Um ou dois alunos me cumprimentam enquanto ainda estou parada no corredor tentando decidir o que fazer. Entro na minha próxima turma e parece que não é ali que eu deveria estar. Os alunos me olham ansiosos e eu olho ansioso para eles.
Terei que deixá-los de lado pela enésima vez desde que a Camila apareceu na minha vida.
– Pessoal – todos se calam e olham diretamente pra mim –, aconteceu um imprevisto e eu não vou poder dar aula. Escolham como querem a reposição, está nas mãos de vocês. Peço desculpas a vocês, estou em falta com todos, espero poder recompensá-los de alguma forma, assim que possível.
Quando termino há um burburinho especulativo, mas ninguém se opõe, apenas acenam positivamente para mim, me encorajando a resolver logo seja lá o que for. Esse é um dos motivos para eu gostar tanto das minhas turmas: eles também querem meu bem-estar, assim como eu quero o deles.
Saio apressada e procuro meu coordenador para poder avisá-lo. Parece que essa tarefa ocupa um tempo longo demais.
Enquanto isso vou travando uma batalha interna. Continuo tendo pedaços de mim discordando de toda e qualquer decisão que eu tome em relação à Baixinha. Tento ignorar os contras, mas ainda tenho aquela noite marcada na cabeça. Pior do que uma tatuagem. Isso é o que me mata aos poucos, o que me manteve afastada.
Boa parte de mim ainda insiste que eu não preciso ir lá e acompanhá-la. Mas outra parte de mim grita pra que eu vá sem pensar nas adversidades passadas – não tão passadas assim.
Chego ao meu carro e hesito. Fico pensando em toda a falta de consideração dela comigo, em como aquilo acabou dando errado, em como aquilo foi errado. Por que não consigo deixar isso pra lá?
Passo as mãos pelo rosto e cabelos, e isso parece me dar o resto de coragem – ou seja lá o que for – que me falta. Me ponho a caminho do hospital. Vou o mais rápido que posso, mas ainda assim parece ser demasiado devagar.
Não sei como a Camila está. Pode ter se machucado um pouco ou... não, melhor não pensar nisso. É ruim estar tão às escuras, tão sem saber o que fazer ou sentir. Mas agora já foi, já estou na entrada do estacionamento.
Corro para dentro daquele hospital enorme. Quais são as chances de eu achá-la sem ter que rodar cada pedaço desse hospital? Melhor parar de pensar nisso e me por em ação.
Na hora nem sequer lembro que deveria ligar para a Dinah, já que a Camila visivelmente não mora com os pais.
Chego a uma recepção e a mulher me pergunta qual minha relação com ela. Puta que pariu. Nada. Nada, absolutamente nada. E agora?
– Sou namorada dela – solto num impulso mal pensado, mas bem sucedido. Se ela me perguntar qualquer outra coisa já vai tudo por água abaixo, pois não sei nada além do primeiro nome dela.
Mas numa jogada de grande e pura sorte, a mulher descobre e me diz onde está a pequena. Vou quase correndo – e me perdendo algumas vezes – para onde ela falou. Porém ao chegar descubro que terei que esperar.
Será se a situação é grave? Começo a me mexer compulsivamente naqueles movimentos inconscientes causados pelo stress.
Dinah, penso. Vou ligar para ela.
Chama uma, duas, três, quatro, cinco... Ela não vai atender? Deixe seu recado na caixa postal, diz uma voz irritante. Mando discar de novo. Um, dois, três, quatro...
– Lauren? – Ela parece surpresa.
– Dinah, onde você tá? – Não consigo enrolar, apesar da dúvida toda que tive, agora estou nervosa. Com medo, até.
– Em casa, ainda. Por quê? – Está desconfiada. Óbvio.
– Olha, eu tenho uma coisa pra te contar... – como que eu vou falar isso?
– Hum? – me incita a continuar.
– A Camila... – respiro fundo. – A Camz sofreu um acidente e está no hospital – digo tudo num fôlego só.
– Como assim, Lauren? – Sua voz passa para o pavor.
– Não sei, só me ligaram, cheguei agora, não sei cadê ela, não me disseram nada – sinto uma angústia pela total falta de informações.
– Isso é sério? – Muda para a desconfiança.
– Infelizmente, é! Eu não brincaria com isso. Pelo amor de deus!
– Eu... Eu não acredito nisso. Me diz onde você está – finalmente! Tento explicar pra ela o que a mulher me explicou e ela diz que está vindo.
Minha angústia só aumenta mais e mais. A raiva e a falta de informações dão lugar à preocupação. Que esteja tudo bem, penso.
As pessoas me olham. Todas preocupadas com algo, assim como eu. Todas obrigadas a esperar por qualquer tipo de notícia. Inclusive eu.
Começo a sentir o impulso de ficar andando de um lado para o outro, como se aquilo fosse resolver o problema. Inquieta, totalmente impaciente e às escuras.
Cadê a Dinah? Por que tudo demora? Por que o tempo se arrasta tanto? Por que...
– Lauren! – a voz da Dinah me chama.
– Dinah! – Vou até ela e a abraço sem pensar, só vejo o que estou fazendo quando não há mais volta.
– Cadê a Camz, Lauren? – Está desesperada, beirando o histerismo.
– Não sei. Ninguém aparece, ninguém fala nada – digo, numa aflição sem fim.
A Dinah me olha com uma preocupação dolorosa e sinto culpa não sei pelo quê. Queria poder dizer que está tudo bem, mas é óbvio que não está. Queria, mais ainda, que estivesse tudo bem. Um sentimento irracional e indefinido – porém desagradável – toma conta de mim.
– Quem está acompanhando a paciente Camila? – diz algum médico, e eu e Dinah nos viramos imediatamente, ávidas por informações.
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Bittersweet Discoveries (Camren)
RandomEssa fic é uma adaptação, a original é de uma amiga minha, mas como amigos são lindos ela me deixou adaptar... Enfim, Sem mais delongas né. Tem dia mais preguiçoso que segunda-feira? E uma segunda-feira cheia de lembranças de um passado que você de...