Capítulo XIX

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POV. Lúcia

O resultado do exame de BhCG deu positivo. Charlie ficou mais do que feliz com a notícia e eu? Bom, eu só fazia chorar. Eu não estava feliz com aquela notícia, eu não queria um filho, ao menos não agora, só me imaginava sendo mãe daqui a uns dez anos e olhe lá.

Qual é, eu tenho muitos assaltos para fazer, muito carregamento para entregar e receber, uma boate para gerenciar, um filho é tudo o que eu não preciso agora.

Já fazem uma semana que eu estou trancada em meu quarto, só saio para comer. Levantei hoje e fui fazer minhas higienes matinais, algo que eu não fazia desde que soube do resultado, e quando me olhei no espelho quase não me reconheci, eu estava cheia de olheiras, olhos inchados e nariz todo vermelho de tanto chorar.

Coloquei um moletom qualquer e desci até a cozinha. Vi quando Alfa pegou seu comunicador e avisou que eu estava saindo do quarto, mas nem liguei. Fui até a cozinha, tomei um café da manhã rápido e fui ao meu quarto, mas deixei a porta destrancada.

- Posso entrar? - perguntou-me receoso.

- Claro que pode - respondi e sentei na minha cama.

- Estou preocupado com você e com o nosso filho - disse sentando ao meu lado e pegando em minhas mãos.

- Não precisa, eu e essa praga estamos bem.

- Praga? Você não quer ter um filho meu?

- Eu só queria daqui a dez anos, não agora. Charlie, eu tenho a vida toda pela frente, muitos assaltos para fazer, a boate para gerenciar... Tantos planos que estão sendo frustrados por causa dessa coisa que vai crescer dentro de mim...

- Você não precisa parar a sua vida por causa de uma criança amor. Podemos contratar uma babá, para te ajudar quando for a boate, quando formos fazer os assaltos e tem minha mãe também que está aqui para nos ajudar.

- Para você é fácil falar, não é em você que isso tá crescendo.

- Bom, marquei uma consulta para nós três amanhã. Eu gostaria que pudéssemos sair para passearmos como sempre fazemos.

- Desde o resultado desse maldito exame nada mais vais ser como sempre foi - falei e Charles suspirou fundo.

- Desde o resultado desse maldito exame nada mais vais ser como sempre foi - falei e Charles suspirou fundo

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Os meses foram passando e eu não conseguia aceitar essa criança. Deus, eu sei que é uma benção, mas porquê eu? Eu não pedi para ser mãe, não pedi nada disso. Fui a boate algumas vezes, na maior parte eu trabalhava do meu quarto mesmo. Charlie estava me mimando mais do que o normal e sempre ficava falando com a minha barriga, o que era um saco.

Estou indo para o terceiro mês de gestação, minha barriga ainda não tem volume então estou conseguindo esconder das meninas muito bem, quando voltei da boate passei numa farmácia e, depois de ameaçar o farmacêutico e toda a família dele, comprei um Citotec (para quem não sabe é um remédio usado no tratamento e prevenção de dor no estômago, para induzir o parto, parar sangramento uterino pós-parto e como abortivo. Também é usado na medicina veterinária para proteção estomacal de animais) e fui para casa, tomei um único comprimido e apaguei. Charlie me encontrou caída no chão pouco tempo depois e chamou seu médico. Fizeram algum tipo de lavagem ou sei lá o quê e eu fiquei melhor. Infelizmente o feto não morreu.

Charlie me colocou para fazer terapia, mas nada tirava aquela angústia que só crescia dentro de mim.

Minha barriga estava ficando cada vez mais aparente e eu já tentei fazer de tudo para arrancar essa coisa de dentro de mim, mas sempre Charlie aparece no lugar e hora errada e estragava tudo.

Estou indo para o sexto mês de gestação, um saco. Estava em meu quarto aparando as pontas do meu cabelo quando a tesoura começou a me tentar. Peguei a tesoura e fiquei a encarando por algum tempo e no fundo uma voz me dizia para cravá-la em minha barriga. Estava a ponto de fazer isso quando Charlie entrou e correu para tirar a tesoura da minha mão.

- Você está louca? - perguntou-me assustado - Responde Lúcia, você está louca?

- Louca eu estava quando transei com você sem camisinha confiando que a peste do anticoncepcional fosse fazer efeito.

- Nós não planejamos ter um filho, mas aconteceu e você tem que aceitar isso, você quase morreu quando tomou aquele Citotec, depois quase morreu com uma overdose de vários remédios que você tomou e agora você quer se matar com uma tesoura?

- Me deixa Charlie, é o meu corpo, a minha barriga, meu útero, você não pode me obrigar a ter essa praga.

- Quer saber? Toma - disse me entregando a tesoura - você está certa, é o seu corpo não o meu, você quer se matar? Se mate, quando morrer eu te jogo numa vala qualquer já que você não tem amor a você mesma. Pega a porra dessa tesoura e acabe comigo, arranque de mim as duas coisas mais importantes da minha vida. É muito egoísmo meu querer ver você e o nosso filho bem, querer dar o mundo a vocês dois, mas faz isso longe daqui, não quero ter que pagar ninguém para limpar seu quarto e redecorar ele para o branco.

Sabe quando você tem uma máquina em que alguma peça estava fora do lugar e num chaqualho que você dá ela volta a funcionar? Então, bem assim foi comigo. E quando a ficha, de tudo que eu tinha feito e tudo o que poderia ter acontecido, caiu eu simplesmente desabei. Chorei como um bebê e Charlie veio me abraçar.

- Está tudo bem agora. Vamos tomar um banho, você precisa descansar.

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Notas finais:

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Amo vocês 😘😘♥️♥

I'm not Holy - 2° temporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora