Promessas e impossibilidades POV Camila

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O nome de Dinah aparece no visor do meu celular. Sei que ela deve estar saindo do pub agora. Quer dizer, digo pra mim que está, mas nem mesmo olhei que horas o relógio marca.

- Dinah - digo com a voz arrastada depois dela dizer alô.

- Oi, Camz - parece ser a voz dela de sono, mas vou fingir que não sei disso.

- Preciso de você - abro o jogo sem rodeios e ela suspira profundamente.

- Onde você está?

- Na praia, perto daquele prédio que a gente sempre fala que é bonito. Lembra? - sim, eu sou péssima de descrições, ainda mais quando tô assim.

- Acho que sim. Tô indo.

- Dinah - faço uma pausa e ela continua calada esperando eu terminar a frase -, obrigada, de verdade.

- Não me agradeça, você vai ficar me devendo uma lasanha daquelas - e desliga.

Fico olhando o mar ir e vir calmamente. Não tem ondas hoje. Eu gosto de ondas. Vejo elas como algo filosófico, metafórico, sei lá. Se formam no meio do nada e vão ganhando força e mais força e, bum!, se jogam contra o que vem na frente, morrendo na praia repetidas vezes, incansavelmente.

Esse pensamento me deixa meio triste. É como se eu fosse uma onda que já perdeu a força e demora demais pra encontrar um fim - ou um recomeço, vai saber.

De repente, me lembro da promessa que fiz a mim mesma anos atrás. E fico mais triste ainda, porque mesmo agora que posso cumpri-la, me sinto incapaz também. Como se eu quisesse muito chocolate, o comprasse, mas não conseguisse comer - ok, comparação de merda. Foi a Lauren quem me fez lembrar disso. Ela é, como eu posso dizer? Ela meio que tem o que eu prometi. Não 100%, mas metade. Ainda assim é alguma coisa. Um sinal. Sei lá. Me dá uma puta vontade de largar tudo e cumprir o que prometi.

- Eiiii! Planeta terra chamando! - Dinah balança as mãos na minha frente pra me tirar do meu transe.

- Tava pensando. Desculpa.

- Obrigada por me dizer, miss óbvia - ela sorri e eu até que me sinto melhor.

- De nada. Sempre bom avisar - olho divertida para ela.

- E aí, como você tá? - É como se fosse uma pergunta retórica, já que ela sabe que não tô muito bem.

- Pula essa - respondo.

- O que houve? Algo deu errado essa noite? - pergunta preocupada.

- Tô me sentindo... - faço uma pausa como se fosse difícil dizer isso até mesmo para ela - me sentindo só.

Ela simplesmente me puxa pela mão e me abraça. É como se o mundo tivesse um lugar pra mim, mesmo que momentaneamente. E aí vem uma enxurrada de sentimentos ladeira abaixo. E eu me sinto horrível, pra variar.

- Sabe - Dinah diz após um tempo -, lembrei daquela garota que saiu com você semana passada. Segunda-feira.

- Quem? A Lauren? - óbvio, só pode ser.

- Então ela se chama, Lauren? Ela mesmo - me olha decidindo o que falar. - Sabe, ela foi ao pub todos os dias depois da segunda. Quer dizer, menos na terça e no sábado - essa informação me deixa surpresa e não sei mais o quê.

- Foi? - me sinto meio... feliz?

- Sim, foi. Vocês... estão tendo um romance? - Essa pergunta me faz rir muito. Romance?

- Olha pra quem você tá perguntando isso - respondi ainda rindo daquilo.

- Apesar de tudo, não é impossível - rebateu.

- Não dá - prendi o ar, não me sentindo muito bem. - É confusão demais. Não posso deixar tudo duma hora pra outra nem deixar ela no meio disso.

- Tá, mas e o que você quer? - soltei todo o ar que estava segurando e me senti realmente mal, de novo.

- Sabe, eu fiz uma promessa há alguns anos - ela me olhou esperando que eu continuasse. - Uma promessa muito boba, só pra tentar me livrar desse tipo de confusão amorosa. E eu nem sabia o que estava por vir pouco tempo depois - paro de novo, me sentindo meio amarga. - A Lauren tem um pouco a ver com isso. Um pouco do tipo metade. Um pouco que meio que me tira a paz. Mas, Dinha, eu não posso - afirmo triste. - Nós duas sabemos que agora não dá.

- Isso tá te fazendo perder muitas coisas Camila. Sério. Olha pra você aí querendo pensar num futuro. Ou pior, pensar no presente. E não pode. E por quê? Por causa disso. Você tem que dar seu jeito. É sério. Você pode contar comigo. Você sabe que pode - diz parecendo meio desesperada por mim -, você tem que ser feliz, não dá pra adiar isso pra sempre. Olha pra você! Você já tá com 21! Daqui uns dias vai ficar tarde pra algumas coisas.

Fecho os olhos, como se eu pudesse sumir do mundo por uns instantes e voltar depois com todas as soluções. Mas não é assim. A Dinah sabe que eu tô dividida e quer me ajudar. E ela não tá falando só da Lauren. É da vida como um todo. Não sei o que fiz pra tudo ficar assim, penso balançando a cabeça, não sei.

Sinto uma sensação estranha. Aquela sensação de quando estamos sendo observados. Levanto os olhos e adivinha? Isso aí. Dizem que quando é verdade o capeta aparece... Ok que quem me apareceu não foi o dito cujo, mas sim alguém bem melhor. Alguém bem melhor que começou a andar confiante em minha direção.

A Dinah me lançou um olhar animado.

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A Lauren tem uma voz que... meu deus... não sei explicar. Aquela voz rouca, melodiosa, calma, descontraída. E a música? Alguém fez pra nós, pra nossa situação totalmente fodida - que ela não sabe quão fodida é.

Claro que deixei ela me arrastar pra cá e ela me tomou pra ela de um jeito tão convicto, como se precisasse daquilo. E eu, mesmo querendo evitá-la, acabei perdendo todo autocontrole, claro. Como não perder? Não estou reclamando, só não é o que devo fazer se quiser afastá-la disso.

O modo como ela me olha me faz sentir culpa, como da outra vez - ou pior. Não mereço esse jeito todo... sei lá, toda atenciosa que ela inventou de me olhar. Não mereço as notas que saíram do violão dela. Não mereço essa maldita música que fala de nós. Não mereço a melodia que a voz dela faz ecoar dentro de mim. E não mereço o beijo que ela está prestes a me dar.

Bittersweet Discoveries (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora