Capítulo Dois

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Quando o sinal tocou, anunciando o fim das aulas, Henrique adiantou-se em sair em disparada pelos corredores do colégio

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Quando o sinal tocou, anunciando o fim das aulas, Henrique adiantou-se em sair em disparada pelos corredores do colégio. Precisava estar no cinema pontualmente as 14h e só tinha exatos sessenta minutos para chegar em casa, tomar um bom banho e comer — algo imprescindível.

Enquanto corria, acenava para algumas garotas que lançavam-lhe sorrisos maliciosos, assim como apertava a mão de alguns caras que o paravam para cumprimentar. Não que ele gostasse da ideia de ter repetido de ano, mas o fato de ser um veterano — no sentido mais literal possível — tinha lá seus benefícios.

Ele já era conhecido por todos por ser o neto do homem que dava nome ao colégio público onde estudava, mas agora, sendo o único aluno que havia restado do promissor 3º ano B, havia finalmente estabelecido seu “reinado”.

Mas não se enganem, ele não fazia o tipo de garoto popular estereotipado dos filmes dos anos oitenta.

Para começar, não gostava de praticar esportes. O sedentarismo havia dominado sua vida com uma força tão grande, que só não fora diagnosticado com diabetes ou alguma outra doença, porque sua mãe o obrigava a correr com ela pelo menos três vezes na semana.

Na verdade, preferia mil vezes seu caderno de desenhos do que uma bola de futebol. Apesar disso, era tão popular quanto o capitão do time da escola.

Empurrou a porta com força, deixando para trás todos os ruídos das conversas dos alunos e desceu os degraus de concreto, apertando a alça de sua mochila.

Direcionou-se para o bicicletário e puxou sua magrela de cor rosa. Sim, rosa. Quando foi a loja de bicicletas descobriu que restava apenas uma e não negou-se a comprá-la. Porém, ao chegar em casa, quase matou seu pai do coração, fazendo o homem revelar o quão frágil era sua masculinidade.

Não ligou muito para os comentários dele, dizendo que iria passar vergonha quando aparecesse com ela na escola. Na realidade, ao chegar ao colégio para o seu primeiro dia de aula, acabou meio que lançando uma nova tendência e todos os outros garotos começaram a adicionar algum acessório rosa em seus figurinos.

Pois é.

Subiu em cima da bicicleta e aos poucos a escola ia desaparecendo de sua visão. Enquanto pedalava rápido pelas ruas da cidade — finalmente estava recuperando suas habilidades com o veículo de duas rodas — pensava que nesse ano ele deveria ser diferente, tinha que fazer jus ao nome de sua escola.

Vitório Montenegro era o segundo melhor colégio de Vinberurbo, perdendo apenas para o Meditrina, a escola particular criada para os jovens das famílias influentes da pequena localidade.

Seu pai tinha dinheiro suficiente para matriculá-lo lá, mas preferiu colocá-lo na escola que fora criada exclusivamente para homenagear o avô do garoto.

E claro, um prefeito tinha que demostrar que era como o povo, e nada melhor que colocando seu filho para estudar em uma escola pública.

Parou em frente a sua casa, aliviado por saber que seu pai não estava, já que o mesmo passava o dia inteiro na prefeitura, assinando papéis e dando ordens.

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