Desculpas e perdões?

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Estou enganada, não pode ser.

Fico muda, paralisada, atônita e todos os outros adjetivos semelhantes a esses. Pisco repetidas vezes para me certificar de que estou realmente acordada. Sento-me na cama, me sentindo desconfortável.

Puta merda.

- Lauren - ela repete, diante da minha falta de resposta. Mas tudo que consigo é fazer um som tosco com a garganta. E isso parece encorajá-la. - Eu queria saber se você está bem, Lolo.

Lolo? L O L O!? Estou ouvindo errado. Sim, estou.

- Desculpa - digo sem jeito -, sua voz parece muito com a de uma... - e ela me corta antes que eu termine.

- Porque é. Você estava dormindo? - isso é uma pergunta retórica, espero. - É que eu realmente quero saber se você está bem.

- Você? - Uma mágoa começa a emergir junto com alguma raiva. - Olha, não precisava me acordar antes das seis da manhã, ANTES DAS SEIS da manhã, está entendendo que É ANTES DAS SEIS HORAS DA MANHÃ? Não precisava me acordar antes da seis só pra zombar da minha cara e ficar cutucando minhas feridas. Você está entendendo? - Esbravejo totalmente indignada e fora do meu normal.

- Eu não es... - atrapalho.

- Não? Quem foi que fez essa maldita ligação?

- Não foi a intenção - ela responde parecendo perplexa com algo, talvez meu comportamento "estranho".

Puta que pariu. Puta que pariu mil vez. Sinto vontade de bater em algo até ver o sangue escorrer de minhas mãos. Quero gritar de tanta mágoa, tanta dor.

Não respondo. Fico apenas respirando pesado e pensando mil coisas. Que vontade de lavar a roupa suja. Suja não, imunda.

- Laur? - Chama de novo.

- O que foi, Lucy? O que você quer de mim? Me diga! Eu te dei tudo que tinha, Lucia. TUDO. Você lembra do que você fez? - ela tenta m interromper, mas finjo que nem ouvi. - Vou te lembrar o que você fez. Você não fez! Eu esperei cada maldito dia pra te ver, esperei a maldita hora que te veria subir no altar, vestida de branco, deslumbrante, maravilhosa, como eu sei que estaria, esperei apenas que você me amasse de volta. E o que você fez? Você ficou com outra enquanto eu fiquei aqui construindo uma merda de uma vida perfeita pra nós. Foi isso que você fez. Você lembra?

Quando acabo de falar estou praticamente sem ar, totalmente arrasada, quase chorando. 

- Desculpa - solta num murmuro quase inaudível.

- É isso que você queria me dizer? Desculpa? Peça desculpas pra você, não pra mim - sinto-me endurecer por dentro. Passo a mão livre pelos meus cabelos e rosto.

- Perdão, Laur - diz e sua voz parece pastosa beirando o choro.

- Lucy - digo, como se apenas estivesse chamando o nome dela. Dizer seu nome deixa um azedume em mim. Sinto uma dor me rasgando de dentro pra fora. Desesperador.

- Oi - ela engole em seco, dá pra ouvir.

- Me deixe em paz - e desligo.

Caio na cama e meu corpo parece afundar. O mundo parece escuro. Sinto meu corpo pesar com uma âncora que cai nas profundezas do oceano. Uma dor lancinante atinge minha cabeça. Acho que vou enlouquecer.

Sinto vontade de apenas desaparecer ou esquecer tudo. Só isso.

Então me vem uma pessoa à cabeça. Uma pessoa a qual não posso entrar em contato ao menos que ela mesma me ligue. Quem pensou na Baixinha acertou.

Sem perceber me levanto e vou saindo de casa. Pra onde? Fazer o quê? Com que propósito? Só deus sabe.

Caminho. Caminho muito. Caminho sem rumo. Não consigo nem lembrar que devo dar aula hoje. Se bem que é capaz de eu nem lembrar meu nome, de tão grande que é meu entorpecimento.

Caminho. Caminho. Caminho. E continuo caminhando. Pra lugar nenhum.

De repente vejo o mar e o fim do nascer do sol colorindo o céu. É tão bonito. É tão triste. Tudo é tão sem sentido.

Estou no fundo do poço de novo, penso. Maldita mulher. Maldito amor. Maldita vida. Fico assim resmungando mentalmente até que vejo algo familiar. Não pode ser. Paro, olho pro céu e penso "cara, você é um sacana".

Bittersweet Discoveries (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora