Capítulo Trinta e Dois: Parte II

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Quando Henrique tinha catorze anos, soube pela primeira vez como era a sensação de perder alguém que se amava

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Quando Henrique tinha catorze anos, soube pela primeira vez como era a sensação de perder alguém que se amava.

Alguns meses depois de começar a morar junto com eles, seu avô, pai de sua mãe, acabou desenvolvendo um tipo raro de doença degenerativa. Não sabia muito bem o motivo de ela existir ou o porquê de ter escolhido justamente o mais velho, mas se lembrava de ter chorado ao receber a notícia do diagnóstico. Helena se esforçou ao máximo em explicar a parte médica da doença para ele, mas, para falar a verdade, Henrique não deu muita atenção para aquilo, pois o que realmente importava naquele momento era que seu avô estava morrendo.

Era diferente de quando o seu outro avô, pai de Sérgio, havia falecido. Porque (1) ele só tinha cinco anos quando tudo aconteceu e (2) assistir a mesma tv, sentados no sofá, era o máximo que eles haviam alcançado no quesito “criar laços”. Por isso, quando o inevitável aconteceu, e seu avô, o de verdade, deu seu último suspiro de vida, Henrique sentiu como se uma parte de si também tivesse ido embora.

O que ele não imaginava era que o pior ainda estava por vir.

No dia seguinte, após o enterro, Henrique preparou um café da manhã e bateu na porta do quarto de sua mãe. Sérgio havia saído cedo para trabalhar, e ele estava sozinho em casa. Não sendo atendido na primeira tentativa, bateu outras vezes, mas, mesmo assim, não obteve nenhuma resposta. Então, se lembrou do molho de chaves reserva que eles guardavam na dispensa.

Era quase certo que a mente de Henrique havia apagado a maioria dos detalhes daquela manhã, como uma maneira de se auto-preservar ou algo parecido, pelo menos era o que o psicólogo havia dito na única vez em que visitara um. Mas ele se lembrava do essencial; sua mãe, caída no chão, junto a um frasco vazio do remédio que usava para dormir.

Os médicos disseram que ela havia sobrevivido por um milagre, que Henrique havia a encontrado a tempo de o pior acontecer. Mas depois daquele dia, tudo que ele conseguia fazer era sentir medo. Medo dela piorar. Medo de que não fosse tão rápido como da última vez. E agora, era como se tudo aquilo estivesse se repetindo novamente e ele ocupasse a mesma posição daquela manhã.

— Uma mensagem.

Deu pra ver quem era? — Ayla questionou do outro lado da linha.

— Não, era um número desconhecido — passou a mão pelos cabelos, a um fio de perder todo seu controle. — A foto que essa pessoa enviou era do meu pai e da Fátima se beijando. Assim que a minha mãe viu, jogou o telefone no chão e saiu correndo pra se trancar no quarto — levantou o olhar, encarando a porta fechada. — Ayla — hesitou —, você acha que ela pode...

Henrique, calma. Sua mãe não vai fazer nada, ok? Eu tô indo pra aí.

— Certo — soltou uma lufada de ar, levemente aliviado e tentando seguir seu conselho, mas rapidamente descobriu que era péssimo naquilo de “tentar ficar calmo”. — A porta tá aberta, não precisa bater.

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