Olhos marejados POV Baixinha

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Que tal vocês começarem a comentar pra eu saber se algum ser vivo lê essa loucura aqui? Enfim, VO deixar vocês com a leitura XXX

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- Você tem que ser forte, querida - dizia minha mãe quando eu me machucava enquanto brincava.

- Mas tá doendo, mama - choramingava.

- Logo, logo passa, meu amor, e você volta a correr e pular por todo canto - ela sorria e eu achava aquele sorriso tão perfeito. Até onde consigo me lembrar, minha mãe tinha os dentes todos alinhados, brancos como as nuvens dos dias de sol. Um sorriso que parecia poder curar as dores dos meus machucados.

- Mama? - Olhei para ela traçando um plano na cabeça e me esquecendo dos machucados.

- Sim? - Ela me olhou com atenção.

- Posso ter um cachorrinho? - Pedi com uma voz cheia de manha. Era minha tática mais usada.

- Podemos conversar sobre isso com seu pai - respondeu me dando esperança e eu sorria como se ela tivesse me dito um sim, em vez de um talvez.

Essa memória me vem à cabeça pouco antes de eu dormir. Mais cedo tomei café da manhã com Lauren. Tivemos uma conversa confusa. Falando assim até parece que não gostei de estar perto dela, de ter sua companhia. Muito longe disso. A verdade é que eu gosto demais da sua companhia. E isso é muita coisa, mas certo não é. Não pra mim. Não agora. Talvez se fosse há um tempo ou daqui a algum tempo. Mas agora não dá.

Fica parecendo que sou uma insensível quando na verdade sou sensível até demais. Repito: gosto demais da companhia dela. Aí que tá errado. Gosto do jeito calmo dela. Gosto da confusão que faço na mente dela só por não dizer meu nome. Gosto da forma como ela tem a ver com uma promessa e ao mesmo tempo não tem. Gostei de saber que ela esteve me procurando. Esse pensamento me faz sorrir. Isso também está errado.

Não posso deixar que ela tenha a esperança de se aproximar de mim, de curar sua dor com minha ajuda - e também não posso ter essa esperança. Simplesmente não posso fazer isso. Não consigo curar nem mesmo minhas dores e tem muito mais coisas envolvidas nisso, entre mim e ela. E eu não posso me livrar delas de uma hora pra outra. Quem dera pudesse.

Constantemente penso em como desejo que tudo fosse diferente. E lembro que não é minha culpa, pelo menos não de todo. Às vezes não temos escolhas sobre o que nos acontece, apenas sobre o que faremos depois disso. Tive escolhas muito limitadas e cruéis. Não sei se me arrependo de tudo, sei que dói sempre. Não é de vez em quando. Não é dia sim, dia não. Não é só algumas horas por dia. É sempre. Sempre. E sempre quer dizer que é dia e noite, eu estando acordada ou não.

Não percebo, mas estou chorando. Ultimamente é tudo que pude fazer: chorar. Choro como um bebê que se vê sozinho, como uma criança perdida no meio de uma multidão. Não consigo parar, apenas chorar mais e mais. Até que por fim durmo. Mas meu sono é agitado e perturbado. Odeio isso. Já durmo pouco, se dormir mal não vou conseguir me manter.

Acordo e já está na hora de jantar. O problema é: dormindo não dá pra fazer o jantar. Arrasto-me da cama, tomo um banho longo e quente e finalmente me encaminho para a cozinha. Olho as opções e opto por fazer algo simples mesmo.

Fico vendo tv até quase dez da noite, me arrumo e saio.

No domingo chego exausta. Apenas tomo um banho rápido e vou dormir. Só não contava com a grande sorte de sonhar com meus pais. Sonhar? Ter pesadelos, eu quis dizer. Pesadelos tão horríveis que acordei gritando, suada e com a respiração entrecortada.

Toc,toc,toc.

Tento associar o som que ouço a algo e, plim!, é alguém batendo na porta. Mas eu não conheço ninguém tão bem a ponto de receber uma visita surpresa. Quer dizer, só Dinah. Se fosse ela o porteiro teria me avisado.

Faço um esforço pra sair da cama e vou arrumando o cabelo enquanto caminho em direção a porta. Pelo olho mágico vejo o sindico.

- Seu Raimundo - digo acenando a cabeça.

- Está tudo bem com a senhorita? Os seus vizinhos disseram que ouviram gritos - diz preocupado, eu acho, se é comigo ou com a ordem do prédio eu não sei.

- Desculpe. Está sim. Apenas tive um pesadelo.

- Bom, qualquer coisa pode pedir ajuda. Vou indo - eu sabia que não devia ser preocupação comigo. Que velho insensível!

Balanço a cabeça negativamente, como se o velho ainda estivesse aqui para ver o quanto desaprovo sua insensibilidade. Sorrio de mim mesma e fecho a porta para me jogar no sofá da sala.

Começo a me sentir estranha. Angustiada, é isso. Deve ter sido pesadelo. Sorvete deve ajudar, ainda mais se for de chocolate. Mas eu esqueci de comprar sorvete e não tô nem um pouco a fim de ir no supermercado.

Deito e fico encarando o teto. E a angustia vai aumentando. Aumentando. Que saudade da minha mãe. Queria alguém pra me fazer companhia. Sabe, essa coisa clichê de dar colo, mexer no cabelo, ficar falando pra distrair a gente. Sinto um nó tão apertado na garganta. Meus olhos marejam novamente. Não quero ficar só.

Olho as horas e dormi mais do que achava. Melhor eu dar uma volta. Jogo uma água no rosto e pego um casaco. O frio começou a chegar por aqui antes do tempo.

Andando vejo as pessoas na sua habitual correria, aproveitando o resto do fim de semana. Queria poder aproveitar também. Ir a um restaurante bacana ou ao cinema. Depois ficar olhando as estrelas e ir pra casa morrendo de preguiça de ter que acordar cedo na segunda. Mas na verdade eu durmo cedo na segunda, não o contrário. Minha noite é sempre curta, ao invés de longa e revigoradora, como a de muita gente.

Tiro essas coisas do meu pensamento. Já basta dessa angústia. Isso é horrível. Vou para casa, faço algo pra comer e depois me arrumo e saio.

De manhã não quero voltar pra casa. Fico olhando o sol nascer por cima do mar. Realmente gosto disso. Mas continuo me sentindo sozinha e angustiada. Isso não vai passar?

Passo os braços em volta de mim mesma, como se me abraçasse. Meus olhos marejam - deve ser uma das coisas que mais fazem atualmente. A solidão começa a ficar insuportável, como uma dor. Não preciso me sentir assim.

Pego meu celular, sem me importar se são seis, sete ou dez da manhã, e faço uma ligação. Preciso desesperadamente de uma companhia.

Bittersweet Discoveries (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora