CAPITULO FINAL

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Por Maya Ebrahim Vitale.

Uma sobrevivente.

É assim que eu tenho me julgado por todos esses anos.

Eu estava escorada na grande porta de madeira, da nossa chácara em Bergamo, no interior da Itália, para onde havíamos nos mudado após todo o caos. Eu observava a minha família reunida para o café da manhã, e os admirava assim como em todos os dias da minha vida.

As coisas nem sempre foram fáceis para nós, no início, a dor de perder alguém tão próximo que você tem como essencial de uma forma tão trágica é devastadora. No começo, você não sabe bem como reagir, não sabe como lidar com a perda e suprir a necessidade de estar. Eles eram o nosso alicerce. Mamadi nos ensinou que com charme e elegância destrói mais do que com raiva, e baldi nos ensinou que existe a leveza no silêncio, e que a união sempre nos salvaria. Passamos por trancos e barrancos.

Foi trágico.

A forma com que tudo aconteceu foi trágica. Mas, aos poucos, juntos, conseguimos levar a vida com leveza. Nós nos respeitávamos. Respeitávamos os nossos momentos de angústia. Respeitávamos a dor do outro. Entendíamos que cada um reagiria de uma forma. Mas, acima de tudo, nós nos apoiávamos. Aprendemos a lidar com a dor em união. Buscávamos forças, alguma das vezes, de motivos inexistentes. Para chegarmos no agora, e a sensação de estar onde eu realmente devo, trazia uma paz impecável.

O passado jamais seria apagado.

As marcas fazem parte da nossa história. Mas aos poucos, aprendemos a lidar com elas. Tendo maturidade.

Antoni havia abandonado a Máfia após aquele fatídico dia, ele, meu esposo e meus irmãos, Indra e Manu, trabalhavam juntos na fábrica de tecidos. E nós, meninas, utilizamos uma das filiais para criar um programa de apoio às pessoas desabrigadas, dávamos oportunidades de emprego, e cursos para o aprendizado de novos e novas costureiras na nossa fábrica de roupas. Dávamos abrigo, alimentação, e emprego. Era algo leve. Sem abusos.

E dessa forma, íamos crescendo juntos.

Não era possível voltar a viver uma vida em Milão, existem memórias que jamais seriam apagadas, mas nos reconstruímos, e graças ao esforço da nossa família compramos uma grande chácara no interior, com direito a estábulo para as crianças, piscina e um campo de futebol. Conseguimos abrigar todos sob o mesmo teto. Nem sempre é incrível, mas aprendemos a valorizar a simplicidade do estar.

Em um momento, levo meu olhar para meu esposo que lutava para dar um mamão amassado para nossa filha mais nova, Ivy, enquanto tentava controlar os impulsos sedentos de destruir o bolo da nossa Luna, nossa vitoriosa Luna. Nosso ser de luz. Ela crescia lindamente. Luna estava com seus quatro anos, enquanto Ivy acabará de completar sete meses. Elas eram meu o meu ponto de paz.

Luna passava por uma fase difícil, pirraça era pouco pro que ela fazia. Geniosa. Sempre foi assim. Ivy, era calma, doce e angelical, mas conseguiria mover o mundo para estar alimentada.

Ambas eram a cara de Lucca. Ivy nasceu com os cabelos pretos, e a expectativa de ser parecida comigo veio, em vão, cabelo clareou e ela era a cara do pai. Luna era o pai, pintada e escarrada. Até no ser. Sorrio ao me lembrar de todos os momentos em que passamos para chegar até aqui.

Lucca dizia que eu teria que conviver com a ideia de que ele nunca me amaria. E hoje, ao menos cinquenta vezes por dia diz me amar.

– Maya, vai ficar aí só olhando? – Lucca chama minha atenção – Por favor, amor. Me ajude!

Sorrio, e caminho em direção a meu marido. Todos os meus sobrinhos caminham em minha direção, e eu beijo a cabeça de cada um como um sinal de benção. O primeiro foi Bassan, o filho Manu, em seguida, Melissa, filha de Antoni com Mahara... sim! Antoni largou a esposa e em meio a tudo isso se casou com Mahara. Meio óbvio né? A terceira foi Nayana, e Hari. O casal de gêmeos de Deva com seu esposo Radesh. E por último, Ravi, o filho de Indra.

– Cada dia que passa você está mais parecido com o seu pai! – sussurro para Ravi, que sorri. Ele tinha seu pai como um herói.

Toda manhã era assim. Eu era recebida pelos meus sobrinhos.

– Cale a boca, Antoni...– ouço Mahara – Não há desculpas, esse chai esta horrível. Maya, se eu fosse você, não chegaria nem perto.

– Namaste, família! – digo, e caminho em direção ao meu esposo – Tenha paciência Didi, uma hora vai!

Mahara gargalha.

– Dois anos tentando, Maya. Acho difícil! – diz Mahara, e eu sorrio.

Quando encaro Lucca estava estampado um S.O.S na sua testa. Eu me sentei na toalha estendida na grama ao lado de Luna, e peguei Ivy no colo.

– Filha, por favor, coma mais devagar! Você vai engasgar dessa forma – chamo a atenção de Luna que estava com a boca extremamente cheia de bolo, ela apenas me encara com seus belos olhos verdes e volta a comer o bolo com um pouco mais de tranquilidade.

Colocando um pedaço, mastigando e engolindo. Não fazendo os três de uma vez só. Lucca colocava aos poucos mamão na boca de Ivy que o encarava atentamente, pronta para chorar caso ele não dê mais a ela.

Luna largou o prato de bolo e saiu correndo para brincar com os seus primos.

– Ela nunca termina de comer...– sussurra Lucca, e eu o encaro com um sorriso bobo nos lábios.

Eu o amava tanto.

– Por que está me olhando assim? – ele pergunta, limpando a boca de Ivy após terminar a papinha.

– Nada, só estou te olhando!

– Você tá fazendo aquilo outra vez – afirma sorrindo.

– O que, marido?

Ele balança a cabeça negativamente, ouço um choro forte e vejo Bassan chorar. Luna havia acertado com o carrinho na cabeça do primo.

– Controle essa sua filha, Maya! – surta Durga.

– Ele me chamou de gorda! – grita Luna com a sua voz doce e infantil. Encaro Lucca que solta um suspiro.

– Sua vez, papai! Dá última vez que ela jogou o cavalo no Ravi eu fui socorrer!

Lucca sela nossos lábios e sussurra um eu te amo me fazendo sorrir. O dia havia começado. Sem as artes de Luna, o dia não havia começado bem. Ele se afastou e caminhou com passos firmes em direção a nossa mini Lucca, pronto para dar uma lição de moral na pequena.

E eu agradeci mentalmente, assim em como todos os outros dias. Agradeci pela oportunidade de estar aqui, vivendo, vendo as minhas filhas crescerem. Ivy me encarou, e abriu um sorriso. Fiz cosquinha na sua barriga, e ela gargalhou.

– Por vocês, eu viveria tudo outra vez! – sussurro para Ivy – Se no final, eu ganhar as coisas mais preciosas dessa vida, eu passaria por tudo que passei. E eu sempre direi isso a você, bebê, a sua irmã e ao papai...– pauso vendo minha pequena Ivy sorrir – Por vocês, tudo vale a pena. Eu viveria tudo outra vez.

Lucca me encarou e sorriu fazendo um ok com as mãos quando a missão papai foi cumprida, e eu gargalhei.

Ao lado dessas pessoas, com o maior amor do mundo, tudo vale a pena!

PROMETIDA AO MAFIOSOOnde histórias criam vida. Descubra agora