Ayla nunca pensou que uma quinta-feira pudesse ser tão apavorante. E, bem, talvez não fosse. Talvez ela só estivesse muito nervosa com o que iria acontecer no sábado e descontando injustamente toda sua ansiedade em cima do pobre dia da semana. Mas faltava tão pouco tempo para o tão esperado encontro entre Fátima e a pessoa misteriosa, que tudo que ela conseguia imaginar era que sua cabeça poderia explodir a qualquer momento, que nem uma pipoca quente na panela, pressionada por tantas paranoias.
Paranoias sobre como todo o plano daria errado.
Não que fosse um plano muito elaborado ou algo do tipo. Na verdade, ele era bem simples. E era isso que a assustava.
O medo que estava sentindo era alimentado e fortalecido pelo fato de que o prazo para quitar sua dívida com o dono da casa onde morava estava chegando ao fim. Aquilo com certeza era um "tudo ou nada" e, se infelizmente fosse um "nada", teria que descobrir a melhor maneira possível de contar a grande novidade para seus pais, ou melhor: em como conseguiria arrumar um novo lugar para morar e, de bônus, uma bolada de dinheiro para pagar suas dívidas.
A questão em si era ainda mais complicada: a casa onde morava era a única que cabia em seu orçamento. Fox havia aliviado para ela e convencido o dono do imóvel a diminuir o preço do aluguel. Já havia procurado por outras casas mais baratas ou do mesmo valor, claro, foi a primeira coisa que fez na verdade, mas o esforço havia sido inútil.
A primeira conclusão da terapeuta ao escutar tudo aquilo foi a de que Ayla estava acumulando muitas responsabilidades. E nem era como se a garota pudesse rebatê-la; a mulher parecia ser a pessoa mais compreensível do mundo, além de conseguir deixá-la completamente concentrada apenas com algumas palavras. Combinaram de se encontrar duas vezes por semana, e disse que Ayla poderia ligar se se sentisse muito mal. Definitivamente ela não faria aquilo. Seria abusar demais da sua boa vontade.
Julgava os encontros significativos, mas sabia que em algum momento a terapeuta iria perguntar sobre o acidente. Também sabia que precisava falar sobre ele — aquele havia sido o motivo de tê-la procurado, para início de conversa — mas era como cutucar uma ferida que estava começando a cicatrizar. E ela não tinha certeza se aquilo seria bom.
Muitos pensamentos para uma única cabeça aguentar.
Tantos que Ayla mal estava prestando atenção na aula. A professora de literatura parecia muito animada enquanto falava sobre a genialidade de um livro qualquer, mas nada realmente parecia fazer sentido. Por isso, desviou o olhar da lousa, focando nos outros alunos.
Diego — é, Diego, o cara da festa — estava sentado ao lado de Isaac. De acordo com Henrique, ele precisou se mudar para a Argentina no final do primeiro ano e agora estava de volta, sob circunstâncias ainda desconhecidas. Em seu quarto dia de aula, já havia se readaptado sem grandes dificuldades ao seu novo-velho ambiente escolar e feito amizade com quase todos da sala. O "quase" era por causa de Maria. Enquanto as outras garotas estavam encantadas demais com o estilo rockeiro do rapaz, ela parecia prestes a vomitar toda vez que olhava em seu rosto.
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Negócio Fechado | ✓
Ficção AdolescenteNão estava nos planos de Henrique repetir o último ano do ensino médio, mas, quando isso acontece, seu pai resolve lhe dar uma boa lição e o obriga a arrumar um emprego. Trabalhando no cinema da cidade, ele rapidamente conquista o desafeto gratuito...