Ligação

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Volto para casa, a morena e a baixinha disputando pra ver quem me deixava mais confusa.

Resolvo que vou procurar novas músicas. Já chega desse silêncio. Preciso me distrair. Abro meu notebook e já vou indo até a página do youtube. Vamos ver se indie ajuda. E aí vou procurando bandas e bandas e acabo ficando nessa tarefa por horas.

Como perdi o almoço, acabo caprichando no jantar. Abro um vinho, mas pra aproveitar, não pra exagerar e perder o rumo - apesar de que perder o rumo em casa não deve ser tão ruim. E nisso se vai mais algum tempo. Tempo em que não sei se lembro dos meus fins de semana com Lucy ou se penso como seriam meus fins de semana com a Baixinha.

A Pequena... Queria ter um jeito de descobrir a vida da pessoa só pelo rosto. Me daria bem, já que ando meio que decorando cada coisa na baixinha. Hoje mesmo, descobri que ela pode ser petulante e imbatível. Isso poderia ser quente, se ela não estivesse usando para me afastar. Por que penso tanto naquela cabeça garota?

É isso que faço no meu fim de semana: penso na pequena e em Lucy - acho que exatamente nessa ordem.

Quando a segunda-feira já está a um passo dessa professora, a mesma acaba tentando se divertir procurando qualquer coisa engraçada pela internet. E até que dá certo. Vou dormir mais tarde que o habitual, já que uma certa garota pequena e linda faz com que eu demore mais para dormir - ok, não é ralem si e sim essa minha mania de pensar nela, e em Lucy também. Ai ai, Lauren, você é um caso sério, penso e durmo.

Meu sono é inquieto, fico me mexendo e acordo várias vezes durante a noite - o que é atípico. Mas quando é lá pelas 3 ou 4 da madrugada consigo ensaiar um bom sono.

"Estou indo busca-la e estou atrasada. Acelero, tenho pressa, não quero decepcionar, mesmo que tão pouco. Seu prédio não está longe, mas me sinto estranha. Quando chego lá, ela já está me esperando e conversando com o porteiro.

- Bom-dia - desejo.

- Bom-dia, Srta. Atraso - sorri irônica, o que me faz sentir culpa até que vejo diversão por trás de seu sorriso.

- Bom-dia, garota - responde o porteiro. Sorrio para ele, passo a mão em volta da cintura da Baixinha e a levo para o carro.

Saímos em direção à praia, conversando animadamente. Eventualmente, ganho beijos na bochecha e outros carinhos, além daquele sorriso que tira o fôlego.

- Que tal um banho de mar? - Pergunto quando pisamos os pés na areia da praia.

- Que tal uma água de coco bem gelada? - Ela responde.

- Ok, mas depois um banho de mar - vamos até um cara que vende água de coco, compramos e nos sentamos ali perto. - Sabe, quando pequena, eu acreditava que podia ser infinito como o mar. Sonhava alto, não é? - Ela solta aquela risada gostosa e parece imaginar uma Lauren criança.

- Como você era quando criança? Digo, além de sonhadora - sorri pra mim.

- Nossa - sorrio lembrando-me das travessuras -, me juntava com meus primos, fazia um auê, bagunça demais, mas ainda assim era a mais calma. Gostava também daquelas histórias em quadrinhos de super heróis. Achava que um dia ia fazer alguma coisa "grande" - faço as aspas com os dedos. - Sabe, ser médica, artista ou sei lá. Mas aqui estou eu, apenas uma professora- sorrio contente por gostar do que faço.

- Ou seja, uma garota normal, meio nerd e sonhadora - arqueia uma sobrancelha com desafio.

- Bom, meio nerd eu não sei, mas sonhadora... - e aí me dá uma puta vontade de chamá-la pelo nome para provocar, mas não me vem nenhum nome à cabeça e acho que estou louca. Esse pensamento põe uma careta no meu rosto.

- Uai, Olhos Verdes, não há nenhum mal em ser nerd - diz lançando-me um olhar desafiador. - Melhor meio nerd do que meio imbecil - vejo um sorriso triunfante brotar em seu rosto e não me contenho em tocá-lo.

- Sim. É verdade - algo me perturba, mas não sei o que é.

- Claro que é verdade, Lauren - rebate com seu jeito petulante de algumas horas e a menção do meu nome me perturba mais ainda. Por que não lembro seu nome. Por quê? Só me lembro dela ser minha Senhorita Lacinhos.

- Sempre certa - por que seu nome não sai pela minha boca? - Por que não consigo lembrar seu nome? - Penso alto sem perceber.

- De novo, essa história, Lauren! - responde seca.

- De novo? Me diga, por favor. Me desculpe por não lembrar, mas não consigo - digo à beira do desespero.

- Não tem o que lembrar, querida Olhos Verdes, assim não tem o que desculpar - isso é ironia?

- Mas... - começo a falar, mas ela me interrompe.

- Chega dessa história! - Sua voz é firme, mas não se eleva.

- Eu preciso - meu deus, por que não? Qual o problema?

- Por que você não entende, já falei que não é hora! - Apenas levanta-se e sai em direção ao mar. Não faço nada, apenas olho para ela totalmente frustrada, me sentindo uma idiota.

Olho para o lado por um segundo e quando olho de novo para o mar não vejo nenhuma cabeça. Cadê ela? Ela estava lá há apenas 10 segundos atrás. Então vejo um ponto pequenino surgir em meio as ondas e me desespero. Ela está se afogando. Por isso não queria entrar na água? Corro usando todo o ar de meus pulmões não acostumados.

Depois que consigo retirá-la da água, deito-a a beira da água, mas ela não dá nenhum sinal, não responde aos meus estímulos. Tento respiração boca a boca. Tento massagem cardíaca. Mas ela nunca abre seus olhos nem mesmo vejo seu peito se ergue em sinal de que está respirando. Faço a única coisa que consigo naquele momento: grito com toda a força que tenho."

Minha respiração é rápida e pesada. Estou totalmente sem rumo. Que sonho é esse? Que mulher é essa que faz mistério em mim até quando durmo? Só após alguns segundos é que percebo porque acordei.

- Alô? - atendo meu celular sem me importar com minha voz.

- Lauren? - Não acredito que seja ela. Tento procurar outra voz igual, mas não há nenhuma. Perco o ar e fico totalmente parada sem acreditar.

Estou enganada, não pode ser.

Bittersweet Discoveries (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora