Capítulo 34: Laços

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Essa é a história de quatro jovens, de como seus caminhos se cruzaram certa vez e de como eles se separaram por um longo tempo até que um dia viessem a se reencontrar, mas não seria um reencontro de grandes amigos, pois a vida os transformou em pessoas completamente diferentes.

A primeira destes jovens, bateu naquela porta aflita, ela era poderosa, independente, mas ainda assim, se sentia exposta e vulnerável.

–Olá? –Um garoto abriu a porta e fez o coração da mulher quase sair pela boca.

–Essa é a casa de Renan Richard? –Ela perguntou mesmo já sabendo a resposta.

–Hum? Sim, sou eu –Ele respondeu. Os olhos dela brilharam encantada, ela tocou no rosto do Renan que estranhou a emoção dela –Oi? Quem é a senhora?

–Desculpe –Ela se ajeitou se recompondo –Sou uma amiga do seu pai, você não deve lembrar de mim, a última vez que te vi, você era uma criança de colo –Ela suspirou e estendeu a mão se apresentando –Olá, meu nome é Melissa Melo.

–Melo? –Perguntou Renan, aquele era o nome de solteiro de sua falecida mãe.

–Sim –A mulher apertou os punhos com força –Rebeca... Era minha irmã.

Renan ergueu uma sobrancelha, não era todo dia que uma mulher misteriosa batia em sua porta alegando ser sua tia.

Longe dali, outro dos quatro jovens olhava pela janela enquanto o zangão azul exigia respostas.

–Vamos! Me conte tudo que sabe sobre a Rainha! Nunca consegui nenhuma informação sobre ela, tudo é muito sigiloso. Se você realmente a conheceu antes dela se tornar a Rainha, quero toda a informação que puder me dar.

–Ok, vou te contar. Não devo nada à ela para manter seu passado em segredo... Só que tudo me remete à família... –Vitor tinha uma obsessão por família, mas quem poderia culpa-lo depois de tudo que ele tinha passado?

Vitor Valente tivera uma infância difícil, seus pais eram violentos e o negligenciavam, raras foram as vezes que ele voltara da escola e encontrara o que comer; teve que aprender a lavar suas roupas muito cedo, pois se não cuida-se de si mesmo, ninguém o faria; a violência com que era tratado em casa era espelhada e refletida na escola, todos tinham medo do Vitor Doido.

–Ouvi dizer que uma vez ele arrancou a orelha de um garoto com uma mordida –Contou um pequeno fofoqueiro. O grupo de garotos compartilhavam histórias verdadeiras e inventadas sobre o Vitor como quem contava contos de terror, entre eles estava o jovem Rodrigo Richard.

–Eu nunca o vi de perto –Ele confessou, eles estudavam em salas diferentes.

Seus caminhos não demorariam a se cruzar. Vitor estava numa ponte olhando para a água, vendo um cardume de peixes nadando calmamente. Ele fez um arma com os dedos e apontou para os peixes e se imaginava atirando neles, um verdadeiro tiro ao alvo. Logo seus pensamentos foram além e no lugar dos peixes ele se imaginou atirando em pessoas, na professora rabugenta, na garota metida que lhe dera um fora, em todos que ficavam sussurrando quando ele passava, em seus pais... Oh, seus pais! Vitor disparou seus projeteis imaginários e continuou disparando até os dois piores adultos que conhecia se tornarem peneiras, não, ele não parou, em cima da ponte disparava e chorava e quando deu por si estava gritando.

Rodrigo andava de bicicleta por debaixo da ponte quando ouviu os gritos, ele parou e viu o Vitor apontando pra água e berrando: "Morra! Morra! Morra!".

–É o Vitor Doido? –E os gritos continuavam –Será que ele é mesmo doido?

Vitor escorregou, parecia mentira, aquela sensação de despencar no ar e cair em direção à água. Rodrigo gritou e sem pensar desceu da bicicleta e se jogou no rio. Vitor afundou e aquela sensação era familiar, era como sempre se sentia, afundando em águas de tristeza e solidão. "Pelo menos aqui ninguém vai me machucar". Ele não tentou nadar, apenas se deixou levar para acabar com tudo aquilo. Mas aquele ainda não seria seu fim, mãos desconhecidas o arrastaram de volta da vida, ar foi sobrado em sua boca e mãos apertavam seu peitos forçando seus pulmões. Vitor despertou vomitando água.

Guerra das AranhasOnde histórias criam vida. Descubra agora