29 | A reconciliação

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[Segunda-feira, 18 de janeiro de 2021]

Assim que cheguei à casa dos Sullivan na segunda-feira, puxei o urso de pelúcia gigante do banco de trás do meu carro e o analisei por alguns segundos em minhas mãos, como se tivesse decidindo se eu faria as pazes com ele ou daria meia-volta e o jogaria no lixo. Ele não me parecia amedrontador (não como Pimpom demonstrava ser), e era irônico pensar que seu tamanho era evidentemente superior àquele do urso satânico de Brenda.

Coitada da criança que teve a coragem de roubá-lo. Pegou o urso e ganhou de brinde várias assombrações.

— Se você começar a sumir do nada — sussurrei para o bicho fofo que eu segurava —, darei um jeito de me livrar de você também, ouviu?

Ele não disse nada: apenas me encarou com seus olhos verdinhos e proporcionais à dimensão da face. Que bom que você ficou quieto. Isso já é mais uma prova de que você não fez o download dos espíritos.

Caminhei em direção à casa dos Sullivan e, lá, toquei a campainha. Quem me atendeu foi Matheus — era um milagre ele estar acordado antes das oito. Tanto ele quanto Brenda frequentemente dormiam até tarde, e isso, para mim, era uma das melhores coisas que ganhei embarcando nesse emprego. Um babá que ganha apenas por passar a maior parte do dia vendo as crianças dormirem. Que demais!

— Demétrius! — Seus olhos se focaram no urso, e foi aí que o arregalar das sobrancelhas apareceu. — Que lindo!

Passei uma mão no cabelo.

— Obrigado. Olha que nem me arrumei direito hoje, hein?

Ele riu, dando-me passagem depois.

— Estou falando do urso.

Entrei na casa.

— Ah, ele também é lindo. Mas a melhor característica dele é que ele não pode mover os objetos dos lugares.

Matheus me olhou com confusão.

— O quê?

— Nada, amor, esqueça — murmurei, afagando sua nuca. Há algumas semanas, esse gesto só teria um propósito: fazer com que os pais do garoto me vissem acariciá-lo, assim eles notariam que sou um rapaz maravilhoso com crianças. Hoje, entretanto, minhas atitudes físicas e bondosas saíam naturalmente. — E seus pais?

Matheus caminhou comigo pelo corredor que nos levaria à sala.

— Estão conversando com meu irmão.

A surpresa me pegou desprevenido.

— Ah, é? — Fitei o garoto, curioso. — Sobre o quê?

Essa era a pergunta que eu fazia a mim mesmo ao colocar meu ouvido na porta da diretora nas vezes em que meus pais eram chamados lá. Eu ainda completava o pensamento com um "aposto que ela está dizendo mentiras sobre mim".

— Não sei. Eles não me deixaram ficar por perto.

Matheus deveria estar se sentindo como eu me sentia quando os adultos não me permitiam aproximar das outras crianças que brincavam na rua em frente de casa, pois eles sabiam que a brincadeira iria terminar com alguma delas sendo machucada ou com todos os brinquedos sendo furtados por mim.

— Entendi.

Com certeza tinha relação com a mãe biológica de Júnior.

Pude ter a confirmação sobre isso assim que cheguei à sala, onde pude ver os três juntos — já era surpresa saber que meu futuro namorado estava aqui, e essa admiração foi ampliada ainda mais no instante em que meus olhos notaram que ele abraçava seu pai. Escutei Michael murmurar alguma coisa para ele durante o abraço, algo como um pedido de desculpas.

COMO [NÃO] SER UM BABÁOnde histórias criam vida. Descubra agora