Capítulo Vinte e Sete

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Henrique sabia que Ayla não estava prestando atenção em sua voz

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Henrique sabia que Ayla não estava prestando atenção em sua voz.

E, tudo bem, não podia retirar todo o mérito da garota ou simplesmente ignorar todo o seu esforço; ela era ótima em disfarçar. Enquanto balançava a cabeça para baixo e para cima de cinco em cinco segundos, e reproduzia, de vez em quando, alguns murmúrios de concordância pela boca, o garoto até chegou a acreditar por um momento que ela estava, de fato, escutando às suas palavras.

A certeza, no entanto, foi temporária, e logo os pequenos sinais começaram a entregá-la. Seus olhos se estreitavam em confusão; seu cenho franzido denunciava o quanto ela estava perdida com aquela conversa e, para comprovar sua teoria de vez, Henrique decidiu fazer a famosa e infalível pergunta:

— O que você acha?

— O que eu acho? — repetiu, desviando o olhar para o outro lado da rua. Seus cabelos não estavam presos em um rabo de cavalo, como de costume. Soltos, insistiam em voar no mesmo ritmo acelerado que o vento frio daquela noite. Ela também não usava seus óculos de grau em frente ao rosto, permitindo a Henrique uma melhor visão de seus olhos sonolentos. — Eu acho... bom? — respondeu, em um tom duvidoso, voltando a encará-lo.

— Você não tava me escutando — concluiu, em um suspiro, ajeitando o pequeno gato em suas pernas.

Não que ele estivesse no direito de lhe exigir algo. Depois de passarem um tempo abraçados e decidirem, por fim, se sentarem na calçada de sua casa para conversar, Henrique rapidamente notou o cansaço que emanava do corpo da garota. Ela não estava muito melhor do que há dois dias atrás. Talvez estivesse pior.

Admitia que havia considerado por alguns minutos uma possível melhora em seu estado, afinal, a iniciativa de fazer contato com ele havia partido dela. Mas então, percebeu o que estava acontecendo. Ayla não havia melhorado. Ela estava disfarçando. Ela era ótima em disfarçar.

— Desculpa, o que você disse? Pode repetir?

— Deixa pra lá — ele abanou a mão. — A gente pode falar sobre isso em outro momento.

— Ok.

Eles ficaram em silêncio. Mas não aquele tipo de silêncio confortável, onde palavras não eram necessárias e a presença de cada um era o que bastava para que o momento não se tornasse incômodo. Não. Era um silêncio que deixava pairando sobre o ar todas as inseguranças existentes entre os dois. Henrique queria conversar com Ayla, mas não sabia se ela queria conversar com ele.

— Olha, a escola mandou os assuntos e as atividades que você perdeu durante esses dois dias — pegou a pasta que mantinha ao seu lado, a estendendo com pressa em direção a garota. Estava esperançoso de que aquilo pudesse lhe animar. Se ela era uma boa aluna, provavelmente gostava de estudar. Ou pelo menos era assim que Henrique acreditava que as coisas funcionavam.

— Obrigada — agradeceu, recebendo o objeto de prontidão, mas sem demonstrar muito entusiasmo em sua fala.

— Tem algo de errado entre a gente? — Ayla o fitou, intrigada. — Pensei que estivéssemos bem.

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