O amor e outros blablablás.

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Fico parada por alguns segundos tentando processar a informação que meus olhos estão me dando. Então é ela mesmo? Arqueio uma sobrancelha e sorrio. A pequena parece não saber o que fazer. Deve estar tão surpresa quanto eu - ou mais.

- Senhorita Lacinhos - digo ainda surpresa pelo reencontro totalmente inesperado.

- Olhos Verdes - responde com um sorriso enigmático que me é novo. E é nesse momento que não sei mais o que falar. Porque, sim, estive esperando ela no local todos os dias, mas não pensei que fosse encontrar depois que minhas primeiras tentativas foram frustradas amargamente. Penso em deixar pra lá, ir pra casa e seguir meu dia solitária.

- Que tal um café da manhã? - Solto sem pensar, como quando ofereci uma cerveja a ela no pub outro dia. Ela aceita e vamos para a lanchonete do supermercado. Conversamos descontraidamente por alguns minutos, trocando provocações sutis, mas uma pergunta não saía da minha cabeça.

- Quando você vai me dizer qual seu nome? - Soltei sem ver. Terceira vez que faço isso quando estou perto dela. Isso não é normal.

- Não sei, Olhos Verdes. É tão importante assim? - Ela me desafia. Claro que é. Como não? Mas que mulher mais misteriosa.

- Nem ao menos o número do seu telefone? - Tento mudar de tática. Mas ela parece imbatível ao responder.

- Eu posso ter o seu - arqueia uma sobrancelha esperando eu aceitar ou não sua proposta.

- Tudo bem, podemos fazer do seu jeito - digo meio cética meio animada. - Mas você tem que concordar que não é por acaso que a gente se encontra assim.

- Eu tenho que concordar que isso acontece, Olhos Verdes. Me dê seu celular - estendo meu celular para ela que o pega sem hesitar e começa a fuça-lo.

- Tramontina - murmuro chateada.

- O que disse? - Ela volta sua atenção para mim por um segundo.

- Que você tem o corte rápido, Senhorita Lacinhos- dou-lhe um sorriso amarelo, mas por dentro ainda estou animada e excitada por encontra-la tão inesperadamente. Meus pensamentos acabam indo de volta para segunda. A conversa espontânea, descontraída e maliciosa. O sexo sem pressão e inesperadamente bom, muito bom.

- Olhos Verdes - a pequena estrala os dedos diante de mim e percebo que estava bem distante daqui -, ei, ainda estou aqui. Estava pensando em quê?

- Bom, prefiro guardar, ter meu mistério também - estampo um sorriso vingativo no rosto. Ela solta uma risada. Mas não é qualquer risada. É daquelas risadas gostosas que fazem querer rir junto e depois guarda-la para ouvir de novo. E de novo. E de novo...

- Então, agora somos dois misteriosos?

- Sim, somos. Até porque não sei seu nome, mas você já está virando meu celular do lado avesso - provoco. E adivinhem? Ela nem se abala com isso. Nenhuma alfinetada minha consegue perfura-la.

- Veja só, meu nome não é importante, Lauren - como ela sabe meu nome? - Eu vi seu nome no seu celular - ela ri, respondendo a pergunta não feita. - Talvez agora você ache que ele é, mas não é. Na hora que você souber qual é, se essa hora chegar, você nem vai perceber de tão irrelevante que isso vai se tornar - não sei o que pensar. Pra quê tanto mistério? Ela não pode simplesmente inventar um nome e me deixar feliz. Ah é, não são minhas regras.

- Posso saber o porquê de tanto mistério? - Você é imbatível, penso.

- Porque isso resulta em coisinhas que vão se tornando esperanças, expectativas, frustrações e sei lá mais o quê. E isso tudo pode virar uma coisinha insuportável. Eu não tô disponível pro amor e outros blablablás.

- Eu também não estou disponível pra isso. Só quero continuar tendo isso que nós temos - ai que sentimental isso, estou indo pelo caminho errado -, mesmo que isso seja indefinido, até onde vai meu entendimento.

- OK. Tenho seu número, mas devo avisar que não tenho tempo pra continuar essa coisa indefinida, como você chama.

- Tudo bem - é tudo que consigo dizer, parece que ela não consegue parar de me frustrar e eu não consigo nem mesmo dizer tchau e me retirar. Isso aí, sua idiota.

- Bom, preciso comprar umas coisas. Obrigada pela manhã agradável. Não crie expectativas comigo, Lauren, você não sabe nada sobre mim - ela está tentando me assustar? - Se cuide, ok? - Isso é sinal de preocupação? - Até qualquer hora - então ela vai me ligar?

Não faço nenhuma dessas perguntas, pois fico apenas boquiaberta vendo ela se retirar sem esperar resposta ou ao menos me responder com o olhar. Essa mulher está mexendo com algo em mim. Não. Não é como a Lucy. É diferente. E todo mundo já ouviu essa de que é diferente, mas todos os relacionamentos são. E isso que estou sentindo é indefinido mesmo, porque é excitação (em todos os sentidos ok? Não sou uma idiota pervertida), mistério, novidade.

Melhor eu ir para casa antes que meu cérebro comece a fritar aqui dentro da minha cabeça mesmo.

Bittersweet Discoveries (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora