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"Abaixe o arco e a flecha se não quiser suas entranhas sobre o musgo dessa floresta."

Com o braço ao redor do pescoço e a faca em um ponto crucial das costelas, ela sussurrou em seu ouvido.

Ela sentiu a tensão que passou por aquele corpo e sentiu também, quando seus braços começaram a se abaixar, lentamente. Os nós dos dedos que pressionavam o arco e seguravam a flecha, estavam brancos.

"Coloque-os no chão." Ela sentiu a hesitação. Afundou um pouco mais a faca. A hesitação sumiu. Enquanto afrouxava os braços ao redor do pescoço para que fosse mais fácil para ambos se abaixarem, ela arriscou um olhar para a outra figura encapuzada, à sua frente. Era uma figura pequena. Olhou para as mãos. Uma jovem. O homem que estava sob a mira da faca de Alina, parecia ser velho e mais forte que ela. Cogitou a possibilidade de matá-lo antes que tentasse algo contra ela, pois não sabia se venceria uma luta corpo a corpo, depois daquela travessia. Seu estômago ainda revirava.
Um farfalhar nas folhas e Tam estava ali, ao lado dela. Alina relaxou, o que foi um erro, pois o homem desembainhou uma adaga e lançou-a em um arco em direção ao pescoço de Tam.

Por refexo, Alina avançou contra ele, segurando seu braço com uma força que o parou a centímetros de Tam e com a outra mão, afundou a faca entre as costelas. Empurrando-a para cima, para mais perto do coração. Ela o sentiu endurecer e cair de costas no chão. Morto.

"Pegue o capuz dele e vista-o." A garota à frente delas era diferente. Sua pele era muitíssimo branca, seu cabelo preto era cheio e cacheado e seus olhos eram de um tom de verde humanamente impossível. Pareciam ter luz própria.
Alina limpou a faca nas calças e olhou para o corpo. Não podiam deixá-lo ali. O desespero bateu. Tam estava encarando descaradamente a garota. Alina se abaixou e começou a revistá-lo. Tirou a adaga das mãos dele e foi apalpá-lo. Nada. Apenas uma adaga, uma corda longa presa à cintura, o arco e o cinto com mais três flechas. Não parecia ser um ladrão muito habilidoso. Começou a tirar a capa dele. Era um vermelho bonito.

A garota resolveu desviar os olhos de Alina tentando tirar a capa do homem morto. "Suas roupas são estranhas."

"Somos forasteiras." Tam respondeu por Alina.

"De onde vieram?" A garota era curiosa.

Alina estava amarrando a capa em si mesma quando disse, "Que tal um obrigada, primeiro?"

A garota estalou os dedos fazendo o corpo morto sumir e disse, "Obrigada."

As duas olharam para o lugar onde o homem morto estava. Não havia nem sangue. As armas ficaram. Alina e Tam se entreolharam. A garota olhou para trás, como se tivesse ouvido algo, então disse para Alina, "Acho melhor você amarrar sua amiga e dizer que ela é uma ladra amaldiçoada." Ela estendeu aoalmas das mãos viradas para o corpo de Tam e uma capa marrom surgiu no corpo de sua amiga. Após fazer isso a garota saiu correndo.

"Que doida." Tam falou.

"Ah, você voltou." Alina estava em dúvida se deveria amarrar a amiga ou não. Era certo que a aparência dela levantaria suspeitas. Nenhum humano tinha o cabelo e olhos naturalmente verde escuro e sangue cor de rosa escorrendo pelo nariz. "Você sangrou." Alina apontou para o próprio nariz.

"Ah." Ela estava terminando de limpar o nariz quando se sobressaltou e disse, "Cavalos. Alguém vem vindo. Me amarre, rápido."

"E se forem ladrões?" Ela não respondeu e Alina agradeceu pela decisão não ter sido sua.

Com a amiga amarrada, um arco nas costas, um cinto com três flechas e uma capa vermelho escuro com capuz, Alina encarava os cavaleiros que, absolutamente e definitivamente, não pertenciam à classe dos que precisavam roubar para viver.

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