[Quarta-feira, 06 de janeiro de 2021]
Como hoje rolaria o jantar na casa dos Sullivan, me dediquei à minha vestimenta da mesma forma que um dia já caprichei meu diário que continha os nomes dos garotos que eu era doido para ficar. Sim, adquiri um diário lá em torno do fim dos meus doze anos, quando levei em conta o que minha vó me disse — para eu ser feliz. Talvez eu tivesse levado a sério demais esse lance de namorar.
Só para te dar uma ideia, Ariel, já cheguei a ter sete namorados em um período de um ano, e, apesar do número muito pequeno, não perdi a virgindade com nenhum deles. As razões que os levavam a terminar comigo eram variadas, embora todas elas se resumissem a "você se acha demais" (o que era irônico, pois nunca me perdi), "você só pensa em dinheiro" (o que era irônico também, pois nenhum deles era milionário o suficiente para me dar uma mansão) e "você é mesmo muito bonito, mas apenas por fora". Eles pensavam que eram o que, afinal, para dizer isso? Médicos que faziam autópsia? Como sabiam que eu era feio por dentro?
A verdade era que beijei o primeiro garoto aos treze anos e perdi minha virgindade aos dezesseis. Vou te contar um pouco da história em que descobri que a próstata era, com certeza, o melhor músculo do sexo masculino, Ariel. Já pegou sua pipoca?
Eu disse pipoca, hein? Com "p". Não vá pensar besteira.
[07 anos atrás]
— Tá bom. — Puxei os dois garotos na calçada para dentro de casa e tranquei a porta. — Seguinte: provavelmente, o vizinho vai bater aqui em poucos minutos para avisar aos meus pais que bati no filho dele com um cipó que arde pra caramba, mas isso não é verdade. — Esfreguei minhas mãos cobertas de fiapos de madeira na camisa, ocultando a prova de que fiz o que acabei de dizer. Deu trabalho arrancar o cipó da árvore! — Tirando isso, acho que será a única vez em que poderemos ser interrompidos. Só ignorem. Faço isso direto quando meus professores me dizem que irei ficar de recuperação se eu continuar xingando as mães deles.
Lúcio olhou para Rogério, a testa franzida.
— Tudo bem... Já colocou o "Harry Potter" para a gente assistir? — Lúcio indagou. Ele era negro, tinha cabelo bem ondulado (parecia um tipo de anjo que eu jamais seria), olhos pretos e lábios levemente rosados.
Eu ri.
— Que "Harry Potter", menino?!
— Você disse que a gente ia ver filme hoje — Rogério me lembrou, o olhar esverdeado no meu cenho. O garoto era pálido, mais alto do que eu, sardas leves nas bochechas e o cabelo liso, todo eriçado. Rogério era da minha escola, e nos conhecemos no dia em que ele me pegou no flagra tentando abrir o armário do meu colega para pegar "emprestado" o pacote de canetas colorida dele.
— Não, era mentira. — Eles são tão ingênuos. — Precisei dizer isso para que viessem me ver. Não quero ver "Harry Potter". Estou a fim de ver outro tipo de varinha agora.
Rogério ficou assustado.
— Você quer transar?!
— Sim!
— Com nós dois ao mesmo tempo?!
Eram três, sendo franco, mas ele desmarcou a sessão de cinema.
— Exatamente. — Cruzei os braços. Depois, examinando o cuidado em seus rostos, questionei: — Por que estão tão assustados? Foram vocês mesmos que disseram que gostariam muito de saber como é a sensação de comer um garoto bonito e virgem. Acabaram de achar um! E eu não sou bonito: sou lindo! Tem coisa melhor?
Lúcio ergueu as mãos.
— Demétrius... tem certeza de que quer perder a virgindade com nós dois? — ele perguntou, indicando a si e ao garoto ao lado. — Não vai doer?
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COMO [NÃO] SER UM BABÁ
RomanceSó existe uma coisa que Demétrius Esteves detesta mais do que crianças: cuidar de crianças. Para compensar o dano causado por ter arremessado o carro em um poste, ele agora precisa trilhar o que aparentemente seria o seu pior pesadelo: bancar o babá...