Acordo com o despertador do meu celular que é uma música calma. É, eu não gosto de acordar com músicas agitadas, isso me dá dor de cabeça. Falando em dor de cabeça, a minha parece que vai explodir de tanta dor. Minha boca está com um gosto horrível, parece que algo não esteve bem noite passada.
Viro-me para desligar o despertador, mas fico imóvel no mesmo instante. Não havia percebido o peso sobre meu peito. Há uma cortina de cabelos castanhos e lindos por cima de mim. Meu deus, quem é essa mulher? O que eu fiz noite passada? E é nesse momento que passo a sentir a falta de algo. Olho em volta e vejo que não reconheço o lugar. É um quarto bem iluminado, com uma cortina clara na janela, ventilador de teto, um criado-mudo mogno, um guarda-roupa ônix de frente para a cama que só agora percebo ser de solteiro, o que faz com que a garota se deite quase toda em cima de mim.
Penso em acordá-la, já que minha memória ainda está dormindo. Mas no momento que paro para analisar seu rosto fico encantada e desisto, pois quero apenas observá-la, por enquanto. Fico encantada com suas poucas sardas, mesmo que isso pareça muito idiota. Sua pele é corada naturalmente, meio amarelada meio bronzeada, e tão delicada que eu diria que é irreal se não a estivesse tocando.
Sinto algo estranho. Uma sensação muito forte. Então parece que algo começa a subir em direção à minha boca e eu saio do melhor jeito que consigo e procuro alguma porta que possa ser o banheiro, que fica no quarto, para minha sorte. Mal entro e vomito no vaso. Tudo queima por causa do álcool. Que sensação horrível.
Certo alivio passa por mim, mas é interrompido quando a sensação volta e vomito mais uma vez. Que merda, quanto bebi noite passada? Acho horrível ter essas amnésias pós-álcool, isso me deixa desnorteada, mas as memórias podem voltar se eu me esforçar. E é isso que começo a fazer: forçar minha memória.
Lembro-me de me aproximar da baixinha e beijá-la, me questionando a verdadeira razão daquilo. Isso faz com que eu me sinta uma cachorra, usei a baixinha só para fazer ciúmes em Lucy. Que estúpido! Se ela sentisse ciúmes de mim, estaria comigo e não com a patricinha do corpo bem-definido. Será que só sei fazer merda?
Não tenho tempo de auto responder, já que vomito novamente. Vamos lá, preciso saber o que aconteceu depois do beijo. Quer dizer, como aconteceu. Bem, o beijo. Calor, é disso que me lembro, que a baixinha é quente como o inferno - péssima comparação, já que ela parece um anjo ou algo assim. Sei lá, viu.
Então depois mais bebida, mais beijos, mãos nada bobas. Eu estava fora de mim. Alcoolizada, magoada, abandonada, sentindo como se estivesse só eu no mundo. Isso que aquela mulher causa em mim, só coisas ruins - pelo menos agora. Meus olhos começam a arder. Não, não vou fazer isso.
Tá, depois das mãos nada bobas minhas e da baixinha, ela me trouxe para cá e... Meu deus! Sim, isso mesmo! E agora o mundo pergunta: Lauren, como você conseguiu? E eu não sei, porque estou me perguntando o mesmo. Sei que meus pensamentos de tirar as roupas daquela mulher se tonaram fatídicos. Mas é horrível, de certo modo, já que não consigo me lembrar direito como foi.
Abro a torneira, jogo água no rosto, vejo um reflexo na parede. Sim, um espelho. Estou acabada. Sinto um cansaço, uma dor de cabeça imensa, uma culpa perversa. Perversa porque não me arrependo do que fiz, mas ainda assim não foi certo - não de todo. Enxáguo minha boca, pois passou minha vontade de vomitar. Por fim, saio do quarto para ver que a baixinha já acordou e me encara com seus intensos olhos castanhos.
- Bom-dia - tento e estampo um meio sorriso.
- Bom-dia - mas que voz linda, delicada. - Você está bem?
- Hum, sim. Só estou com uma dor de cabeça, acho que você já deve saber - não sei como reagir, alguém me salve de mim.
- Claro, você bebeu praticamente todas as bebidas do pub - ela sorri da minha idiotice.
- Meu deus! Não acredito.
- Pois acredite. Você estava incontrolável - ela levanta uma sobrancelha e acho que não era só com a bebida, o que me deixa um pouco envergonhado.
- Hum... - acho que não sei mais falar. Ouço um click na minha cabeça e um leve desespero toma conta de mim. - Meu deus, minhas coisas. Eu as peguei?
- Ah, sim. Estão no seu carro. E suas roupas estão secando. Não sei se você se lembra de ter pegado alguns minutos de chuva.
- É, lembro - agradeço por não estar resfriada. - Desculpa, mas não me lembro do seu nome - agora é a hora que um buraco se abre no chão e me suga para o núcleo da terra, por favor. E ela ri. Sim, isso mesmo, ri. E eu vejo como o sorriso dela encaixa perfeitamente no seu rosto.
- Ficamos combinados de que eu seria a Senhorita Lacinhos e que você seria a Olhos Verdes - confesso que isso me desaponta, mas não tenho tempo pra pensar nisso já que corro de volta para o banheiro.
Vem tudo queimando de novo. E de novo. E de novo. Até que a baixinha entra no banheiro e me olha com... Pena? Compaixão? Dó? Não sei. Ela se abaixa ao meu lado, passa a mão pelos meus cabelos e me olha como quem pergunta se pode fazer algo para me ajudar. Não pode, apenas aceno negativamente devagar, pois não quero vomitar de novo - como fosse adiantar.
E assim foi meu dia: trancada com uma baixinha num apartamento, vomitando até a alma, mas ainda assim encontrando um minuto para avisar que não poderia dar aula hoje. Não aguentava mais, meu estômago já doía, estava fraco por não ter comido nem bebido nada que não vomitasse dois minutos depois. Resumindo, estava um caco. E, não sei por quê, a baixinha cuidou de mim como pôde e não me expulsou - eu certamente merecia.
- Eu preciso sair - ela disse lá pelas tantas da noite.
- Eu posso ir para casa, não quero mais te atrapalhar - falei.
- Fique aqui até ter certeza disso, não seria legal mais outro imprevisto - ela disse de um modo amável, eu acho.
- É sério. Só preciso jogar uma água no rosto - não dei tempo dela responder, apenas levantei e fui ao banheiro, tinha parado de vomitar havia umas duas horas. Não era justo continuar impedindo a pequena de fazer o que precisava. - Bom, estou indo. Não tenho palavras para te agradecer. Obrigada, mesmo. Boa-noite - disse já na porta.
- Tudo bem. Boa-noite. E se cuide - e eu juro que senti vontade de me cuidar mesmo naquele instante.
Desci de elevador, óbvio, entrei no meu carro e não liguei o som novamente. No caminho para casa repassei a noite na cabeça e me doeu o peito. Lágrimas insistentes se formavam nos meus olhos e queimavam minha garganta. Também me lembrei da baixinha, o que fez um sorriso brotar no meu rosto. E seu sorriso sapeca não saia da minha cabeça enquanto me direcionava para casa.
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Bittersweet Discoveries (Camren)
De TodoEssa fic é uma adaptação, a original é de uma amiga minha, mas como amigos são lindos ela me deixou adaptar... Enfim, Sem mais delongas né. Tem dia mais preguiçoso que segunda-feira? E uma segunda-feira cheia de lembranças de um passado que você de...