Desde a última vez que eu tinha visto a Lauren, tinha também me decidido que já bastava daquela vida. Não precisava mais daquilo. Ia arrumar outra maneira de me manter.
Avisei para o dono da casa que iria sair. Ele me pediu pra ficar mais uma semana. Tentei a todo custo dizer que não. Mas ele insistiu. Aquele pessoal sempre mexe com alguma coisa mais errada do que a prostituição, então fiquei.
Aquilo começou a me custar mais do que custava antes. Antes já era difícil, agora então parecia uma tortura, uma sentença de morte.
Na quinta eu já esperava ansiosamente o final da contagem dos dias que me prendiam ali. Mas aquilo passava mais lentamente que o habitual. Um minuto parecia se estender por trezentas horas. Uma hora então nem se fala.
Vieram me avisar que eu subiria ao palco em dois minutos. Fechei os olhos como se aquilo fosse fazer a quinta virar sábado, mas não fez.
Subi ao palco e comecei a me movimentar como haviam me ensinado quando entrei aqui. As pessoas me olhavam como se eu fosse um pedaço de carne suculenta. Demorei muito pra aprender a lidar com isso, mas agora já não me era tão horrível. Estava acostumada.
Levei um susto. Pareceu que eu tivesse visto a Lauren ali no meio da multidão. Disse a mim mesma de que era ideia da minha cabeça. Devia ser a vontade de vê-la. Apenas continuei o show.
Assim que desci do palco disseram que havia uma cliente no quarto seis. Quase sempre havia alguém. Estranhei ser uma mulher, mais as vezes acontecia. Me vesti de novo. Elas geralmente gostam de ver um strip particular. Ou até mesmo de ter o prazer de tirar nossas roupas.
Estava torcendo pra que fosse uma daquelas pessoas que só procuram alguém pra conversar. Sempre estou torcendo por isso, depois que descobri que existe muito disso, mas essa semana estou torcendo infinitamente mais.
Me encaminho para o quarto. Estampo um sorriso no rosto daqueles que vão de orelha a orelha, como se eu estivesse feliz em me vender pra sobreviver. Digo "olá", mas ela não responde, apenas fica ali parada. Talvez seja mesmo aquelas que só querem atenção e bom papo.
Vou andando na direção da cama e sinto uma atmosfera pesada dentro do quarto. Nunca senti isso. Pelo menos não vindo do cliente, sempre vinha de mim.
Subo em cima da cama e vou de encontro a ela. Passo minhas mãos por suas costas. Ela vira. Meu coração perde o ritmo, engulo em seco, fico desnorteada.
É a Lauren. A Lauren. Não pode ser. Pisco mais rápido que o habitual, mas a imagem não muda. É ela.
Um nó se forma na minha garganta. Não pode ser. Não.
Ela me diz "olá" com uma expressão de quem está sendo torturada. E a culpa é minha. Toda minha. Não acredito nisso. E ela também não, pois o diz em seguida. Não pode ser.
Começo a pensar em todos os motivos que me trouxeram até aqui e depois olho pro motivo que me fez ter coragem pra sair dessa vida. Sinto lágrimas queimarem meus olhos. Tento explicar, ela não deixa. Ela começa a falar e eu apenas peço "por favor", mas nem eu mesma sei por quê.
Ela não quer me ouvir. Ela nunca mais vai me ouvir. Preciso dizer tudo que nunca disse, que nunca admiti.
Eu a amo. Desde o primeiro momento. Nunca quis aceitar isso. Não podia. Logo agora que iria acertar tudo...
Choro descontroladamente e recebo apenas um olhar frio e acusador. Eu tenho motivos. Os piores motivos que a vida pôde me dar, mas ela não quer ouvir.
Antes de chegar aqui eu não tinha nada. Estou saindo daqui sem nada. Nada.
Um segurança entra e não acredito quando vejo a Lauren indo em sua direção e tentando socá-lo. Quero gritar para que pare, mas soluço tanto que não consigo nem respirar direito. Fico pedindo mentalmente para que aquilo pare. O segurança bate na Lauren até que ela fique quieta e depois a arrasta para fora sem qualquer cuidado.
