Já na casa dos Sullivan, vi que, num cantinho reservado da sala, logo abaixo da árvore de Natal, estavam os presentes que os gêmeos ganharam de aniversário. Eram muitos, por sinal. Até pensei em pegar dois deles, ir até Brenda e Matheus e dizer "olha só o que eu comprei para vocês", mas Júnior garantiu que não era necessário mentir. Eu estava inseguro quanto a isso. Entretanto, assim que ele e eu chegamos perto dos aniversariantes, notei que não havia motivos para ficar temeroso.
Balões, fitas, purpurina e desenhos infantis enfeitavam o ambiente todo. "Bombando Brinque", da Xuxa, ecoava quase que de maneira tímida na caixa de som na sala. Por ser a primeira faixa do "XSPB 6", me perguntei se a festa tinha começado agora ou se o CD estava sendo tocado pela 666° vez. De tanto que Brenda e Matheus me infernizavam — no bom sentido — para colocar o CD, comecei a decorar as letras das músicas. Só seria uma pena se ele aparecesse quebrado na semana que vem...
— Júnior! — Matheus veio correndo na direção do rapaz do meu lado. Brenda, escutando a voz do irmão, logo se aproximou de nós também. — Você veio!
Júnior ajoelhou-se no chão, abriu os braços e, com um sorriso que aqueceu meu coração, os abraçou. Brenda usava um vestido vermelho, e o cabelo estava envolvido por tranças. Um terno preto e branco envolvia Matheus, fazendo-me ter uma impressão de que ele era um garçom pequeno.
— Sim, maninho. Parabéns para vocês dois. — Júnior massageou as costas dos irmãos. — Tenho muito orgulho de vocês. Sete aninhos, hein? Como cresceram tão rápido?
— O papai disse que a gente comeu muito Nescau — Matheus disse.
Sorri. A justificativa que os adultos me davam para explicar o meu crescimento ligeiro geralmente girava em torno de "deve ser Lúcifer querendo que você vá para o inferno mais cedo".
— É, deve ser — Júnior disse a Matheus.
Quando fui notado pelos gêmeos, ajoelhei-me também. Ai, que dor nas costas...
— Demétrius! — Brenda sorriu, toda animada, e rodeou os braços no meu pescoço. Poucos segundos depois, Matheus repetiu o gesto. — Você se lembrou da gente!
— Ah, com certeza eu não me esqueceria dessa data tão querida! — Perto de outras mentiras, essa não era nada. Uma vez fingi que tinha deficiência mental só para pegar uma senha para a fila de um banco mais rápido. Não adiantou muita coisa, pois acabaram me dando uma senha para a fila errada. — Feliz aniversário, meus amores. Aproveitem bastante esse dia.
— Tá — respondeu a menina, soltando-me. — A gente vai cantar parabéns já, já! Não é para sumir, hein?
Olhei para Júnior, que sorriu.
— Pode deixar — ele disse.
Os aniversariantes se despediram da gente e caminharam para um grupinho de outras crianças que deveriam ter a mesma faixa etária deles. Fiquei surpreendido por eles não terem perguntado sobre meu presente, assim eu não precisaria dizer que o deixei lá junto aos outros ou que um ladrão tinha me assaltado durante minha vinda até aqui. Além do mais, se o aniversário fosse meu, eu faria questão de ficar na entrada de casa só para ter o prazer de expulsar as crianças que chegassem de mãos vazias.
Será que foi por causa desse meu egoísmo que meus pais pararam de fazer festas para mim?
Momentos depois, vi o Sr. e a Sr. Sullivan. Ambos olharam para meu rosto primeiro, admitindo um traço leve de surpresa, e, logo após, observaram o filho ao meu lado, que rapidamente enrugou o cenho. Minha curiosidade estava quase me matando para querer saber o que tinha acontecido para que Júnior tivesse ficado frio com os pais.
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COMO [NÃO] SER UM BABÁ
RomanceSó existe uma coisa que Demétrius Esteves detesta mais do que crianças: cuidar de crianças. Para compensar o dano causado por ter arremessado o carro em um poste, ele agora precisa trilhar o que aparentemente seria o seu pior pesadelo: bancar o babá...