Capítulo trinta e três - Rubí

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     — Marcus? — Procuro alguma coisa para me sentar. Não acredito no que acabei de ouvir. Fico sentada pensando em como eu me enganei tanto sobre ele, em como algum dia eu fui me envolver com um psicopata, com um doente. E me pergunto se Courtney também é doente, mas eu já não sei o que dizer.
    Renner está falando com o policial e com Zack, mas eu estou tentando pensar o que Marcus poderia ter feito comigo. O que aquele doente pretendia fazer comigo? Como ele foi capaz de pagar alguém para me drogar? É assim que ele dizia que me ama?
   Eu levanto e procuro o banheiro, mas acabo por vomitar ali mesmo. Nunca senti tanto nojo de alguém em toda a minha vida. Renner vem até mim, me leva para fora da delegacia e me entrega um lenço para me limpar.
    Minhas lágrimas caem e olho para o lenço, me sentindo muito mal. Limpo a minha boca e as minhas lágrimas, sentindo mais vontade de vomitar.
    Renner se aproxima para me tocar, mas eu o afasto. — Não... eu vou vomitar...
    Vou correndo para as plantas expulsar o que estava no meu estômago.
    — Céus! Rubí, você está bem?
    Limpo a minha boca, mas as lágrimas continuam caindo. — Não. Eu tenho nojo dele. Ele queria... Renner.
    — Eu sei. E sinto o mesmo. Acredite que nesse momento eu só quero matar aquele filho da puta!
    — Como ele pode fazer algo assim? Comigo?
    — Ele só está mostrando o que nunca vimos. Como ele é de verdade. — Renner se aproxima de mim e tira outro lenço para limpar minhas lágrimas. — Mas ele vai ficar preso por um bom tempo. Eu vou garantir isso. Vou falar com o meu advogado.
    — Está bem. — Olho para ele. — Renner, o Marcus tem ido atrás de mim esses dias. Ele liga sempre para mim e...
    — O quê? Porquê não me disse antes?
    — Porque eu pensei que fosse normal. Pensei que fosse só uma fase e que depois ia me deixar em paz.
    — Está bem. Vamos resolver isso. Ele já não será um problema.
    Zack também sai da delegacia e olha para mim, me deixando completamente envergonhada. Na verdade, muito envergonhada. Não sei como não fui presa por ter vomitado lá.
    — Você está bem? — Ele pergunta.
    — Foi tarde, mas obrigada por dizer a verdade.
    — Eu devia ter feito antes. Eu sinto muito.
    — O importante é que fez. Aquele homem... — Limpo as lágrimas. — ... ele não vai ter como escapar.
    — Eu nunca pensei que ele fosse capaz de fazer algo assim. — Zack parece triste por não conhecer seu amigo.
    Olho para Renner. — Você pode me levar para casa? Eu preciso tomar um banho e trocar de roupa.
    — Claro. Vou só terminar de falar com o policial.
    Ele volta para dentro da delegacia e me deixa sozinha com Zack. Eu não estou com raiva dele nem nada e já disse isso para ele, mas não parece ter acreditado.
    — Rubí, mais uma vez me perdoa...
    — Zack, você me salvou. E já explicou porquê não entregou o... — Não consigo dizer o nome dele. —... está tudo bem. Agradeço por tudo.
    — De nada. Acho que já vou. Qualquer coisa, pode ligar para mim. Está bem? Eu vou ajudar em tudo o que poder
    — Claro. Muito obrigada.
    Sento num banco e espero Renner regressar para a gente ir para casa. Lembro também do presente que comprei para ele antes de vir para cá. Espero que ele goste, mas alguma coisa me diz que não vai gostar. Seja como for, eu vou tentar dar para ele. Quero que tenha uma noite especial, não quero estragar nada. Hoje é tudo sobre ele, não sobre mim. Eu consigo fingir que Marcus não me drogou para tentar me estuprar. Agora que a policia está atrás dele acho que está tudo bem.
    Caso encerrado!

    O mínimo que eu podia fazer é usar um vestido no aniversário do Renner. Um vestido especial para uma ocasião especial. Eu comprei esse vestido com o dinheiro do relógio do Peter e guardei para um momento como esse, mas ele não é muito exagerado. É um vestido branco, acima dos joelhos, fino e um pouco transparente. E felizmente, ele gostou do vestido.
    Senhora Bella abre a porta para nós, depois de Renner quase abrir com as chaves. Como dá para ver, ela está muito entusiasmada, e eu estou um pouco envergonhada porque  talvez ela não esperasse que eu estivesse aqui. Ou será que Renner contou?
    Ela abraça Renner por um tempo muito longo e distribui vários beijos no seu rosto. Fico um pouco tímida, sem saber o que fazer ou o que dizer. Tenho medo que ela não goste de mim, apesar de Esmeralda dizer que ela é muito boa.
    — Feliz aniversário, meu filho! Eu estou feliz! — Aperta o rosto dele. — Te amo muito.
    — Obrigado, mãe.
    Ela vira para mim. — Rubí! — Sorri.
    — Boa noite, senhora Tales!
    — Por favor! Não gosto que me chamem assim. Me chama de Bella. — E me abraça também. — Você está muito bonita. Vamos entrar!
    Seguimos ela para a sala grande, onde está Nicholas, que também vem abraçar o irmão e depois aperta a minha mão e sorri. Agora que eu noto, Nicholas tem olhos muito claros também, mas Renner tem os mais bonitos.
     — Você está mais bonito hoje. — Nicholas despentea o cabelo do Renner. — Feliz aniversário, irmão!
    — Porra, Nick! — Ele olha para o irmão mais velho com raiva e tenta voltar o penteado como estava.
    — Renner, não usa essa linguagem na minha frente! — Senhora Bella puxa a sua orelha.
    — Desculpa, mãe.
    — Não peça desculpa apenas para mim.
    Ele olha para Nicholas, que está rindo. — Desculpa, Nicholas!
    Eu fico me perguntando porquê os homens demoram séculos para crescer?
    — Está muito bonita, Rubí! — Nicholas olha para o meu vestido, depois vai sentar no sofá.
    Ouvimos passos nas escadas e o senhor Tales desce com Harris. Ambos usando camisas brancas impecáveis e andando em passos sincronizados. Eu ainda continuo tímida, não acho que me encaixo aqui com essas pessoas tão lindas e ricas. Se eu fizer algo errado? Eles vão dizer para Renner procurar outra namorada?
    — Boa noite, pai, Harris! — Renner interrompe a conversa deles.
    Senhor Gibson vem abraçar o filho, depois sorri para mim. Harris faz o mesmo. Será que com Esmeralda isso também acontece?
    — Boa noite, senhor Tales. — Aperto a sua mão.
    — Boa noite, Jonhanson!
    — Rubí, pai. Onde está o Peter? — Renner pergunta.
    — Na cozinha. — Senhora Bella responde. — Eu já volto com ele. — Sai em passos rápidos e entra na cozinha.
    Renner segura a minha mão e me leva para o sofá. Todos nós sentamos e  ficamos nos olhando. Senhor Gibson e Harris não parecem ser muito conversadores, já percebi. Nicholas sorri como se soubesse de todos os nossos segredos, e Renner não pára de sorrir. Que bom que ele está feliz.
    — Então, Renner não tem sido chato com você? — Nicholas pergunta.
    — Nicholas!
    — Estou brincando. Quer ver fotos dele em bebê?
    Rio. — Eu adoraria.
    — Mas não agora. — Renner olha para mim.
    — Está bem.
    Senhora Bella regressa da cozinha com Peter, que vem nos abraçar. Ele sorri para Renner, depois me abraça também. Acho que ficaria mais confortável com ele. Quer dizer, ele é o irmão do Renner que mais converso e com quem me sinto mais à vontade.
    Sentamos todos.
    — Agora que estamos todos aqui, eu quero dizer que a Rubí e eu estamos namorando. — Renner sorri de orelha a orelha, me fazendo sorrir também. É bom saber que eu o deixo tão feliz assim.
    — Ah! — Senhora Bella grita de felicidade. — Eu já sabia.
    — E eu estou muito feliz. — Renner acrescenta, olhando para mim. Eu fico um pouco tímida.