Depois de alguns minutos vou correndo para fora, na esperança de vê-la. Ela está jogado no chão, mas se levanta e sai sem olhar pra trás, assim que me vê. Lembro-me dela me dizendo pra nunca mais procurá-la e nem ao menos dizer seu nome. Isso é demais. É mais do que posso.
Fico vendo enquanto ela diminui e sai da minha vida. Desaparecendo tão rápido quanto apareceu.
Queria que ela soubesse que não a amei por causa de promessa nenhuma. Que essa promessa só serviu pra me encorajar. Queria que ela soubesse tudo. Tudo o que aconteceu comigo. Por isso ligo para ela desesperadamente, mas ela sequer cancela as ligações.
Ligo para Dinah. Dane-se essa merda, não quero vir aqui nunca mais. Não quero perder mais nada. Porque nada é o que já tenho.
A Dinah não consegue entender nada do que eu falo, pois estou chorando demais, quase a ponto de não conseguir respirar. Ela pede pra eu esperar onde estou. Sim, ela sabe de tudo. Todos os detalhes sórdidos.
Não sei quanto tempo depois, sinto Dinah me erguer do chão e me levar pra casa. Passo a noite toda chorando, sem sequer falar qualquer frase completa. Ela apenas fica ao meu lado e tenta me consolar, o que é impossível. Quando o sol já está nascendo acabo apagando de tanta dor de cabeça.
O pesadelo se repete ainda pior durante minhas poucas horas de sono. Será que isso nunca vai me deixar em paz?
-
Continuo tentando falar com a Lauren a todo custo, mas ela me ignora categoricamente. Isso vai se arrastando por semanas. E nem me dou conta que já estou há um mês nessa.
Não como direito. Não durmo direito. Não saio do meu apê. Só tenho dinheiro pra pagar as contas porque guardei boa parte do dinheiro que ganhava.
Resolvo sair e ir ver o mar. Pode me ajudar a procurar um rumo.
Fico sentada na areia da praia até o sol começar a se por. Estou até mais calma, pensando em tentar seguir em frente e esperar a poeira abaixar.
- Olha só quem eu encontrei - sinto um calafrio passar pela minha pele, tento pensar que me enganei na identificação da voz, mas ao me virar vejo que acertei em cheio, infelizmente.
Me levanto num salto, pronta pra sair dali. Mas ele me segura. Fecho os olhos com força tentando não ver a realidade que se debruça sobre mim. Não acredito nisso.
- Não precisa ter medo. Só se você não quiser vir comigo - diz ao ver minha reação. E eu não quero ir. Não consigo falar, minha voz está congelada na minha garganta, apesar de eu estar no inferno agora.
Aperta-me com mais força, mas consigo me soltar e saio correndo, porém a areia retarda meus movimentos e ele me alcança. Começo a me debater e ele me dá um tapa na cara, para eu ficar quieta, mas não fico. Recebo outro tapa. Continuo me debatendo, preciso sair daqui. Ele percebe que não vou desistir. Não tem ninguém aqui? Nem pra pedir socorro minha voz sai.
Tento sair debaixo dele a todo custo, mas não consigo. O que diabos ele está fazendo aqui? Esse inferno de novo não. Recebo um soco que me deixa desnorteada. Arranho-o ferozmente e acabo acertando algum ponto sensível, conseguindo me desvencilhar. Mas logo ele está no meu encalço.
Corro. Passo no meio da pista sem pensar. Vários motoristas buzinam, mas eu não paro. De repente tudo começa a escurecer e eu sinto uma dor gelada em algum lugar do meu corpo. E tudo se apaga de vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bittersweet Discoveries (Camren)
RandomEssa fic é uma adaptação, a original é de uma amiga minha, mas como amigos são lindos ela me deixou adaptar... Enfim, Sem mais delongas né. Tem dia mais preguiçoso que segunda-feira? E uma segunda-feira cheia de lembranças de um passado que você de...