28 | A verdade

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[Sexta-feira, 15 de janeiro de 2021]

Como prometido (ai, que saco!), depois que saí da casa dos Sullivan na sexta, decidi ir a uma loja de brinquedos no centro da cidade só para comprar um urso de pelúcia para Brenda. Sempre odiei fazer promessas, por isso nunca deixei de cruzar os dedos ao prometer à minha mãe que estudaria para as provas bimestrais da escola. Houve um dia em que jurei que me comportaria o suficiente para que nenhum diretor chamasse os meus pais e dissesse a eles que, definitivamente, eu era uma prova vívida de uma atividade paranormal. No dia seguinte, porém, fui expulso da escola pela quinta e última vez.

Depois disso, falei a mim mesmo que só prometeria as coisas se tivesse capacidade de realizá-las.

— Olá, boa tarde — uma atendente me cumprimentou no instante em que cheguei à loja. — Posso ajudá-lo?

— Oi, boa tarde. Pode. — Abri um sorriso gentil. — Aqui vende ursos satân... de pelúcia?

— Sim, vendemos. De todos os tamanhos.

Foi isso que ouvi quando comprei vibrador para minha vó.

— Perfeito. — Bati palma uma vez. — Sabe me dizer quantos deles não possuem parentesco com a Annabelle ou... com o Chuck?

A moça franziu o rosto.

— Como?

— É que estou procurando por um ursinho que não tenha pacto, sabe?

Ela ficou ainda mais confusa.

— Pacto?

Aproximei meu rosto dela e usufruí da minha atitude que contaria um segredo em tom baixo.

— Seguinte: sou babá em uma casa aí, e a filha do casal onde estou trabalhando tinha um urso que amava o número 666, se é que me entende...

A moça ergueu as sobrancelhas, provavelmente assustada.

— Ah...

— Pois é. O bicho mudava de lugar sozinho, dá para acreditar? Que loucura, né?! E ele ficava... me encarando o tempo todo com aqueles malditos olhos gigantes, como se a qualquer momento fosse me esfaquear ou... fazer algo bem pior, como... sei lá... dizer que não sou gostoso. — Suspirei, sentindo meu corpo arrepiar com a última ideia. — Então, precisei salvar a vida da menina, claro, e fiz isso jogando o urso para bem longe da casa dela. E agora estou precisando presenteá-la com outro urso, só que sem o capiroto incorporado dentro. Se você puder me oferecer isso, ficarei muito grato.

A mulher me observou com a mesma expressão que as irmãs da igreja usavam quando eu dizia que também sabia falar a língua dos anjos, mas só daqueles que moravam lá embaixo.

— Entendi... — Ela me mostrou um sorriso alegre e confuso. — Pode ficar tranquilo, pois todos os nossos brinquedos da loja estão livres de qualquer ameaça maligna.

Um sorriso muito satisfeito apareceu no meu rosto.

— Era exatamente o que eu estava procurando.

No fim, acabei escolhendo um urso de pelúcia rosa de um metro de altura — sem exageros, Ariel, ele tocava a minha cintura. Além de grande, era fofo, com vários pelos que me fariam querer deitar sobre ele e dormir, e muito bonito, de modo que os olhos fossem proporcionais ao formato do rosto (o que não acontecia com o Pimpom). A barriga do urso continha uma tonalidade azul-bebê.

Quando cheguei em casa, deixei o bicho de pelúcia na minha cama, saí do meu quarto por dez segundos, ficando em total silêncio do lado de fora, e entrei nele de volta. Por que fiz isso? Para confirmar que o urso não mudaria de lugar ou viraria seu rosto em uma região diferente daquela que deixei seu rosto orientado. Ao notar que ele continuou como estava, relaxei meu corpo e soltei um "graças a Deus que você permaneceu parado".

COMO [NÃO] SER UM BABÁOnde histórias criam vida. Descubra agora