Senhorita Lacinhos

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Fico totalmente paralisada com a visão que tenho. Lucy está mais linda que nunca e eu passo a entender porque me largou. Não há comparações entre mim e a Garota que a acompanha. Começando por seu corpo definido, sua postura ao andar, suas roupas de marca que devem custar mais que todo o meu guarda-roupa, seu relógio de ouro. Com certeza ela deve ser alguém bem-sucedida, muito bem-sucedida, coisa que se você comparar à minha profissão deve me tornar uma ridícula.

- Ei, garota! - Ouço alguém chamar. É o garçom. Olho para ele, mas só o vejo como algo distante.

Viro-me para frente outra vez e saio em direção ao banheiro, mas não antes de topar com alguém e derramar toda minha bebida recém-comprada em sua camisa. Ao encarar a pessoa para pedir-lhe desculpas, vejo que é a acompanhante de Lucy, e que ela me olha confusa e surpresa. Começo a andar e depois estou quase correndo, tanto que passo direto pela porta do banheiro e acabo saindo do Local.

Paro do lado de fora e algumas pessoas me olham com certo desdém. Fico parada por... Por... Merda, não faço ideia de quanto tempo fico parada. Quando volto a mim, percebo que estou encharcada até os ossos. Sim, está chovendo e, não, não é época de chuva ainda. Um resfriado cairia bem agora.

De repente me lembro. Lucy. Sua acompanhante. Gim com água tônica.

Engulo em seco. Preciso beber algo. Algo forte. Volto para dentro do Local sem pensar direito, peço um uísque sem gelo, puro e quente. Isso aí! Não olho a minha volta, apenas sinto o líquido queimar minha garganta e me aquecer. Quero que ela veja que é por mim e não por ela, nem por elas - mesmo que isso possa não ser verdade.

Mas que situação, meu deus! Peço qualquer coisa que tenha vodca - sim, aí vai a terceira bebida alcoólica da noite -, olho para minha mesa e... Adivinhem? Elas estão numa mesa próxima à minha. Contenho o impulso de voltar para a chuva e encaro todos aqueles trabalhos, pensando se poderei ler mais algum hoje.

Uma garçonete passa e eu peço que ela traga um drink. Qual? Qualquer um. Só preciso parar de pensar. Estou quebrando uma promessa pessoal nesse instante. Disse a mim mesma que não beberia desse jeito mais, pelo menos não por isso de novo. E o que estou fazendo? Pois é.

O drink parece evaporar. Mudo para a cerveja. Por quê? Porque odeio cerveja e talvez isso me traga de volta. Mas não traz. Sinto vontade de gritar até me faltar a voz e chorar até que meus olhos não se abram mais de tanto inchaço. O que eu faço? Peço uma cerveja de outra marca.

Mas dessa vez quem traz a bebida não é a garçonete, mas sim uma baixinha. A baixinha mais linda que já vi. Tem os olhos castanhos mais lindos que já olhei. Sinto um perfume doce, mas não tanto. Tem um quê de mistério. Seu sorriso é pacífico, mas sinto algo estranho nele, como se sua boca quisesse falar também, ao invés de só sorrir. Isso me faz querer beijá-la. E seu corpo não está exposto com roupas marcadas, o que me faz pensar jeitos de rasgá-las. Vejo sua regata jogada num canto, enquanto sua jaqueta voa para outro, no momento em que sua calça - maior que ela - vai sendo arrancada por mim e ela fica só com esse lacinho rosa e uma lingerie. Opa!, parece que saí do ar. Isso é o álcool, digo a mim mesma.

- Ei, aceita uma cerveja? - Só percebo que estou falando depois que a frase paira no ar.

- Não curto cerveja, Olhos Verdes - ela responde olhando em meus olhos que já estão um pouco fora de foco. Então vejo algumas sardas e sua pele corada pelo frio.

- Escolha outra bebida, então, Senhorita Lacinhos - ergo a garrafa encorajando-a.

- Quem sabe daqui a pouco, Olhos Verdes - provoca-me com um sorriso malicioso e vai em direção ao balcão para conversar com alguém. Fico desnorteada olhando seus cabelos e achando isso muito quente.

- Lauren? - Chama a voz cantada de Lucy, que não vi se aproximar. Olho para ela, mas não respondo. Por que ela não vai falar com a Patricinha? Por que não me deixa em paz? Por que a Senhorita Lacinhos não a expulsa daqui? Por que eu tenho que encontrar Lucy aqui?

Estou prestes a entrar num colapso mental. Quero mais um uísque quente.

- Preciso ir ao banheiro - minto e saio. Entro no banheiro e fico parada, apenas. Outra garota entra, mas volto para o pub e vou direto ao balcão, mas a Baixinha não está mais lá.

- Um uísque, por favor. Sem gelo.

- Por que bebe tanto, Olhos Verdes? - Diz a voz delicada da Pequena enquanto viro minha dose de uísque.

- Para ter coragem, Senhorita Lacinhos - olho para ela.

- Para quê? - Ela me desafia. Penso no que me faz querer ter coragem. Poderia falar tudo para ela e depois sumir. Poderia mesmo. Mas essa Menina me deixa muito quente, não quero falar de problemas com ela. Não hoje, quem sabe outro dia.

- Para provar outra coisa - jogo.

- Então vamos tomar uma dose de tequila para ver se sua coragem aparece - ela parece jogar de volta. Ou eu estou confundido as coisas?

- Pensei que não ia pedir nunca - aceno para o barman e peço nossa tequila. Sorrio maliciosamente para ela ao entregar-lhe sua tequila.

- À sua falta de coragem - ela brinda me desafiando.

- À minha coragem que está escondida nessa dose - eu acho, completo mentalmente e viro a dose de tequila. Depois disso me aproximo dela, estamos em pé, então não é difícil, a puxo pela cintura, olho para seu pescoço, louca para sentir seu cheiro mais de perto, mais forte, aproximo meu rosto e cheiro e beijo seu pescoço fazendo uma trilha de beijos que passa do pescoço à mandíbula, bochecha e, finalmente, sua boca. Por um momento penso que estou a usando para enciumar Lucy, mas essa mulher é totalmente quente, não consigo acreditar que seja apenas isso.

Bittersweet Discoveries (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora