Capítulo IV

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O primeiro dia como aluna residente estava sendo incrivelmente satisfatório para Sara. Havia acordado cedo e lido as informações que disponibilizaram no e-mail. Estava ansiosa pelo que viria e Ágata a levou para o local, acompanhando-a para fazer o credenciamento. A tecnologia de ponta utilizada nos laboratórios era infinitamente mais eficiente e poupava muito mais tempo do que as da outra faculdade. Mas Sara sabia que, quando se formasse, não poderia mais contar com aquelas técnicas e teria que se virar com os próprios recursos, principalmente porque seu objetivo era trabalhar em áreas rurais ou em comunidades negligenciadas pelo Estado.

A hora do almoço pareceu ser a sua primeira preocupação. Não conhecia o refeitório e também não tinha afinidade o suficiente com os demais estudantes para dividir uma mesa. Sara, então, assim que pegou a bandeja, analisou as possibilidades e decidiu se sentar ao fundo, em um lugar vazio.

Ao acomodar-se, respirou fundo e iniciou a refeição. A conversa animada no refeitório a fez se sentir deslocada, mas não quis pensar naquilo.

— Se importa se eu me sentar aqui? – Uma moça aproximou-se dela, despretensiosa.

— Ah, claro que não. Sente-se, por favor – Sara falou, sorrindo. — Fiquei tão entusiasmada com os laboratórios, que mal tive tempo para fazer amizades. Quando percebi, não tinha com quem me sentar para almoçar.

— Sei bem como é – a moça riu.

— Já viu a quantidade de aparelhos e equipamentos que eles têm? Meu Deus! E não tem nada ultrapassado. Nem mesmo desgastado. Parece que a universidade recebe muitos investimentos. Acredito que não haja a possibilidade de sair daqui sem ser, no mínimo, um excelente profissional. Além do mais, eles exigem uma nota mínima de oito.

Ela parou de falar assim que percebeu a maneira compulsiva como estava se comportando. A moça à sua frente apenas a observava, sem dizer uma única palavra.

— Me desculpe, você deve estar achando que sou louca – ela se envergonhou, voltando-se à bandeja. — Fico assim quando estou entusiasmada.

— É de cidade pequena, não é?

Sara considerou a pergunta por alguns instantes. Ao mesmo tempo em que se sentiu feliz por não ser a única a falar, também se sentiu ofendida. Ela não poderia ser rotulada, simplesmente por estar empolgada com os laboratórios. E não era nada gentil pedir para se sentar à mesa e fazer perguntas como aquela.

— Não precisa responder – a moça riu, vendo as expressões de Sara. — Eu também sou. Tive a mesma reação quando vim pela primeira vez. Achei tudo muito incrível e ainda acho. É como se eu estivesse no futuro. Gosto de pensar no quanto a tecnologia está avançando e no quanto vem ajudando as pessoas.

Sara parou de comer e arregalou os olhos.

— Espere, já esteve no programa antes?

— Sim, mas tive que abandonar – respondeu, mexendo a comida com o garfo. — Aconteceram algumas coisas que me obrigaram a voltar para casa, mas nunca pensei em desistir. E foi bom ter passado esse tempo com a minha família, com o meu irmãozinho. Acho que voltei mais madura.

— Você conseguiu passar duas vezes no programa? – Sara impressionou-se. — Ainda não se formou?

— Ah, quis dar um tempo nos estudos, mas não perdi a prática. Nesse tempo, acabei fazendo alguns trabalhos voluntários e aprendi bastante coisa. A prática acaba sendo muito diferente da teoria. Mas agora que resolvi voltar, vou até o fim.

— Estou torcendo por você!

A jovem sorriu, agradecida.

— Tem algum parente na cidade?

O Filme das Nossas VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora