinha naquela noite. Estou chateada com você, Dominique! Era pra ter sido uma noite nossa, mas você acabou me trocando.

— Eu não te deixei sozinha! – Dominique se defendeu, rindo. — Te deixei com um cara muito legal, aposto. Sei julgar um livro pela capa. Por exemplo, na primeira vez em que a vi, sabia que era uma pessoa amigável, meiga e que não guardava mágoas da amiga.

Sara tentou manter a raiva, mas sorriu, sentindo os músculos da face relaxarem. Por mais que quisesse, não conseguia guardar raiva da amiga por muito tempo. Dominique era o tipo de pessoa que sempre tentava animar a todos à sua volta, independentemente da situação, e isso a fazia ser a pessoa mais legal da turma. Ela sempre incluía Sara nas conversas e fazia questão de elogiá-la na frente dos amigos. As poucas pessoas com quem conversava, era por causa de Dominique.

— Você é uma cretina, sabia?

— E você me ama – ela a abraçou. — Mas me desculpe. Eu reconheço que pisei na bola. Não deveria ter feito isso.

— Está arrependida?

— Está doida? – Dominique afastou-se, os olhos brilhando. — Claro que não!

— O que eu perdi dessa história?

— Bem, considerando que você não atendeu às minhas ligações e nem respondeu as minhas mensagens, acho que perdeu tudo.

O Filme das Nossas VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora