Quase calmaria

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Pov Camila

Fico paralisada por instantes, pois quem entra no quarto parece muito com meu tio-agressor. Minha respiração fica irregular e me agarro a Lauren num gesto inconsciente. Mas logo vejo que é apenas um homem que errou a porta do quarto e tento relaxar - a muito custo, pra falar a verdade.

Pov Lauren

Sinto o corpo da Camila estremecer quando o homem erra a porta do quarto. Pergunto se há algo de errado e ela diz que se enganou, só isso. Ficamos em silêncio. Tento processar todas as informações que recebi.

Há um nó horrível na minha garganta. Uma culpa desgraçada toma conta de mim. Não importa que eu sequer conhecesse a Camila quando tudo isso começou. Importa que eu não a escutei, mesmo querendo.

Toda a situação chega a ser inacreditável. Passo a mão por seus cabelos, imaginando quão idiota eu fui - pra dizer o mínimo. Eu também sou culpada nessa historia.

Eu aqui achando que ela era a vilã da história toda, quando na verdade ela é a maior vitima. Sofrer abuso do próprio tio, ter que enterrar os pais, ficar sozinha no mundo. Todas as coisas que ouvi ficam ecoando na minha cabeça. Sequer consigo imaginá-la dormindo junto com os mendigos - sendo uma -, com os ratos de companhia.

- Camz? - Chamo-a, querendo saber se está acordada.

- Hm? - Responde, semiacordada.

- Não é nada - desisto, ela precisa dormir. - Durma um pouco.

- Fala logo, Lauren - sua voz é rouca e arrastada.

- É que... - vou perdendo a coragem e a consistência da pergunta que já estava na ponta da minha língua. Ela espera. - Eu... Eu queria, quer dizer, quero - me olha com mais atenção agora. - Quero saber se você saiu de vez da-daquilo - solto, por fim.

- Saí. Não tinha mais sentido - me olha sem esboçar nenhuma acusação, como fiquei com medo que fizesse. - Depois eu vejo o que eu faço.

- Hm - penso por um segundo, mas a próxima frase apenas pula da minha boca. - Você pode ficar comigo... Por quanto tempo precisar - ela sorri e acena que sim, mas sim o quê? Ela vai ou ela só entendeu que pode? Não pergunto, pois ela está acordada por um fio e não quero despertá-la de novo.

Fico observando enquanto ela dorme. A história dela não me sai da cabeça. Tenho medo de dormir e acordar com tudo ruindo mais uma vez. Mas o cansaço agora começa a pesar sobre mim e tudo se apaga.

Milagrosamente meu despertador não toca - já é sábado. Só acordamos quando a enfermeira vem ver se está tudo bem. Levo um puxão de orelha, mas a pequena contorna a situação com seu jeito meigo.

Os médicos deixaram a Camila mais 12h sob observação e deram alta para ela lá pelas nove da noite.

- E aí, pra onde você vai? - perguntei assim que chegamos à entrada do hospital.

- Uai, Olhos Verdes, cadê a proposta que você me fez? Já desistiu? - Ela sorri desafiadora.

- Claro que não. Achei que você não quisesse ficar comigo - brinco, mas é meio sério. Ainda sofro de um culpa/insegurança em relação a ela.

- Só preciso de umas roupas - aceno que sim e passo a mão pela sua cintura.c

Tudo estava transcorrendo bem. Era consideravelmente fácil morar com a Camila. Agora eu almoçava em casa com ela. Uma discussão boba aqui ou ali. Mudança da disposição dos móveis pela casa.

- Lolo, vamos no pub ver a Dinah? - Ela chama numa sexta cansativa.

- Não pode ser amanhã? - Me jogo no sofá e ponho a cabeça sobre seu colo.

- Amanhã é a folga dela - faz uma cara de criança carente que ameniza meu cansaço.

- OK. OK. Vamos - cedo. - Vou só tomar um bom banho - ela abre um sorriso radiante e me beija carinhosamente. Como dizer não para essa Princesa?

Tomo um banho quente e todo o meu corpo pede que eu durma, mas resisto. A Camila já está me esperando na sala, toda arrumada. Balanço a cabeça ao pensar em como ela conseguiu me trazer de volta tão facilmente.

Ela está animada e ao chegar lá conversa com a Dinah enquanto eu fico séculos com um copo de gim com água tônica na mão.

- Acho que vou tentar entrar na faculdade - ouço ela falar de repente e passo a dar atenção para a conversa.

- Finalmente! - A Dinah se anima. - Faça mesmo, siga seus sonhos - sorri.

- Finalmente mesmo! - A Camila está no mesmo pique. - Vou cursar a tão sonhada faculdade de... - não escuto direito o que ela fala, pois me dou conta de quem está no fundo do pub. Ah, não pode ser.

Parece que ela percebeu que eu a vi, porque se levanta e começa a se encaminhar ao balcão.

- Olá, Baby - sim, é a Lucy.

- Olá, baby. Sinto dizer que dispenso sua companhia - sou grossa mesmo. Ainda não esqueci o que ela me fez. E estou com a Camila, que passou a acompanhar a situação.

- Quem é essa? - A Baixinha sopra no meu ouvido.

- É a minha querida ex-noiva - digo num tom semi-controlado.

- Ex que você não pensou duas vez em... - não deixo que ela termine.

- Cala a boca, Lucy - sibilo para ela.

Pov Camila

Não acredito que dias de paz vão ser atormentados por essa imbecil. Não mesmo.

Esses últimos dias não tem sido fáceis, apesar de a Lauren estar comigo. Toda vez que saio de casa acho que estou vendo meu tio em todos os cantos, que ele está me seguindo. Sonho com ele. Às vezes tenho devaneios enquanto estou acordada. É simplesmente horrível.

- Como você tem coragem de sair com essa, essa... - a voz irritante da Lucy me tira de meus pensamentos. Essa o quê?

- Não meta seu dedo no que não sabe, Lucia - a Lauren esbraveja.

- Ah, e quem foi que te alertou, ein? Me diga, baby. Você já esqueceu?

- Lucia - a Lauren tá muito chateada, e eu também, na verdade. Quem ela pensa que é para tirar satisfação dela? - Dá licença - entrelaça os dedos aos meus e me puxa para sairmos, mas a imbecil não sai da nossa frente.

- Ah, vai me dizer que já esqueceu nossa última vez? - Solta, e eu é que não quero mais ouvir nada. Saio esbarrando nela e puxando a Lauren comigo.

Fico andando a esmo, puxando-a inconscientemente. Mas não ouço nenhum protesto de sua parte. Estou morrendo por dentro imaginando os dois juntos. É demais. Simplesmente me enche de raiva.

Alguns minutos depois a Lauren puxa minha mão me obrigando a parar e eu acabo batendo contra seu corpo e as palavras simplesmente fogem de mim.

- É com essa irritante que você... - tento respirar fundo, mas não dá. - Que você transou aquela noite? - Ela me olha, pisca e vejo sua chateação ser transformada numa gargalhada gostosa e incompreensível para mim.

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