4 | Os Sullivan

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Plim, plom.

O som da campainha propagou-se por todos os cantos amadeirados da casa dos Sullivan. Quando Emmy surgiu, exibi meu mais sincero sorriso, tentando não transparecer ser falso por isso. Imagine que seu ex está pegando fogo, minha mente me instruiu a fazer, assim minha felicidade pareceria mais verdadeira. Imagine que seu ex está pegando fogo...

— Oi! — falei, todo animado, e, ainda que já soubesse que Emmy tinha conhecimento sobre mim, acrescentei: — Sou Demétrius, o babá.

A mulher, após ajustar seu brinco de pérola na orelha direita, devolveu meu traço alegre e estendeu-me uma de suas mãos finas, a qual eu apertei. Sua energia era incrível.

— Olá, Demétrius! Sou a Emmy. Entre, por favor. — Ela me deu passagem.

— Obrigado.

A mulher, em seu vestido branco, bonito e simples, indicava que estava prestes a sair. Ela era pálida, magra e bela, com seu olhar esverdeado e cabelo castanho claro amarrado em um coque acima da cabeça. Sabe aquelas pessoas que, mesmo desajeitada, você, Ariel, pensaria "ah, ela é rica"? Pois é. Emmy me remetia a esse tipo de ser humano. Seu jeito de caminhar pela casa era até engraçado, mas provavelmente minha impressão se devia ao fato de que ela estava buscando alguma coisa que não sabia onde havia deixado.

— Queira perdoar a minha pressa, Demétrius — ela falava à medida que andava, tentando colocar sua pulseira de ouro no pulso direito —, mas estou atrasada para ir me encontrar com meu marido. Estou com a mente na lua hoje. Ainda bem que você já está aqui. — Ela me observou brevemente e riu.

Agarrei-me à sua alegria da mesma maneira que eu fazia quando queria me unir a um grupo de colegas para quebrar o carro do meu professor que disse que eu certamente tinha parentesco com os demônios de "Invocação do Mal".

— Acontece.

— Vem, vou te mostrar um pouco da casa.

Ai, oba. Estou louco para conhecer o sofá e a geladeira.

Era meio trabalhoso dividir minha atenção ao ambiente moderno e à conversa, mas eu fazia o meu melhor. Estávamos na sala branca e gelada agora. Percebi que gente rica não gostava de muitos objetos espalhados pelo ambiente: o lugar era quase tão vazio quanto a minha conta bancária atual. Havia uma TV grande, dois sofás, duas poltronas, uma mesinha de vidro, sustentando um telefone de fio e algumas revistas e... só isso.

— Seus pais falaram muito bem de você — Emmy prosseguiu. — Fico feliz por saber que se dá muito bem com criança.

— Ah, meus pais são brincalhões assim mesmo.

As sobrancelhas da moça foram erguidas.

— Como?

Era agora que eu deveria usar minhas táticas de expressão que eu aprendi no ensino médio nas aulas de teatro.

— Nada. Estou pensando alto. Te dou a minha palavra de que eu adoro crianças. — A uns cinco quilômetros longe de mim.

— Então Matheus e Brenda não serão problemas para você, aposto.

Ah, é... esses são os nomes dos diabinhos. Meus pais tinham me informado sobre eles ontem, porém, por nunca me importar com as pessoas com idades inferiores a doze anos, me esqueci dos nomes delas no segundo seguinte.

— Certeza que não — sorri. — Vamos nos dar muito bem.

Emmy me deu um sorriso iluminado.

Na cozinha chique e com mais detalhes de madeira e de vidro, a Srta. Sullivan puxou um papel preso à lateral da geladeira de duas portas e o me entregou.

COMO [NÃO] SER UM BABÁOnde histórias criam vida. Descubra agora