CAPITULO 29

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Teodoro havia chamado alguns dos seguranças da casa para retirarem o Luca do quarto. Meu corpo permanecia imóvel. Alessandra caminhava de um lado para o outro. Marta me encarava com pena. Gabriela e Amália não conseguiam olhar para mim.

Meu olhar estava fixo no chão. Se esse não é o significado de amaldiçoada, qual seria?

– Quero ir embora!

– Não, você vai entrar em contato com a polícia! – disse Teodoro, se sentando ao meu lado.

– Ela não pode falar com a policia! – disse Giovani, chegando sem ao menos fazer um barulho.

– Por que não? – questiona.

– Os últimos documentários que elas duas fizeram, já nos rendeu problema demais com o discurso feminista! Todos sabiam de quem se tratava! Isso trouxe problemas a família, e eu não vou deixar que isso se repita.

– O teu filho tentou me matar! – digo com a voz embargada e os olhos marejados, me levanto e me aproximo de Giovani – Eu não vou me calar, esse direito é tão meu quanto seu! Eu não vou deixar isso se repetir até que ele consiga o que quer!

– Talvez seja o que você merece! – ele disse, e um arrepio me subiu na espinha – Você não tem nada de bom a oferecer! Só nos trouxe desgraça.

Antes que eu pudesse dizer algo, Alessandra entrou no meio da conversa enquanto gritava coisas em italiano, repetindo por diversas vezes que ele não tinha direito a ameaçar pessoas dessa forma. Principalmente de forma tão pública.

– Vocês precisam passar o Luca em um médico! – afirma Amélia – Ele já tentou matar Antoni, não é a primeira vez.

Giovani encara Amélia como se pudesse degradaria ela ali mesmo.

– Você está certa! – diz Alessandra – Abra os teus olhos, Giovani. Eu não aguento mais.

– Não se influencie pelas palavras dessa menina! – ele segura seu braço, aparentemente, com força.

– Eu nunca me esqueço, sempre vem a imagem do seu pescoço... naquele café da manhã, se lembra? Vou ligar para uma clínica psiquiátrica agora!

– Mãe! – Gabriela tenta repreendê-la.

– Gabriela, Maya era sua amiga e você devia se preocupar com isso mais do que qualquer pessoa aqui.

– Eu não aguento mais ficar aqui – digo, e caminho até a penteadeira pegando a minha bolsa.

Era como se algo continuasse me sufocando, como se a mão do Luca ainda estivesse enroscada no meu pescoço, me esgoelando.

Mesmo sentindo a falta de ar que se alastrava em desespero, eu peguei a bolsa e deixei aquele quarto. Notei que Deva e Teodoro me acompanhavam.

Eu caminhava em passos largos pelo corredor, o barulho meu chinelo pela escada era estridente. Ouvi um grito. Era Deva: Senti alguém segurar meu braço e me virei rapidamente. Giovani me encarava com os olhos vermelhos e de forma possessa. Tentei não estremecer. Eu não demonstraria medo.

– O que você quer? – digo entre dentes.

– Você não vai destruir a minha família! – ele diz.

– Eu não preciso. Vocês fazem isso por conta própria!

Puxo meu braço desvencilhando de seu toque, e saio pela porta sem olhar para trás. Quando o ar da noite entra pelos meus pulmões, era como se uma faca invadisse o peito, estraçalhando meu coração. Senti as minhas pernas fraquejarem, mas os braços de Deva me rodearam em um abraço apertado, e as lágrimas vieram de forma cruel. Em um choro doloroso.

– O que está acontecendo, Deva? Qual é o meu problema?

– Shhh...– ela pede, e me abraça apertado – Você não tem problema algum, Luca deve estar passando por algum problema psicológico ou sempre teve, mas a família alienada dele não pode notar.

Teodoro falava rapidamente com alguém ao telefone ao lado de Alessandra, seu olhar sob mim era como um pedido constante de desculpas.

Teodoro desligou.

E caminhou até nós.

A noite estava fria, e eu sentia todos os pelos do meu corpo se arrepiarem. Teodoro fez um sinal, e Deva me guinchou até ele que caminha em direção ao seu carro.

– Vou levá-las para um hotel da minha família, fiquem tranquilas, lá ninguém perturbará vocês! – ele diz, e suspira – Alessandra pediu que eu ligasse para uma clínica psiquiátrica, eles virão buscar Luca.

– Vão querer falar comigo? – ele nega.

– Eu fiz a denúncia, eu que a tirei das mãos dele.

Fechei os olhos, e soltei um suspiro.

– Maya, me perdoe. Eu devia ter te ajudado! – diz Deva, e eu sorrio com calma.

– Está tudo bem, já passou! – "já passou", repito para mim mesma.

– Se ele tiver algum problema psiquiátrico, vão descobrir. Ele passará um tempo lá.

– Acho que Giovani não o deixará.

– Are baba, ele não tem tanto poder assim.

– Você é quem pensa, Deva.

Depois dessa fala de Teodoro, eu apenas encostei minha cabeça no vidro do carro enquanto ele o guiava pelas ruas de Milão. O hotel não era tão distante, era muito bem localizado, e organizado.

Fomos muito bem recebidas.

Teodoro nos deixou no quarto e foi embora prometendo voltar amanhã. Apenas concordei.

Deixei minha mala em um canto do quarto, e me deitei na cama de solteiro que havia ali. Deva se preparava para deitar, e eu fechei meus olhos.

Eu não sentia vontade de falar, eu não sentia vontade de conversar. A situação se repetia constantemente na minha cabeça. O que me faz pensar, se não fosse Teodoro, ele teria me matado?

As lágrimas começaram a molhar meu rosto, e em silêncio, eu chorei por toda a noite. Com ações que martelavam na minha mente. Imaginando o que seria de mim se meu pai não viesse me buscar.

Ele realmente tentou de matar?

Era automático, eu me lembrava da sensação de ter sua mão apertando meu pescoço cada vez mais forte. E seus olhos, sem sentimento algum, não havia expressão.

Entre hipóteses e questionamentos, eu acabei pegando no sono.

Três dias haviam se passado, e eu permanecia na mesma posição. Não saia da cama para nada. Não sentia vontade de falar, eu não tinha vontade de explicar o que eu sentia.

Deva todos os dias tentavam me convencer de que estava tudo bem, de que tudo havia passado.

Mas tudo que eu sentia, era uma dor no peito e uma sensação de que talvez, teria sido melhor ele ter me matado.

Mais quatro dias haviam se passado e Deva foi em busca de uma ajuda psiquiátrica. E por um lado, eu achava que também seria melhor. Mas não sei se é algo que mudaria o que passa pela minha cabeça.

– Isso é normal após um trauma...– disse a psiquiatra, eu parei de ouvi-la quando disse que passar por isso era normal.

PROMETIDA AO MAFIOSOOnde histórias criam vida. Descubra agora