Pseudo-horas

376 20 4
                                    

Pov Camila

Que calor é esse envolvendo minhas mãos? Que dia é hoje? Onde eu estou? O que aconteceu antes de eu dormir?

Abro os olhos lentamente e vejo a Lauren com a cabeça apoiada contra a cama, segurando minha mão entre as suas. Quero que ela saiba de tudo. Quero que ela me escute ao menos uma vez. Será que ela pode fazer isso?

Mas agora não consigo falar, não muito, pois estou muito incomodada.

Pov Lauren

- Laur, eu tô... - a voz dela atinge meus ouvidos, fina, frágil, dispersa. - Tô sentindo muita dor - fecha os olhos evidenciando o que acabou de falar.

O que eu faço? O que o Dr. Simon falou mesmo? É... Apertar o botão que fica em algum lugar por aqui.

- Calma, vou chamar o médico - me levanto pra procurar melhor o tal botãozinho e vejo que há uma pequena mancha vermelha no lençol, perto do seu ventre. Me sobe um desespero. O médico tem que vir rápido.

- Não sai - sua voz continua fraca. - Não me deixa só - meu coração se aperta.

- Shiu, eu vou ficar aqui, calma - tento manter a calma na voz.

Sinto a mão dela buscar e apertar a minha levemente. Acho que essa é quase toda a força que ela tem. Meu desespero aumenta. O tal botão aparece. Aperto uma, duas, três, quatro, não-sei-quantas vezes. Preciso que o médico venha rápido.

- Vai ficar tudo bem - digo, tanto pra mim quanto pra ela. Mas nesse momento percebo que ela está mais pálida do que antes, o que me deixa mais preocupado.

- Humm - meio geme meio confirma. Acaricio sua bochecha, como fiz antes. Dizem que carinho diminui a dor. Espero que seja verdade.

- O médico está chegando, calma.

Será que o Dr. Simon está muito longe. Penso em ligar para a Dinah e pedir para procurá-lo, mas posso assustar a Camz. Resolvo mandar um sms. Mas não é tão fácil com a Camila segurando uma das minhas mãos. Quando estou quase terminando, o médico bate na porta e entra.

- Vejo que nossa paciente acordou - diz tentando ser caloroso, sem saber da situação.

- Por favor, venha aqui, precisa ver uma coisa - peço com o máximo controle que me é permitido. O Dr. Simon estranha, mas vem. Quando vê a mancha no lençol logo se incomoda e usa um aparelhinho de comunicação que não conheço.

Recebo um olhar preocupado dele. Enquanto espera a equipe, vai examinando a Baixinha na medida do possível. Tenho medo desse silêncio massacrante.

- O que... - a Camila começa, ainda com a voz de antes. - Tá acontecendo?

O Dr. Simon olha para mim e depois a encara, tentando ser otimista, apesar de a situação quase impedir isso.

- Ainda não posso falar com certeza, mas logo vamos saber - sinto um pequeno calafrio passar pelo meu corpo. Tenho medo da suspeita do médico.

Ninguém fala mais nada, pois a equipe chega e tudo vira um caos. Logo levaram a Camila para fazer alguns exames, tentei acompanhar, mas não deixaram, pediram para que eu esperasse na sala de espera, que logo teria notícias.

E lá vamos nós de novo.

- Laur, o que está fazendo aqui? - O medo na voz da Dinah é quase palpável.

- A... A Camz acordou... - fico ainda mais, triste, me lembrando dela falando que estava com dor. - Mas alguma coisa está errada, estão examinando ela.

A Dinah não diz nada, apenas me olha incrédula. Provavelmente pensando o mesmo que eu, que acho que já chega, que a Camila já sofreu demais.

Ficamos apenas sentadas nos confortando em silêncio. O tempo continua insolente.

Tento acreditar que estão resolvendo tudo, que o que estou pensando é só culpa do desespero, que as palavras que ficaram no ar só ficaram lá por pura rebeldia. Mas algo lá no fundo me manda largar essa impossibilidade e me diz que eu já sei qual será a próxima notícia. E ela não é boa.

Algumas horas depois, o Dr. Simon reaparece.

- Lauren, Dinah - nos levantamos para ouvi-lo e me vem um aperto no coração e na garganta. - A Camila teve um sangramento proveniente da emorragia interna que ela teve, mais não se preocupem, ja resolvemos isso. Tivemos que fazer um procedimento com ela, mas acho que não haverá mais nenhuma complicação - nos olha perdendo um pouco do ar profissional. - Sinto muito, por tudo isso. - faz uma pausa, acredito que esperando que assimilemos as informações. - A Camila ainda está um pouco desorientada por causa da anestesia, mas já está acordada. Podem ir vê-la.

Fomos nós duas para o quarto, ainda descrentes no que ouvimos. Como será que a Camila vai reagir?

- Vou conversar um pouco com ela - a Dinah avisa quando chegamos à porta do quarto.

Ela entra e parece não sair de lá nunca. Cada vez que olho as horas parece que se passaram horas, mas o relógio só acrescenta mais um minuto. 4:16. 4:17. 4:18... e vamos os dois nesse ritmo de eu sofrer por horas e ele marcar apenas um minuto. Não faz sentido algum.

Parece que a Dinah fica no quarto por uma eternidade inteira. Mas assim que sai o relógio marca 4:33, assim como as lágrimas marcam seu rosto. Apenas a abraço e ela diz que a Camz precisa mais de mim, me solta e começa a andar.

Abro a porta lentamente e o jeito que seu corpo se move denuncia que está chorando copiosamente, como já vi outra vez.

- Camz - falo baixinho, não quero assustá-la.

- Estou me sentindo tão mal Lo, me desculpa po...

- Shiu - paro ao lado da cama e seguro suas mãos entre as minhas enquanto olho pra ela ali, deita chorando. - Não vamos pensar nisso agora. Eu estou aqui - morrendo de vontade chorar junto com você, mas não posso.

- Não tem como - suas palavras exalam dor.

- Vai ficar tudo bem - deve ser a milésima vez que digo isso.

- Deita aqui comigo - se afasta, me dando espaço.

- O médico não iria gostar disso - tento ser racional.

- Ele não está vendo - sua voz é melancólica e carente. - Por favor - me arrasto para seu lado e fico lá. Acaricio suas bochechas, suas mãos, beijo-lhe os cabelos e a testa. - Eu preciso falar com você - diz quando finalmente consegue parar de chorar.

- Não precisa ser agora. Nós temos tempo depois - não é que eu não queira saber, é que o momento parece inadequado. Tanta coisa acontecendo. Parece um furacão.

- Sim, Lauren. Precisa. Eu preciso falar me escuta, por favor? - apenas faço que sim, ela iria insistir até que eu cedesse mesmo.

Bittersweet Discoveries (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora