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"Idiotas." Disse um dos dois cavaleiros que seguiam atrás delas. "Ainda não superaram a morte daquele maldito rei."

Ao chegarem no reino, tarde da noite, elas se depararam com ruas quase vazias, tabernas a todo vapor e casas com velas queimando, em cada janela. Pelo comentário do cavaleiro atrás delas, aquilo que era uma forma de prestar homenagem ao falecido rei. Às suas costas, Tam sentiu o coração de Alina começar a se acelerar, isso significava que a amiga também estava atenta à conversa dos dois.

"Nem se incomodam em ir para forca." O outro parecia com raiva. "A rainha deveria considerar isso," Pareceu cuspir a palavra, "um ato de traição pessoal."

"Ou uma ofensa à corte." Eles riram.

O resto da conversa deles continha informações que elas preferiram ignorar. Ao chegarem nos domínios do palácio, Alina percebeu que de longe o palácio era lindo, mas de perto, olhando-o de baixo para cima, era amedrontador. Todos desceram de seus cavalos e subiram as escadas, passando pelas portas principais.
Dentro do palácio, elas se depararam com um comprido e largo corredor com colunas de mármore dos dois lados e diversas portas. No fim daquele corredor, viram duas enormes portas de madeira. Ali deve ser o salão do trono, deduziu Alina. Alguns soldados já estavam esperando por eles.

O capitão havia tirado o elmo que protegia a cabeça.
Era jovem, seus cabelos curtos eram cor de mel e seus olhos, azuis. Alina os comparou à duas labaredas de fogo azul. Safiras também se encaixariam na descrição. Provavelmente ficaria mais bonito depois de um bom banho.

O capitão começou a dar ordens. "Mandem preparar um quarto para o Caçador e designem uma criada para levar comida e roupas. Levarei a prisioneira da rainha de volta para a cela. Preparem a sala de reuniões, não podemos deixá-la escapar novamente." E seguiu, com os mesmos quatro cavaleiros que abordaram as duas na floresta.

A garota parecia ser importante para rainha. E, aparentemente, perigosa. Puxando Tam que ainda estava de mãos amarradas, Alina os seguiu. Ela tentava ao máximo captar por onde passavam, tentando memorizar as portas e as direções. Aquele lugar era enorme. A guarda ficou mais intensa conforme eles atravessaram uma porta e começaram a descer degraus infinitos. Quando ela pensou que estavam chegando ao núcleo daquele planeta, os degraus cessaram e se viram de frente para um corredor de celas, iluminado com tochas. Ela começou a se preocupar com Tam. Achou difícil a comida chegar até ali, se para isso os criados precisariam descer e subir aquelas escadas todos os dias. Ela desconfiou que aquela rainha fosse boa o bastante a ponto mandar levar comida todo dia. Talvez um dia sim e os outros dois dias, não. Ela esperou para ver em que cela colocariam a garota. Lado esquerdo. Jogaram a garota ali sem tirar as correntes das mãos. Um soldado se virou e começou a abrir a outra cela, de frente para cela onde ficaria a garota de olhos verdes.

Quando o soldado, depois de abrir a cela, fez um movimento para tirar as cordas de Tam, Alina apressou-se em dizer, "Pode deixar comigo. Cuide da outra prisioneira." Quando ele levantou o olhar para ela, acrescentou, "Tenho certeza de que ela é mais perigosa do que essa aqui."

Tam disfarçou a surpresa quando ele não questionou e se voltou para o outro lado. "Por enquanto os ventos sompram ao nosso favor.", Sussurrou.

"Aproveite sua posição privilegiada." Alina sussurrou de volta, desfazendo os nós dos pulsos da amiga.

"Ah, pode deixar. Vou fazer tantas perguntas que seus ouvidos irão sangrar." Depois de um momento ela acrescentou, provocando, "Caçador."

"Nem me fale." Ela suspirou como se estivesse cansada, mas Tam sabia que não era cansaço. Alina estava preocupada. Com ela. Cinco dias.

Tentou acalmá-la. "Relaxa, vai ficar tudo bem."

Alina não poderia passar mais tempo enrolando para desfazer um nó. Fechou a cela da amiga. Elas se entreolharam por entre as grades.

"Não vai tirar as algemas, capitão?" A garota de olhos verdes, o confrontou, segurando a grade.

Eles já se viravam e caminhavam para ir embora quando o capitão respondeu, em alto e bom som, sem parar de andar, "Com elas você não vai sumir como da última vez." E começaram a subir as escadas de volta.

O capitão fez questão de acompanhá-la até o quarto onde Alina ficaria. Ao abrir as portas ela viu uma cama de casal encostada na direita, uma lareira na parede esquerda, duas janelas de vidro, na parede que ficava de frente para a porta. A vista que tinha era do cais onde muitos navios estavam ancorados. Era noite de lua crescente. O quarto era pequeno.

Atrás dela o capitão declarou sem cerimônia nenhuma, "Mesmo que não seja do seu agrado, tenho certeza de que não ficará aqui por muito tempo." Ele ainda estava parado no corredor.

Ela não conseguiu esconder a surpresa do seu rosto. "Eu só iria dizer obrigada." Alina entendia que não pessoa favorita dele.

Ele acenou uma vez com a cabeça. "A criada provavelmente teve de ser acordada. A comida e suas roupas chegarão em breve. Entendido?"

"Sim." ela disse, mas depois acrescentou, "Só mais uma coisa, capitão."

Quando ele a olhou com uma expressão de curiosidade, ela disse, "Caso ainda não tenha percebido," Ela fez uma pausa olhando bem fixo naqueles lindos olhos azuis brilhantes e continuou, "da cabeça aos pés, eu sou toda mulher."

Se ela não tivesse fechado a porta no segundo depois de ter dito aquilo, poderia ter visto, o capitão da guarda da rainha no meio do corredor, imóvel e de bochechas coradas.

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