Explicações, Pov Camila

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VOCES SAO DE MAIS SERIO, 2k e meu sorriso gigante pra vocês 💚 a fic Tá chegando na reta final, se não me engano tem mais 5 capítulos contado c os 2 bônus q eu escrevi. Mais enfim, sem mais delongas sunshines, boa leitura pra vocês 😊😍

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- Olha, Lauren - começo meio sem saber como, mas sabendo os detalhes sórdidos que terei que contar -, eu tinha uma vida perfeita, sabe? Mas eu não cheguei até aquilo por querer ou capricho. Meu pai não foi o melhor cara, mas ele tentava. Minha mãe sempre esteve do meu lado, ela era a mãe que todos pedem. Mas nem toda a atenção dos meus pais foi suficiente pra o que me esperava. Minha família não era grande, mas não morava longe - respiro fundo, é ruim demais lembrar disso. - Meu pai tinha um tio que ia com certa frequência à minha casa. Sempre parecia tudo bem normal, sabe? Família tem que ficar perto mesmo. Ou deveria.

"Um dia meus pais se enrolaram no centro da cidade, mas eu não sabia, então eles pediram pra esse tio ver se estava tudo bem comigo. Ele chegou lá falando que eles iriam demorar e eu disse que estava bem. Eu tinha quase 17 anos, sabia me cuidar, achava. E aí ele começou a enrolar e puxar papo comigo, chegar perto. Estranhei. Ele era um cara novo, bonito, mas era meu tio. Fui me afastando por instinto, sem saber o que tava acontecendo.

"Pouco depois ele me agarrou e eu não consegui me soltar dele. Só que quando ele abriu uma brecha eu fugi, mas pra onde eu iria? E ele me alcançou enquanto eu procurava uma saída. Eu perguntava o que ele estava fazendo e ele só me mandava calar a boca e dizia que tava tudo bem. Mas não tava - sinto vontade de chorar, mas tenho que contar. - Ele me beijou de novo, e eu recusei. Nesse momento ele resolveu partir pra agressão. Rasgou minha blusa, me segurou firme e eu comecei a chorar. Quando vi não estava mais de short e ele já tava destruindo as minhas roupas íntimas, como se fossem de papel. E ele se excitava com aquilo. Eu só conseguia chorar mais e mais. Ouvia xingamentos e xingamentos.

"Ele abusou de mim e me deixou largada no chão frio. Passei a ter um nojo descomunal de mim. Peguei todas aquelas roupas e taquei fogo. Me lavei com força, deixando minha pele quase roxa de tanto esfregar. Parecia que eu nunca estava limpa o suficiente. Não conseguia olhar nem falar mais com meus pais. Eles tentavam se convencer que era aquela fase rebelde. E eu nunca disse nada.

"Minha sexualidade aflorou de um jeito torto. Eu achei que nunca iria me limpar de novo. Comecei a não ligar para o que as pessoas diziam de mim, apenas fazia o que queria, ficava e ia pra cama com quem me desse na telha, independente se era homem ou mulher, talvez não houvesse problemas em me sujar mais. E quase de cara eu me apaixonei por um cara. Passei a ter vergonha do que meu tio fez, me senti mais suja do que qualquer coisa e não queria mais me sujar.

"Começou tudo bem, mas depois vieram problemas. Um ano depois, ele me largou de vez. Depois de me fazer sofrer tudo que conseguiu. Aí que surgiu a tal promessa. Eu fiz essa promessa quando me lembrei de uma coisa que a minha avó dizia quando eu era pequena. "Mija, quando você procurar alguém pra se apaixonar, procure se apaixonar pelos olhos dessa pessoa, porque os olhos são os únicos que não envelhecem, então se você se apaixonar pelos olhos da pessoa, você ficará apaixonada pra sempre." Levei a sério, era meu jeito de fugir de tudo aquilo. Dois meses antes do meu aniversário de dezoito anos veio uma notícia ruim, a pior da minha vida. Meus pais nunca mais voltariam pra casa.

"Meu mundo ruiu, Laur. Eu não existia sem meus pais. Tinha acabado de sair do ensino médio, prestes a entrar na faculdade e de repente não tinha mais nada. Minha família virou as costas pra mim de uma maneira 'disfarçada'. E adivinha quem se ofereceu pra assumir minha guarda? Eu nunca ia conseguir me desprender das garras dele, se ficasse. Me dava nojo só de olhar pra ele ali fingindo que tinha alguma compaixão pelos meus pais. E eu fugi.

"Fugi só com a coragem e o medo. Quase não tinha dinheiro. Deixei a casa dos meus pais pra trás. Não podia simplesmente ficar lá e sofrer abuso pra sempre.

"Quando eu cheguei aqui o dinheiro deu pra uma semana. Não conhecia ninguém. Ninguém mesmo. Uma semana depois eu tava jogada na rua. Eu dormi junto com esses mendigos que você vê aí na rua, os ratos passavam do meu lado, quando não era por cima de mim - meus olhos ardem ao relembrar isso.

"Mas depois de um mês nas ruas, um desses donos dessas 'casas de strip' me viu por aí, me ofereceu um teto até eu conseguir um e um 'emprego'. Na merda do jeito que eu estava, aquilo pareceu uma dádiva. Até quando chegou o dia que eu teria que fazer meu primeiro show. Eu vi aqueles olhares tão idênticos ao do meu tio e quis fugir. E eu saí correndo do palco no primeiro dia. O dono da casa me lembrou pra onde eu iria se não cumprisse minha parte no acordo. E eu fiquei. E fui ficando por todo esse tempo. Não tinha pra onde ir.

"Conheci a Dinah e depois de um tempo contei tudo a ela. Ela sempre tentou me tirar disso, me fez pensar na faculdade que eu não pude fazer, na vida que eu não tive. E eu nunca achei uma outra forma de me manter, ou não quis achar. Mas não era por gostar de me prostituir. Eu não sei qual era o motivo, Lauren. Eu não queria dormir com os ratos de novo, muito menos sentir tanta fome a ponto de meu corpo se consumir.

- Shiu - a Lauren me interrompeu, sentindo o peso daquilo e me abraçando do jeito que podia. - Ei, calma - passou os polegares pelas maçãs do meu rosto, nem percebi quando comecei a chorar.

- Não dá pra ter calma - respondi baixinho, sentindo-me pesada demais.

- Eu estou aqui, agora.

- Eu quero que você fique - é mais que um querer, como uma necessidade.

- Me desculpa por não ter te escutado, eu... - ela está confusa, culpada, assustada. - Eu não sabia como lidar, Camz. Eu estava, e estou, muito presa a você - e não sei o que falar depois disso. É como ver o oásis depois de dias debaixo do sol de um deserto coberto de uma areia traiçoeira.

- Lo... - ela me olha com mais atenção ainda. - Eu devia ter falado. Não se culpe. A culpa é minha.

- Não, a culpa não é sua. A culpa é daquele... Daquele babaca. Se eu vir esse cara eu nem sei o que eu faço - vejo nela um sentimento protecionista. - Eu vou ficar do seu lado agora - beija minha testa, num gesto de proteção.

Estou prestes a falar algo quando ouvimos alguém bater na porta. Deve ser a Dinah. Olhamos uma para a outra e falamos que pode entrar.

Bittersweet Discoveries (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora