Bittersweet Discoveries (Camren)

Culpa

"ALGUÉM LÊ TA LENDO ISSO AQUI? Me da uma luz pra saber se eu continuo ou não. Enfim vamos ao q interessa."

Meu celular desperta às 6h, como de costume, mas ainda me sinto cansada. Não durmo novamente, apenas fico deitada pensando que seria infinitamente melhor ficar em casa, o que não posso fazer até que chegue o sábado.

Ontem cheguei por volta das oito da noite e dormi antes das nove. Fazia dois meses que não bebia tanto, e não sinto falta disso, mas quando se trata de Lucy meu autocontrole vira pó em questão de segundos. Ainda mais se contar o fato de que ela veio falar comigo e que vi o motivo pelo qual ela me deixou.

Não consigo por meus pensamentos em ordem, muito menos me animar. Acho que hoje o dia vai ter uma puta cara de segunda-feira, mesmo que já seja quarta. E isso me desanima ainda mais, porque relembrando minha segunda-feira já me vem uma vontade de me esconder. Mas que covarde eu sou.

Finalmente tomo meu banho, escovo meus dentes, me visto e vou fazer algo para comer. Mesmo pensando tanto em Lucy, vejo uma baixinha em meio aos meus pensamentos. É, a Senhorita Lacinhos - meu deus, que apelido idiota. Eu queria muito saber seu nome, mas nem pude insistir e ainda fui babaca o bastante para não pedir seu número. Talvez deva ser assim mesmo.

Dirijo para o campus sem música ainda. Que infantil isso. Por que não troco as malditas músicas? Estou começando a ficar estressada com isso tudo, como se não bastasse ficar deprimida. Obrigada destino.

Minhas aulas são calmas, como sempre. A única mudança no meu dia é que a baixinha também ficou nos meus pensamentos durante bastante tempo, disputando espaço com Lucy e sua... e sua... sua namorada. Mesmo que não esteja falando e apenas pensando, isso me dá uma sensação como um gosto amargo na minha boca.

No fim do dia passo pela sala dos professores. Entro no carro e penso se vou direto para casa, mas me vejo querendo ir para o local. Se pensou que é por causa da baixinha, acertou. Acho que errei com ela, que a usei. Não sou assim, de verdade. De forma inconsciente, pensei nisso durante todo o dia. Usar uma mulher para tapar o buraco que outra deixou, isso não parece certo nem de longe, imagine de perto. Culpa: é isso que sinto.

Chegando ao local peço uma gim com água tônica e vou ler os trabalhos restantes. De vez em quando olho para os lados na esperança de ver a pequena. E sempre me frustro.

Acabo criando uma rotina nova: levantar, trabalhar, ir ao local, voltar para casa. Durante o final de semana não consigo acordar muito mais tarde, mas também não tenho o que fazer. Resolvo ir ao supermercado comprar algumas besteiras, porém quando estou saindo eis uma surpresa: bato de frente com certos Lacinhos.

POV Baixinha

No dia seguinte acordo às quatro da tarde. Logo vou tomar um banho quente, escovar os dentes e fazer meu almoço-lanche. Alguém passa pela minha cabeça insistentemente, mas sempre afasto o pensamento. Como em silêncio, já que moro sozinha. E lá vem o pensamento de novo, mas dessa vez não consigo afastá-lo.

Penso na Olhos Verdes, seus olhos num contraste estranho entre verde e azul, seu jeito perturbado naquela noite. Ao acordar ela se mostrou ser uma pessoa bem calma, apesar de ter vomitado durante todo o dia. Ela pode ser o tipo de pessoa que preciso por perto, mas não posso. O que eu tô pensando? Cada ideia que passa nessa minha cabeça. Apenas a usei para me divertir. Não devia ter feito isso, então é melhor não fazer outra vez. Foi errado, digo a mim mesma. E sinto uma espécie de culpa sobre isso, mas nada posso fazer agora.

Não faço nada de importante durante todo o dia. Apenas janto, me arrumo e saio. E essa é minha rotina todos os dias. Sempre tenho vontade de desviar meu caminho e ir ao pub, na esperança de que a Olhos Verdes esteja por lá. Seguro o impulso de fazer isso e afasto-a de meus pensamentos. Isso não é o certo a se fazer, melhor ficar longe.

No sábado, vejo que preciso comprar algumas coisas e, já que acordei ainda de manhã, aproveito e vou supermercado. Só não contava com a surpresa que me aguardava: dar de cara com uma mulher dos olhos encantadores.