    — Isso é muito bom. Finalmente decidiu mudar de vida. — Seu pai responde.
    — E você tem bom gosto. — Harris sorri para mim.
    — Ele seguiu os meus conselhos. — Peter olha para Renner.
    — Na verdade, eu decidi mudar por mim mesmo. O resto surgiu naturalmente.
    Renner e eu trocamos olhares.
    — Que lindos! — Nicholas aplaude. — Mas mãe, eu estou morrendo de fome.
    — Filhinho de mamãe! — Harris sussurra, mas parece que todos ouvem.
    — Filhinho de papai! — E Nicholas devolve.
    Olho para Renner, que sussurra no meu ouvido. — Você vai adorar essa família.
    — Meninos, por favor! — Senhor Gibson repreende.
    — Acho que está na hora do jantar. Vamos comer. — Senhora Bella levanta. Todos nós fazemos o mesmo e a seguimos para a outra sala com uma mesa enorme e bem decorada. Olho para Renner, que me leva para sentar ao seu lado.
     Tenho dois pratos, um guardanapo em forma de ganso por cima deles, duas taças, vários talheres e tenho medo de não conseguir usar nada disso. Minha mãe já me ensinou, mas eu nunca pratiquei na vida real. Sinceramente, nunca pensei que eu iria namorar um milionário de verdade. Suspiro e olho para Renner que está brilhando de felicidade.
    Os empregados vêm nos servir, me fazendo lembrar que minha mãe já deve estar em casa para aproveitar a folga com as minhas irmãs.
    — Então, Rubí, o que você faz? — Senhor Gibson pergunta.
    — Eu sou estudante de medicina. E também tenho um trabalho num pequeno restaurante.
    — Interessante. — Ele sorri.
    — Ela dá palestras também. — Renner olha para mim. — E é muito boa. — Ele aperta a minha mão e sorri, com orgulho.
    — Sério? Tenho a certeza que será uma ótima médica. — Senhora Bella diz.
    — Obrigada.
    — E há quanto tempo vocês estão juntos? — Ela continua com as perguntas.
    — Nosso namoro é recente. — Renner responde. — Mas já estamos apaixonados há um bom tempo.
    — Eu tenho a certeza que sim. — Peter sorri.
    Começamos a comer assim que os garçons se retiram. Faço tudo lentamente, mas também não quero chamar atenção. Sorrio para Renner, depois olho Harris que não parece muito feliz, só espero que não seja por minha causa.
    A carne está deliciosa e o molho verde também. Eu sei cozinhar, mas não esse tipo de comida. Quer dizer, sei alguns pratos sofisticados, mas são muito poucos e também sei que Renner gosta muito desse tipo de comida, então talvez eu devesse aprender.
    — Fique a vontade, Rubí! — Peter pisca um olho para mim. — Namorada do Renner é como se fosse nossa irmã mais nova.
    — Verdade! — Nicholas sorri para mim.
    Sorrio para ele. — Entendido.
    — Como você trabalha num restaurante, deve ser ótima cozinheira. — Harris presume. — Assim como a Sofia.
    — Claro que ela é! Eu comi como um rei essa manhã. — Renner responde por mim.
    — Não precisa exagerar, Renner. — Coro.
    Mas ele não pára. — Ela também é  rainha dos bolos. Deviam provar os bolos que a minha namorada faz.
   — Eu ia adorar. Tenho um fraco por bolos. — Nicholas responde.
   — Eu também. — Senhora Bella sorri para mim. — Porquê não marcamos um dia e você me ensina?
    — Eu adoraria, senhora Bella.
    — Bella, por favor!
    — Claro.
    Conversamos bastante e já começo me sentir à vontade. Falamos sobre a faculdade, meu emprego temporário, sobre meus planos para o futuro, falamos também sobre o trabalho do Renner, sobre sua infância, onde descubro que Renner era um chorão e gostava de ter tudo a seu dispor, ou seja, um mimado. Talvez isso tenha diminuído um pouco agora que ele é adulto.
    No final, cantamos os parabéns para ele e comemos um bolo muito bom. Ficamos na sala de estar vendo os vídeos de Renner, mas ele está tão envergonhado que cobre o rosto com a almofada.
    Vejo um dele na sua banheira brincando com o seu pénis, e isso me faz rir. Renner nem consegue olhar, mas eu acho isso adorável. Gostaria de ter vídeos que me lembrassem a minha infância.
    — É nessa idade que a amizade começa. — Nicholas ri, me fazendo rir também.
    — Isso não tem graça. — Renner olha para ele.
    — Você era tão fofo! — Digo.
    — Obrigado pelo presente, mãe. — Renner cobre o rosto novamente.
    Agora é um vídeo dele dançando e deve ter apenas dois anos, depois Peter, eu acho, põe ele no colo e o abraça. Senhora Bella e eu dissemos um "Own" em uníssono para essa cena fofa. Renner olha para a TV agora, depois sorri para o irmão mais velho.
    — Se quiser colo, eu estou aqui! — Peter diz rindo.
    Renner revira os olhos. — Talvez mais tarde.
    — Eles crescem tão rápido. — Senhora Bella segura as lágrimas e abraça o Renner.
    — Eu gosto de ser adulto, mãe.
    — Mas temos saudades porque vocês ficam longe o tempo todo. — Senhor Gibson também segura as lágrimas.
    — Minha parte preferida. — Harris diz, apontando para a TV.
    Agora Renner aparece vestido de aranha e está tão fofo, que tenho vontade de entrar na TV e abraçá-lo. Depois desse vídeo, termina e senhora Bella se prepara para colocar mais um.
    — Tem o vídeo do Renner parte dois, parte três...
    Renner levanta imediatamente. — Nós adorariamos continuar, mas já está tarde e Rubí precisa ir para casa.
   — Mas...
    Renner me ajuda a levantar. — Eu já volto. Tenho que deixar a minha namorada em casa.
   — Foi um prazer, senhor e senhora Tales. Muito obrigada.
   — Claro que sim. Será sempre bem vinda. — Senhor Gibson sorri.
   — Pena que não viu todos os vídeos do Renner. Eu mando para você.
   — Não, mãe. Pode deixar que eu mando.
   Seus pais me dão um abraço, depois os seus irmãos e saímos da mansão. Renner abre a porta do carro para mim, mas eu seguro o seu braço e olho para ele. Queria a gente ficasse um pouco sozinhos, mas não quero que esteja ocupado dirigindo.
    — Algum problema? — Ele fecha a porta do carro e olha para mim preocupado.
    — Não sei se é um problema.
    — O que é? — Ele acaricia o meu rosto.
    — Eu... tenho um presente para você.
   Ele sorri. — Sério? E porquê está assim? Eu gosto de presentes.
    Suspiro. — Eu não sabia o que comprar para você. Não sei se vai gostar. — Fecho os olhos. — Não devia ter dito nada.
    — Cerejinha, eu amo qualquer coisa que venha de você. Porque você é você.
    Olho para ele. — Está bem.
    Me afasto e abro a minha bolsa para tirar o seu presente. Renner arregala os olhos e recebe, olhando para mim como se eu fosse de outro mundo.
    É um pequeno ursinho de vidro que está segurando um coração de vidro azul com letras brilhantes que dizem: Eu te amo. Na verdade, é um vidro muito resistente e quase inquebrável, por isso eu comprei. Quis comprar um livro, mas ele não gosta de ler. É tudo que eu consegui.
    Renner olha para o ursinho de um jeito estranho.
    — Eu sabia que não ia gostar. Eu ainda posso devolver...
    Ele sorri. — Eu gostei. — Me abraça e beija a minha testa. — De verdade.
    — Sério?
    — Claro que sim. Você deu de coração e está dizendo que... o que sente por mim. É um presente especial. Muito obrigado.
    Nos beijamos, mas me afasto quando lembro que ainda estamos na casa dos seus pais. Dou apenas um abraço apertado para ele e beijo a sua bochecha.
    — Feliz aniversário, Renner!
    — Obrigado, cerejinha!

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Faltam 7 capítulos
Espero que tenham gostado do capítulo.
Beijos

Rubí - Pedras Preciosas Onde histórias criam vida. Descubra agora