Segunda-feira, local e surpresas.

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Depois de ficar com a maldita música na cabeça durante todo o dia, acabam as aulas e vou à sala dos professores pra ver o que deixar e o que levar pra casa e ouvir eventuais avisos. Enquanto isso, decido o que fazer nessa linda segunda-feira, o dia em que o corpo e a mente resistem à rotina até o último minuto.

Isso também é um comportamento atípico na vida que eu levava antes dessa preguiça - também conhecida como a vida que eu levava antes de ser abandonada. Antes, eu era uma otimista irremediável, e talvez eu ainda seja. Antes, segunda era um dia a menos na contagem dos dias que me separavam do meu sonho. E agora? Agora a segunda-feira é só um dia a mais nos meus dias a menos em direção a lugar nenhum. E terça também. E quarta, quinta, sexta, sábado, domingo - e se inventarem um décimo dia na semana, ele também será.

Resolvo ir para o local. Local é o meu pub favorito. É assim que as pessoas chamam seus pubs favoritos.

Antes de finalmente fechar meu armário e ir para o estacionamento, vejo alguns trabalhos que esqueci que deveria ler. Não me irrito com isso. Esse tipo de coisa me acalma. Sim, me chamem de louca! Pego todos os trabalhos, não me importando de lê-los no Local, já que é segunda e lá deve estar vazio.

Estou quase alcançando meu carro quando ouço alguém gritar.

- Professora Lauren! - Vejo um aluno correndo ao meu encontro.

- Sim? - Respondo arqueando uma sobrancelha de forma interrogativa.

- Bem, é que eu não pude entregar meu trabalho na semana passada - ele diz respirando um pouco pesado porque correu para me alcançar -, e eu não tenho uma desculpa boa, sabe? Só fiquei um pouco gripado e estava atolado de trabalho, praticamente explorado - diz com as esperanças escassas.

Olho para ele. Fico o analisando por alguns segundos e lembro que sempre foi bom aluno, porém com uma vida super corrida. Sorrio e penso que seu trabalho deve ser um dos que valem a pena ser lidos.

- Bom... - esqueci o nome dele, mas que merda - Confesso que não lembro seu nome, mas lembro de você como aluno. Espero que parem de te dar tanto trabalho para que você possa ficar em dia com as atividades acadêmicas - ele desanima totalmente, mas vejo um brilho no seu olhar quando estendo-lhe a mão pedindo seu trabalho. - Mesmo atrasado, será um prazer ler o que fez. Espero que você não me decepcione - ele fica tão feliz que parece que vai me abraçar, porém se contém.

- Obrigado, professora, de verdade. Vou fazer o máximo pra conciliar tudo. Ah, meu nome é Johnah. Não vou mais atrapalhá-la. Desculpe e obrigado mais uma vez - ele aperta minha mão e sai.

Fico parada pensando que talvez tenha feito meu papel hoje. Sabe, o papel de fazer alguém feliz ou algo parecido com isso. E me sinto realizada, de certa forma. Sorrio e procuro as chaves do carro dentro da minha bolsa.

Depois de destravar o alarme do carro, entro e quase ligo o som, mas lembro do mau humor e desisto dessa ideia. Sim, eu vou ficar sem escutar música por não saber lidar com as lembranças que elas trazem. Isso é triste, eu sei. Mas acontece.

Dirijo em direção ao Local. A cidade está toda iluminada nesse escuro e quase parece calma, não fosse tanta gente indo de lá pra cá e fazendo tanto barulho. A vida nas grandes cidades nunca é silenciosa, nós batalhamos tanto pra viver uma vida barulhenta e ainda conseguimos ter fobia do estrago que fazemos. Esse pensamento me faz balançar a cabeça negativamente.

Após alguns sinais, estresses, motoristas imprudentes, pedestres loucos e um pouco de engarrafamento, finalmente chego ao Local. E está vazio mesmo, como eu previ. Sento-me à mesa de sempre - no fundo do pub, num canto meio afastado. Espero um pouco, pois não sei o que quero beber ou se quero beber algo com álcool. Por fim, me dirijo ao balcão e peço uma gim com água tônica, só pra distrair e ajudar seja lá no que for.

Sento-me à mesa, definitivamente, pego os trabalhos e começo a lê-los. Há alguns realmente muito bons, mas outros prefiro nem tentar adjetivar. Gosto tanto de saber como é a percepção dos meus alunos que acabo me perdendo em seus trabalhos. Depois de algum tempo volto ao balcão para pegar outra gim com água tônica. Mas quando me viro para voltar à minha mesa, eis uma surpresa: uma mulher de 1,60 m aproximadamente, cabelos castanho-claro, olhos da mesma cor e pele morena entra no pub colada com uma mulher com mais ou menos sua altura, branca, cabelos longos e sorriso largo. E eu? Eu me sinto tonta parece que o mundo está girando em torno de mim.

Bittersweet Discoveries (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora