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"Entre."

A criada entrou segurando uma bandeja e com um saco amarrado às costas. Enquanto colocava a bandeja de comida ao lado da cama, Alina estava atenta a cada movimento dela. Ainda não havia tirado uma peça de roupa sequer desde que havia batido a porta na cara do capitão. A criada parecia nervosa e lançava olhares tímidos de curiosidade na direção dela.

Alina resolveu questioná-la, "Alguma coisa errada?"

Imediatamente ela respondeu, "Não, senhor..." Ela viu o erro e o consertou, "...ita. Não, senhorita."

"Tudo bem. Eu não mordo." Alina esperou ela rir. A criada riu nervosamente. Havia tirado o saco das costas e arrumava as roupas dela em cima da cama.

"Por favor, desculpe o meu comportamento. É que o Caçador..." Ela estava nervosa. "...é quase uma lenda."

"Quase?" Alina tentou mostrar orgulho ferido e simpatia.

A criada explicou, "É uma lenda recente."

"E o que mais é dito sobre mim por aí?" Ela tentou arriscar a pergunta e procurou por um lugar para se despir sem assustar a criada com as roupas que haviam por baixo da capa vermelho escuro. Avistou uma coisa que se parecia com um biombo e foi para lá.

"Ah... Sobre o mesmo de sempre, " Poderia ter sido o horário ou o sono, porque a criada divagava enquanto falava. "que você recupera coisas, pega trabalhos que nenhum outro assassino tem coragem de fazer..." Assassino? "Enfim, você é O Caçador." Ela pareceu rir. "Quem diria que você seria uma mulher?"

Ela lembrou do cara que ficou sob a mira de sua faca. O rosto sem vida piscou em sua memória. Uma farsa, isso sim. Metade daqueles boatos eram mentiras que ele saía contando sobre si mesmo. Ela pensou na facilidade que teve para matá-lo.

"Como sabia que eu era o Caçador?" Alina perguntou.

"Pela capa." Ela falou como se fosse óbvio. "Esse tom de vermelho quase preto é impossível de reproduzir. Só você tem uma assim."

Alina ainda estava desconfiada daquela sorte.

"Sabe por que a rainha me chamou aqui?" Alina se sentia pisando em ovos.

"Você não sabe?" A voz dela soava incrédula.

Alina pensou em como sair dessa. O Caçador parecia se orgulhar de si mesmo. "São tantas qualidades que não consigo pensar em qual delas chamou a atenção de vossa majestade." Ele com certeza diria algo assim.

Ela riu, "Verdade." Alina estava incrédula e impressionada com a reputação daquele cara. "Ela ouviu uma coisa sobre você." Pausa. "Uma coisa que eu nunca tinha ouvido falar..."

Alina esperou, ela parecia tentar lembrar.

A criada completou uns instantes depois, "Algo sobre você ser imune a feitiços." Como se tivesse satisfeita consigo mesma por ter lembrado, ela completou, "Sim. Foi isso."

Atrás do biombo, ela expressou ao máximo sua surpresa jogando a cabeça para trás e esfregando o rosto com as duas mãos. Merda. Se a rainha decidisse testar a veracidade daquele fato, ela seria uma pessoa morta, assim como toda população daquele planeta. Nunca mais voltaria para casa se aquilo acontecesse.

Ela não conseguia pensar em nada. Então pediu, "Me conte sobre a rainha."

Silêncio.

"Vou preparar o seu banho, senhorita." Alina xingou mentalmente. Ela teria que descobrir mais sobre aquela bruxa, sozinha.

Ela arrumou suas roupas dentro da capa do Caçador, deu um nó e saiu detrás do biombo, nua, em direção à uma porta aberta ao lado da cama que mostrava o banheiro. Se a criada se incomodou com a nudez de Alina, não demonstrou.

Após o banho a criada saiu do quarto, deixando-a sozinha com a bandeja de comida e algumas horas para descansar, antes do sol nascer e ela precisar ter que se apresentar diante da líder da Inquisição.

Alina comeu sentindo da falta da mãe.
Alina comeu e se perguntou o que haviam dado para Tam.
Alina se deitou e apagou por algumas horas.

Um Conto KyobanOnde histórias criam vida. Descubra agora