Capítulo XVII

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Após o quarto mês de gestação, a barriga de Sara, enfim, começava a aparecer, mas ela estava inexplicavelmente mal-humorada. Nem mesmo Ágata e Beto eram poupados dos seus ataques. Mesmo com todo o incentivo de Dominique e Santiago, ainda não havia conseguido contar para nenhuma outra pessoa sobre a gravidez e sempre arranjava alguma desculpa quando os amigos a pressionavam.

Seu humor oscilava muito. Estava começando a acostumar-se à nova fase, mas não ao fato de que, em pouco tempo, estaria com um bebê no colo. Seu estômago revirava só de imaginar que a sua vida mudaria completamente em pouco tempo. Estava com medo de decepcionar os pais e os irmãos. Tinha medo de que eles nunca mais a amassem, ou que nunca mais falassem com ela.

— Já disse que não precisamos fazer isso – falou emburrada, assim que Dominique e Santiago a arrastaram para dentro do consultório. — Vocês são dois traidores! É isso o que são!

— Sara, até hoje você fez apenas uma ultrassonografia. Sabe o quanto está sendo irresponsável? – Dominique a advertiu. — Você é adulta, tem vinte e seis anos, é quase uma médica e vai ser mãe. Não era necessário passar por isso.

— Dominique tem razão, Sara – Santiago disse calmamente. — Você sabe que é importante realizar esses exames. Precisamos ter a certeza de que está tudo bem com vocês. Quem sabe podemos descobrir o sexo do bebê? As pessoas costumam descobrir nesse mês de gestação, não é?

— Sim, é isso mesmo.

Sara olhou para eles mal-humorada.

— Eu não me importo nem um pouco com o sexo do bebê e nem com o bebê! – Disparou, sem ao menos ter pensado. — Parem de forçar isso!

Os dois entreolharam-se, perplexos.

— Sara, sei que não queria que isso tivesse acontecido...

— Não foi isso o que quis dizer – a jovem interrompeu, se justificando, respirando profundamente. — Eu só estou exausta com tudo isso. Há muita coisa acontecendo e eu não estou sabendo lidar. Vocês tem ideia do que estou passando? Tudo está fugindo completamente do controle!

— Nós compreendemos, Sara. É por isso que estamos com você – Santiago segurou a sua mão. — E nós não vamos te deixar, mesmo que você não nos queira por perto.

Ela inspirou profundamente e soltou o ar aos poucos. Depois, caminhou em direção à maca e deitou-se, indiferente. No fundo, sabia que não fazia aquilo por ela ou pela criança. Fazia apenas para que os amigos a deixassem em paz.

Dominique ligou os aparelhos e abriu os armários para pegar tudo o que usaria durante a consulta. Estavam em um dos consultórios onde costumavam realizar as aulas práticas, mas nenhum de seus superiores sabiam o que estavam fazendo, por isso haviam chegado cedo ao local.

— Vai sentir um pequeno desconforto no abdômen quando eu aplicar esse gel.

— Cale a boca, Dominique – grunhiu mal-humorada. — Faça isso logo!

— Que paciente mais impaciente – a amiga brincou.

Sara levantou-se para ir embora, irritada, mas Santiago a segurou.

— Você realmente está muito mal-humorada, quase irreconhecível – ele disse. — Quanto mais rápido fizermos isso, mais rápido você vai embora. Talvez você queira um chocolate para aliviar o estresse.

Sara voltou a ficar calma. Ela queria um chocolate.

Quando Dominique aplicou o gel, ela soltou um baixo grunhido devido ao incômodo e virou o rosto para o lado, se recusando a olhar para o monitor. A mulher, então, começou a passar o transdutor sobre a pele dela, mas decidiu não ligar o som, pois sabia que o barulho poderia irritar ainda mais a amiga.

O Filme das Nossas VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora