— Já se passaram quinze minutos e eles continuam conversando — Ayla virou-se para trás, fixando seu olhar em Babi, que também observava com atenção os dois garotos, parados a alguns metros de distância de onde elas estavam. — Isso é bom, certo?
— Certo.
— Se o Santi quisesse bater no Henrique, já teria feito isso há muito tempo.
— Sim.
— Ou então não — pensou consigo mesma, horrorizada com todas as possibilidades existentes. — Talvez ele só esteja se segurando e a qualquer momento vá explodir e — suspirou, nervosamente. — Dar um soco naquele rostinho lindo.
Babi até tentou se segurar, mas quando escutou aquelas duas últimas palavras saltarem para fora da boca de sua amiga, sorriu, erguendo as duas sobrancelhas de maneira sugestiva. Já Ayla, presa em sua preocupação interior, demorou um tempo até parar e perceber o que havia dito. Quando enfim o fez, o estrago, infelizmente, já estava feito.
— Naquele rosto completamente normal e comum — corrigiu-se, sentindo sua voz trêmula. — Foi o que eu quis dizer. Sem diminutivos. Entendeu? É que... — baixou a cabeça. — É que eu falei errado.
— Claro, amiga, entendo perfeitamente a sua situação. Acontece comigo pelo menos duas vezes por semana — disse, com os olhos semicerrados em uma falsa seriedade. Em resposta, a garota torceu os lábios.
Sentindo-se incapaz de conter suas mãos e a si mesma por mais tempo, a garçonete riu baixinho, apressando-se em apertar e balançar, de um lado para o outro, as bochechas da funcionária do cinema.
— É tão fofinho quando você tenta esconder o que sente pelo Henrique e falha miseravelmente. Perde toda sua pose de “aí, não me toque, não tenho sentimentos”.
— Não tem nada de “fofinho” nisso! — resmungou, fugindo para longe de seu alcance. — O que você tem contra as minhas bochechas, hein? — passou a mão pelo rosto, começando a massageá-lo com cuidado. — Isso dói, ok? Não é legal.
— Fofa — alargou seu sorriso ainda mais.
— Não me chama de fofa — apontou o dedo em sua direção, tentando parecer realmente irritada, o que, na verdade, só contribuiu ainda mais para que Babi pensasse o exato oposto ao seu respeito.
— É o amor, pequeno gafanhoto — segurou em seu ombro, como se estivesse lhe repassando um conselho milenar. — É o amor.
Tudo bem. Ayla precisava confessar algo.
Talvez ela estivesse ficando um pouquinho menos carrancuda. E talvez, Henrique possuísse um pequeno papel de destaque naquela sua inesperada mudança.
O fato era que, ultimamente — e com isso queria dizer, desde que havia se declarado para ele — as qualidades do garoto pareciam querer se sobressair sobre seus defeitos, que naquela altura do campeonato, eram quase inexistentes. Assim, em momentos completamente aleatórios, se pegava refletindo sobre o quanto ele era engraçado, gentil, bonito, gostoso. Cheiroso!
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Negócio Fechado | ✓
Novela JuvenilNão estava nos planos de Henrique repetir o último ano do ensino médio, mas, quando isso acontece, seu pai resolve lhe dar uma boa lição e o obriga a arrumar um emprego. Trabalhando no cinema da cidade, ele rapidamente conquista o desafeto gratuito...