32 | A maior loucura

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[Sexta-feira, 13 de fevereiro de 2021]

Depois que fui ao centro pegar minha roupa para a formatura, que rolaria na próxima segunda-feira — os ensaios ocorreram na semana passada —, decidi que ligaria para Estelar e lhe contaria sobre meu último dia na casa dos meus patrões. Ela me disse que daria de tudo para me ver chorando, e ainda acrescentou dizendo que me ver assim tinha a mesma probabilidade de um raio cair no mesmo lugar duas vezes. Eu tinha que concordar.

Estelar estava bem lá do outro lado do mundo... longe de mim... longe das minhas piadas sem graça... longe da meu sorriso perfeito e sedutor (dá vontade, né, Diego?)... e longe do mais importante: minha fisionomia. Perguntei-me como minha amiga estava suportando ter que encarar pessoas não tão belas quanto eu lá na Inglaterra. Ela deveria estar no tédio, coitada.

Parecia que o lance entre ela e Douglas iria se estender por mais tempo, considerando que ele lhe promovia tudo aquilo que um ser humano poderia querer: sexo, dinheiro, amor, dinheiro, companheirismo... dinheiro de novo... A lista era tão gigante quanto a minha envolvendo a quantidade de "x" que já recebi nas minhas provas das escolas. Será que meus professores queriam dizer que recebi nota máxima, já que o "x", em números romanos, é 10? E se a letra "R", que constantemente estava impressa no meu boletim, não significasse "recuperação", e sim "radiante", qualidade que realmente faz jus a mim?

Eu nunca ia saber. O que sabia era que minha amiga estava bastante feliz, e eu não poderia ficar mais contente por isso. Mesmo que ela não pudesse vir me ver na formatura, ao menos ligaria para mim quando ela acabasse. Estelar só chegaria aqui na sexta-feira.

Espero que ela não se esqueça do Camaro.

Depois que deixei minha beca azul na cama, liguei para Júnior, esperando que ele já tivesse ido visitar a mãe, Beatriz. Ele passou a manhã na casa dela. Meu namorado (como era gostoso não usar mais o "futuro namorado") me atendeu e disse que eu já poderia visitá-lo no trailer.

Em torno das 15h, fui para lá.

Estava um dia ensolarado, então usei minha vestimenta mais leve possível: minha camisa que exibia meu narcisismo extremo (aquela bonitona que continha meu rosto) e um short branco e jeans. Você até poderia pensar que era algo simples demais, Ariel, mas não se esqueça que eu era um formoso. De que adiantava vestir algo esplêndido, se a beleza, no fim das contas, ficaria toda no meu rosto?

Enfim. Chega de dizer o óbvio.

Resolvi passar em uma panificadora no trajeto e comprei uma bandeja com salgadinhos de queijo e frango quase tão deliciosos quanto eu e uma garrafa de vinho barato. Um dia eu ainda teria o prazer de levar uma garrafa de champanhe de R$ 200,00 ao caixa e dizer "pode passar no débito", sem me sentir triste pela fatura no mês seguinte. Não aguentava mais comprar algo acima de vinte reais e ter que parcelar em doze vezes.

Quando cheguei ao trailer, vi Júnior só calça, deixando transparecer o peitoral esbelto. A Larissinha chega até a bater palma. Ele tinha acabado de deixar o banheiro, a toalha descansada em seu ombro direito.

— Fiu, fiu — assoviei, subindo para o topo da cabeça os meus óculos de sol muito idênticos aos da Chilli Beans. O tamanho era o mesmo, mas o meu era de camelô. — Gato, seu pai por acaso tem a cura para o Alzheimer?

Ele, notando que eu me aproximava, sorriu.

— Tem não. Por quê?

— Por que o quê?

No primeiro segundo, Júnior franziu a testa. Então, compreendendo o sentido tosco da piada, deu uma risada tão sexy que faria uma pessoa perder a virgindade agora. Ou seja, se ele tivesse rido na época a.C., minha vizinha fofoqueira já deixaria de ser virgem.

COMO [NÃO] SER UM BABÁOnde histórias criam vida. Descubra agora