Na noite anterior à manhã da partida, Alina esperou que o palácio dormisse, para pedir à um soldado que a levasse às masmorras. A noite estava escura e a luz das tochas não pareciam suficientes para iluminar aqueles corredores.
Se a iluminação dos corredores lá de cima era ruim, a das masmorras era péssima. O soldado parou à porta e ela, pegando uma tocha, seguiu para onde estava Tam. Enquanto caminhava, Alina espiava dentro das celas. Afinal, uma masmorra dizia muito sobre seu dono. Mas não havia ninguém ali, a não ser Tam e a bruxa de olhos verdes, que parecia dormir, encolhida em um canto.
Quando Tam viu que era Alina que estava ali disse, "Olá milady, a que devo a honra de ser agraciada com sua presença aqui, na minha humilde e fétida cela?"
"Boa noite para você também." Alina ficou feliz em ouvir a voz de Tam.
"Eu tenho uma notícia boa e uma ruim." Declarou ela, sem rodeios.
"Engraçado, porque eu também tenho.", Alina disse.
"Você primeiro. A notícia boa, por favor."
"A rainha vai precisar dos serviços do Caçador." Alina indicou a si mesma.
"Por que isso não soa como uma notícia boa?" Refletiu Tam, em voz alta.
"Porque tem a ver com a notícia ruim." Alina não sabia como Tam reagiria. "Ela vai me mandar para um castelo. Vou ter que matar um dragão e trazer a cabeça de uma mulher, para entregar nas mãos dela."
Tam assobiou baixo. "Uau. Vou ter que ficar mais tempo aqui..."
"Desculpe." Alina não queria que ela ficasse ali, parada, sozinha, sem se sentir útil. Alina sabia como Tam gostava de botar a mão na massa.
"Minha vez." Tam falou e não parecia incomodada com o que ela havia dito. "A notícia boa é que, fiz uns cálculos e pelo bipe do relógio," ela botou a mão onde possivelmente estava o relógio. "48 horas aqui, equivalem a 24 horas lá."
Aquela era, realmente, uma boa notícia. "A má?"
"Aquela garota pode ser um problema." Ela apontou com o queixo para a outra cela. "Ela fica fazendo umas perguntas que me deixam atordoada. Parece mais uma louca."
"O que aconteceu com o vou fazer tantas perguntas que seus ouvidos irão sangrar?" Alina perguntou em um tom divertido.
"A rainha esteve aqui há uns dias atrás." Alina ficou dura feito pedra. "Ela não veio só se gabar da prisão dela." Apontou para a bruxa de olhos verdes de novo, "Veio tirar satisfações com a garota, que falou sobre algo que pode ter a ver com o serviço que ela quer do Caçador."
Aquilo estava ficando cada vez mais interessante, "O que ela falou?"
"Ficou meio confuso. Ela falava sobre uma mulher que está viva, a rainha parecia já saber disso e se irritou, dizendo que não ficaria assim por muito tempo." Tam parecia ter guardado aquilo com muito esmero.
"Seria a mesma mulher que a rainha pediu a cabeça?"
"Talvez." Tam parecia pensar. "Em algum momento, a garota disse que ela não deveria ter deixado ela escapar 'daquela vez'. Disse que esse não foi o pior erro dela, disse que esquecer da mulher, é que foi o erro principal. Teve uma frase que ela disse... Como era mesmo?" Ela estava tentando lembrar. "Deixar para morrer não é garantir que ela esteja morta."
Alina escutava cada palavra de Tam. "A rainha começou a dizer que não era para ela estar viva. Ficou repetindo isso várias vezes. Ela surtou. Você precisava ter visto, foi um show. Até ela ter me visto. Eu ainda não sei como... Estava muito quieta escutando a conversa delas... Ah, e antes que ela chegasse mais perto de mim, a garota começou a gritar, me chamando de ladra amaldiçoada. Várias vezes também. Duas fodidas da cabeça... Mas ela me salvou, tenho que adimitir."Era muita informação e muitas perguntas. "A garota de olhos verdes já havia sido presa pela rainha outra vez..." Alina começou a pensar, "Então acho que foi por isso que ela chamou o Caçador. Para matar essa mulher." Tam disse que a garota parecia ser louca. "Mas porque ela acreditaria na palavra dessa garota?"
"Consciência pesada." Disse Tam. "Ela já duvidada que essa mulher não houvesse morrido. Para uma pessoa que é rainha e líder da Inquisição surtar daquele jeito, com certeza deve ser alguém importante. Acredite em mim. Eu estava aqui."
Fazia sentido, pensou Alina. "Ela é uma bruxa também." Alina declarou, apontando para trás, "Essa garota."
"É. De uma bruxa para outra." Ela pareceu ponderar, "Talvez as bruxas não possam mentir umas pras outras."
"Acho que não é isso, Tam." Alina rebateu, mas Tam apenas deu de ombros.
"Agora é oficial: você precisa ir e saber quem ela é." Tam parecia animada. Mais animada que Alina.
"Já mencionei o dragão?"
"Sim!"
Alina se lembrou de outro detalhe, "Sem chance. Ela mandou o capitão da guarda ir comigo, hoje, ao nascer do sol."
"Uma escolta." Quando Tam disse isso, ela riu lembrando que havia dito a mesma coisa.
"Sabe o que é pior?" Alina lançou a pergunta.
"Não consigo nem imaginar..." Rebateu a amiga, com sarcasmo.
"O capitão parece me odiar." Ela declarou.
"Ih... Isso vai ser difícil." Por fim, ela pareceu compreender a gravidade da situação.
"Nem me fale. Vou ter que dar um jeito de tentar domar a fera, até lá."
"Fazer o capitão da guarda da rainha se voltar contra a rainha?" Falando assim parecia impossível. "Boa sorte, Caçador."
"Você tem comido?" Ela mudou de assunto.
"Um coisa tão nojenta que eu ainda não consigo decifrar o que é. Mas sacia." Tam confessou.
"Todo dia?" Alina quis saber.
"Sim." Tam percebeu a carga de preocupação na voz amiga. "Ei, vai ficar tudo bem comigo. Sou uma troll. Sei cantar de dançar."
Rindo, Alina perguntou, "O que isso tem a ver, sua doida?"
"Nada, mas pelo menos você riu." Tam respondeu, rindo também. Elas se entreolharam.
"Não posso demorar muito por aqui. Tenho quase certeza de que as marionetes do capitão vão correndo contar para ele que vim aqui, depois que sair. Partiremos antes do sol nascer." Ela sentiu que precisava confortar Tamara. "Vou fazer de tudo para voltarmos para casa, Tam. Eu te prometo."
"Ok. Você está começando a me assustar, Alina." Tam falou com estranhesa. Alina riu.
Elas se despediram e ela olhou mais uma vez para a amiga encarcerada, antes de ir embora.
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Um Conto Kyoban
Fantasy"Cada momento que se passava, as batidas de seus corações se aceleravam, a tensão se acumulava nos músculos e seus corpos se preparavam para o desconhecido. Tam não conseguia pensar em mais nada a não ser ir e voltar, viva. Alina estava preocupada c...