Labirintos

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Parada ali, fico observando quem acabei de notar. Balanço a cabeça em negativa. E nem mesmo nesse momento consigo notar meu estado atual:  Top, samba canção do batman e descalça.

Percebo que aprecio ser uma observadora implícita. Quase consigo sorrir ao pensar nisso. Faço menção de dar meia volta e tomar o caminho de casa, da minha cama – pra ser mais especifica. Mas aí percebo que não quero ir sozinha.

Não, não estou com pensamentos sujos – ainda. Apenas quero companhia. Só isso. Embora eu seja uma péssima companhia no momento.

Mas continuo apenas observando enquanto ela conversa com uma mulher. Deve ser sua amiga. Penso de novo que deveria ir para casa. Isso vai parecer perseguição. Sabe, ficar encontrando ela toda hora – mesmo que “sem querer”.

Algum pedestre topa em mim e olho para ele de cara feia. Continuo mega azeda. Nem mesmo aqueles fios castanhos conseguem me deixar neutra de novo. Não assim de tão longe. 

Talvez agora eu esteja começando a ter pensamentos um pouco sujos. Merda. Por que sempre quero usar a baixinha pra tirar a Lucy da minha cabeça? Por que ela vem aparecendo quando a Lucy aparece?

Vou enlouquecer, juro.

Fecho os olhos e os aperto violentamente na esperança de que quando abri-los estarei acordando e toda essa manhã terá sido apenas um sonho sombrio e desgastante. Mas não é. Não é.

Penso em voltar pra casa ou simplesmente continuar andando, mas meu corpo não compartilha de meus planos e começa a se movimentar rumo à orla, à baixinha. Travo uma briga interna, já que essa situação vai ser estranha, creio eu.

Então Lucy surge em minha cabeça. Lembro-me de todas as coisas que falei pra ela. Não que não sejam todas verdade. O ponto é: antes eu sairia me arrastando, perguntando onde ela queria me ver, querendo estar perto dela, mesmo que fosse só mais uma dose mal aplicada de ilusão. O amor é um cão dos infernos – como diz o titulo de algum livro do Bukwoski.

Sinto o peso de um olhar sobre mim. Será o da baixinha? Levanto a cabeça lentamente e, sim, vejo ela me encarar como se não acreditasse que me via ali – me vendo pela segunda vez em 3 dias. Senti uma vontade quase primitiva de tomá-la para mim.

Não sei o que está acontecendo comigo – mentira, sei sim.

Meu corpo agora se movimenta com total confiança e só consigo pensar que isso é uma má ideia – em todos os sentidos da palavra. Ofereço-lhe um sorriso de canto, mas com certa malícia, dadas minhas intenções antes citadas.

– Garota sem nome – digo com uma voz rouca, quando paro na sua frente.

– Então você mudou meu apelido, Olhos Verdes? – Me encara com uma expressão que não consigo mais ler.

– Achei esse mais adequado ao caso, mas ainda gosto do outro – aviso. – Não se preocupe.

– Entendo – arqueia apenas uma sobrancelha. Que sexy. – Bom, essa é Dinah – aponta para a amiga, que me manda um tchauzinho. – E, Dinah, essa é a Lauren.

– Lauren – Dinah começa, fazendo-me olhá-la –, você poderia fazer companhia à... – quase diz o nome dela, mas se interrompe – à minha amiga? Tô acabada de sono, cara – justifica.

– Sua amiga é quem sabe – pisco para elas e olho para a baixinha junto com Dinah.

– Largada pela melhor amiga – a baixinha reclama, mas vejo diversão em seus olhos.

– Vou entender isso como um sim – Dinah diz já se levantando. – Bom te conhecer, Lauren. Até qualquer hora.

– Até – aceno para ela.

– Então, o que você faz aqui a essa hora? – A baixinha quis saber. – Não, espera, deixa eu reformular a pergunta – me interrompe quando abro a boca a fim de respondê-la. – O que você faz aqui a essa hora e vestido desse jeito?

Olho para mim e me dou conta de que estou só num top, minha samba canção favorita do batman e descalça. Que merda. Só a Lucy pra me perturbar a tal ponto.

Ela me olha com um olhar diferente,quase sinto ela gargalhando da situação - quem não faria certo?!

– O que foi? - Pergunto intrigada.

– Samba canção do Batman Lauren? – Ela pergunta caindo quase chorando de tanto rir. 

– O que você tem contra o melhor Super Heroi do mundo? – Devolvo num tom ironico arqueando minhas sombrancelhas, tentando parecer intimidadora. 

– Nada contra – Ela diz limpando uma lagrima fujona – Só é um pouco infantil, mais ainda assim meio fofo. 

Fico encarando ela por alguns segundos, e rindo internamente da baixinha quase rolando na areia de tanto que ria. Resolvo deixar meu sub consiente responder aquilo, até porque, meu consiente estava hipnotizado pela situação, 

– Que tal irmos à minha casa para que fique... hum... um pouco mais apropriada – sugiro.

– Você não tem medo de que eu seja perigosa? – Ela para de rir e olha para mim sugestivamente.

– Eu me lembro bem de como você é perigosa, Senhorita Lacinhos – preciso dizer que é mais uma daquelas coisas que só vejo que disse depois que me escuto dizer? Não né.

– Sua confiança é arrogante, Lolo.

LOLO? Tanto nome no mundo, meu deus. Por que logo o nome que a outra me chamou mais cedo?

– Não mais do que seu mistério – replico, mesmo chateada. Chateação essa que desperta um desejo totalmente malicioso e maldoso em mim.

Puta que pariu, hoje eu estou fora de controle. Com motivo, claro.

– Tenho meus motivos – responde vagamente. – Vamos – chama e se levanta. Eu só não contava com minha total falta de controle que me fez avançar sobre os lábios da baixinha e tomá-los invadindo sua boca. Mas ela não protestou.

– Te pediria desculpa, mas acho que você gostou – estampo um sorriso arrogante no rosto.

– Não vou alimentar seu ego – respondeu sendo indiferente a minha arrogância repentina.

Passei meu braço por sua cintura e a puxei para mim, de lado. Começamos a caminhar e acabamos indo totalmente em silêncio até a minha casa. A única coisa que conversava era o ritmo de nossos pés.

Deixei tudo aberto. Claro, estava totalmente fora de mim. Tá, ainda estou um pouco. Mas não vou pensar nisso agora. Tenho algo melhor pra fazer.

– Teus lábios são labirintos que atraem os meus instintos mais sacanas – canto baixinho ao pé do seu ouvido, coloco-a contra a parede e logo depois devoro sua boca com um beijo.

Bittersweet Discoveries (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora