Capítulo trinta e um - Rubí

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    Mais um dia de trabalho no Delicious, felizmente, senhor Harrison entendeu o meu estado e tive que dar um comprovativo médico para não ser demitida. O importante é que tudo voltou ao normal, mesmo que não tenha ido para a faculdade hoje porque fiquei com vergonha. Devia agradecer ao Zack por me salvar, mas faço isso em outro momento. Renner também me disse que vai me ajudar a encontrar a pessoa que fez aquilo comigo. Sinceramente, as pessoas são monstros e cada dia que passa, mais desumanas se tornam.
    Levo seis hambúrgueres na mesa cinco, dou a volta, levo um hotdog na mesa seis, depois vou buscar mais alguns pedidos. Daqui a pouco vai terminar o meu turno e Renner virá me buscar. Também estou muito nervosa por causa da noite de hoje. Não estou tão linda assim, nem me esforcei porque tinha que trabalhar e não voltaria para casa. Não quero que Renner pense que não me esforcei porque eu não estou tão horrível também.
    Levo duas fatias de bolo de chocolate para a mesa doze de um jovem casal muito fofo, tacos para um homem latino e mais dois hambúrgueres para a mesa um. Eu sou rápida, tenho uma ótima memória e estou sempre sorrindo para os clientes, para que se sintam à vontade. Gosto de trabalhar aqui porque adoro cozinhar, mas isso é temporário porque eu sonho em trabalhar no hospital e ser uma médica incrível.
    Vou buscar mais alguns pedidos e levo para a mesa três, onde está Marcus Zoltan sentado. Deixo seu pedido na mesa, ignorando os olhares que lança para mim. Está difícil acreditar que ele vai me deixar em paz.
    — Pode colocar mais ketchup nas minhas batatas, amor?
    Não respondo e levo suas batatas para acrescentar mais ketchup. Não devia me preocupar com isso porque deve ser normal um ex-namorado andar atrás de você, mas eu realmente preciso contar para o Renner. Normalmente, vejo na TV que algumas histórias parecidas não terminam bem. E já que cheguei ao ponto de ficar assustada, devo contar para alguém.
    Levo o cestinho de batatas de volta para o dono e vou receber mais um cliente. Mas hoje não está sendo o meu dia mesmo. Primeiro, aparece o Marcus, agora Philippe?
    Eu sei que há pouco tempo eu ainda tinha esperança que ele me considerasse filha dele, mas depois de saber o que fez, mentir, tentar me usar para se aproximar do Renner, eu soube que não tenho pai, nunca tive. E agora, eu estou na fase de remover todos aqueles que só estão enchendo um espaço, pessoas que fingem se importar comigo.
    Philippe olha para mim, quando me aproximo e levo ele para uma mesa. — Seja bem vindo ao Delicious, o que vai querer? — Sou extremamente profissional. Quer dizer, ele não é ninguém na minha vida mesmo.
    — Eu não sabia que trabalhava aqui.
    Claro que não! Porque o meu namorado é milionário e porque pensa que ele sustenta a minha família. Eu não respondo o seu comentário. Eu estou trabalhando não brincando de pai e filha que fingem se amar.
    Entrego o cardápio para ele. — Quando o senhor escolher...
    — Eu tentei ligar várias vezes. Sei que bloqueou o meu número. Só quero conversar.
    — Eu sugiro que o senhor prove uns tamales ou um hambúrguer vegetariano. Temos também lasanha, croquetes, tem tacos, nachos, mandus, tem muita coisa deliciosa.
    — Não me trate assim, Rubí.
    — Pasteis de frango, sufflés, tem empadas, empanados e empadinhas, tem rolo de carne...
    — Eu sou sei pai!
    — Meu pai morreu, senhor. Se não vai fazer o pedido, eu vou atender outra mesa.
    Caminho rapidamente para longe dele. Na verdade, mantenho distância dele e de Marcus que, felizmente, depois são atendidos pelo Chris. Mas tenho a horrível impressão que agora que ele sabe que eu trabalho aqui, não terei mais sossego. Devia ter contado para as minhas irmãs ou para a minha mãe antes de me meter nessa confusão. Agora deu nisso.
    No fim do meu turno, endireito o meu cabelo e a minha roupa depois de receber a mensagem de Renner. Para a minha má sorte, (espero que as coisas horríveis terminem logo), Philippe me vê quando vou abraçar o meu namorado, que está apoiado no seu carro vermelho brilhante que vale milhões. Renner também nota a presença dele.
    Ele sussurra no meu ouvido. — Ele continua atrás de você?
    — Sim. Eu não sei o que fazer para ele ir embora e parar de fingir que se importa comigo. — Digo.
   — Eu sei. — Renner se aproxima dele.
   — Renner! — Vou atrás dele.
   — Renner Tales! — Philippe sorri para ele.
    — Pensei que fui claro da última vez.
    — Eu sou o pai dela.
    Renner ri sem humor. — Está bem. Me diga. O que é ser pai? Você não gerou ela, muito menos cuidou dela.
    — Eu me arrependi. As pessoas mudam.
    Renner tira a carteira. — Quanto você quer?
    Ele olha para Renner, depois para a carteira. — Estamos falando da minha filha.
    — Cinco mil? Dez mil? — Renner pergunta. — Cinquenta mil? — Tira o seu relógio. — Custa cinquenta mil, pode ser seu e ainda recebe mais dinheiro. O que me diz?
    — Renner, não precisa... — Ele me corta.
    — Ou quer alguma coisa mais?
    — Aceito a oferta. — Ele recebe o relógio, e eu sinto uma dor horrível no meu peito. Philippe é uma pessoa horrível.
    Renner tira dinheiro da sua carteira, entrega para ele. — Nunca mais procura ela.
    Philippe olha para o dinheiro e o relógio e guarda no bolso da sua grande jaqueta. Seguro as lágrimas e me aproximo dele.
    — Ainda bem que mostrou sua verdadeira face. E agradeço a Deus por ter livrado um homem tão horrível como você da minha vida. Todo esse dinheiro um dia vai acabar e você vai se sentir tão vazio, vai lembrar das minhas palavras.
    — Adeus, filha. — Ele sorri e vai embora. Eu apanho uma pedra grande do chão e me preparo para jogar nele, mas Renner me segura e me impede.
    Minhas lágrimas caem, eu não acredito que ele seja esse tipo de pessoa, esse monstro horrível. Porquê essas pessoas me rodeiam? Porquê me machucam?
    Renner me abraça e me faz soltar a pedra. Eu choro nos seus braços, mas acho que é melhor assim. Eu tenho muita coisa incrível na minha vida. Tenho a minha mãe, minhas irmãs, tenho Renner, estou prestes a ser médica, faço o que eu amo, devia estar feliz por isso.
    — Vai ficar tudo bem. — Ele beija o meu rosto.
    — Vamos embora.
    — Quer ir para casa? — Pergunta.
    Limpo as lágrimas. — Não. Eu quero jantar e passar a noite com você. Não quero mais pensar nisso. Me ajuda a esquecer o que aconteceu hoje.
    — Claro que sim, cerejinha.
    Ele me beija, antes de me levantar para o carro. Eu sei que dói, mas como toda dor, isso um dia vai passar. Ele nunca fez parte da minha vida, por isso devia estar feliz por me livrar dele. Espero nunca mais vê-lo. Talvez um dia, quando ele estiver totalmente arrependido e sem rumo, quando eu estiver passando com Renner e com os nossos filhos lindos e naquele momento, vou olhar para ele e depois vou embora sem dizer nada.

Rubí - Pedras Preciosas Onde histórias criam vida. Descubra agora