Para a grande surpresa de Henrique, o fim do casamento de seus pais foi rápido, silencioso e sem escândalos.
Ainda que a última parte não fosse completamente verdadeira — seria uma questão de tempo até todos ficarem sabendo da verdade —, ao entrar dentro de casa, ele realmente pensou que escutaria o barulho de várias coisas sendo jogadas contra a parede, ou então, gritos e mais gritos de uma calorosa briga entre os dois.
Felizmente, nada daquilo aconteceu.
Quinze minutos após entrar em seu quarto, Sérgio saiu, carregando uma pequena mala na mão e uma expressão furiosa no rosto. Henrique não se deu ao trabalho de se virar, preferiu continuar sentado onde estava. Depois de muito pensar e considerar os prós e os contras, optou por não aparecer no cinema àquela tarde. Na verdade, nem sabia se era uma boa ideia seguir trabalhando no mesmo local da agora descoberta amante de seu pai. E se ele continuasse com ela? E se decidisse assumir o que eles tinham, e ela, de alguma forma, acabasse se tornando sua madrasta?
— Foi você quem contou pra sua mãe?
A pergunta invadiu seus pensamentos, livre de qualquer delicadeza, forçando-lhe a levantar a cabeça e encarar o homem à sua frente.
Droga.
Henrique tinha um plano. Um plano simples, concreto e que, até onde ele sabia, estava indo muito bem. Ele girava em torno de uma única regra: ignorar a presença de seu pai o máximo de tempo que conseguisse ou até ele se cansar e ir embora. Sem brigas, repetia para si mesmo, sem brigas.
— Servido? — ofereceu o sanduíche que segurava, recebendo um levantar de queixo em resposta. — Não? Ok — deu mais uma mordida, ajeitando sua posição no sofá. — Sobre a pergunta: não, não fui eu que contei pra ela, mas quer saber? Eu deveria. Vendo essa cena, me arrependo de não ter contado antes.
— Imagino que deva estar pulando de alegria por dentro. Era tudo o que você queria, certo?
— Eu não me sinto feliz por ver minha mãe sofrendo, se é isso que quer saber — respondeu de imediato. — Agora, ver você sendo escorraçado por ela? — fechou os olhos por um instante, soltando um longo suspiro de satisfação. — Sabe, não acho que exista sentimento melhor.
Sérgio contorceu o rosto, sua garganta arranhando um som que Henrique até poderia chamar de risada, se não tivesse morrido antes mesmo de começar. Estava em desvantagem. Lentamente, suas feições perderam qualquer sinal de contentamento que ainda pudesse possuir, dando lugar a uma enorme e irritadíssima carranca.
— A Helena pode ter direito à metade de tudo que eu tenho, mas se a cidade ficar sabendo sobre esse meu pequeno deslize, eu não vou ser a única pessoa prejudicada aqui.
— Por que eu deveria me sentir mal por existir a mínima possibilidade de você pagar pelo que fez?
Sérgio arquejou, o rosto ficando vermelho.
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Negócio Fechado | ✓
Teen FictionNão estava nos planos de Henrique repetir o último ano do ensino médio, mas, quando isso acontece, seu pai resolve lhe dar uma boa lição e o obriga a arrumar um emprego. Trabalhando no cinema da cidade, ele rapidamente conquista o desafeto gratuito...