"É uma história longa."
Ela avisou como se esse fato fosse fazer Alina repensar."Então é melhor começar logo." Ela sentou na cama.
"Eu trabalhava para a antiga rainha. Era uma criada e em uma das viagens que eu tinha que fazer à serviço do cozinheiro, eu conheci um dragão. Ele parecia ser jovem. Não sei o que você sabe sobre dragões, mas eu sabia que não era natural um animal demonstrar emoções humanas, como aquele dragão estava fazendo. Parecia apreciar o sol, como se realmente o visse." A mulher, mesmo cansada, parecia relembrar. "Dragões não fazem esse tipo de coisa, são apenas animais comuns. Mas, como a bruxinha curiosa que eu era, aquilo me intrigou." Então, pensou Alina, ela é uma bruxa também. "Não sei o porquê fiz aquilo, pois havia uma regra muito antiga repeitada por todos os clãs: jamais deveríamos tentar domar um animal, naturalmente selvagem. E dragões são animais extremamente selvagens. Mas isso não me impediu, porque eu queria que ele fosse meu." Ela respirou. "Comecei a ler ele, para saber como fazê-lo obedecer somente à mim." Ela fez uma pausa e riu para si mesma. "Quando eu estendi as minhas mãos e comecei a lê-lo, senti que ele era amaldiçoado. Tinha um feitiço ali, cobrindo ele. Era um feitiço de contenção. Então, não o perdi de vista depois daquele dia. Comecei a estudar escondida para remover aquilo dele. Era muito nova, aprendiz e ainda não domava minha magia muito bem. Mas eu não desisti." Ela fez uma pausa para respirar, seu olhar era pura nostalgia. "E um dia eu consegui. Eu estava tão obcecada em quebrar aquele feitiço intrincado, porque era um desafio para mim e eu amava desafios... que não parei para pensar no que ele estava contendo. Até que, bem diante dos meus olhos, o dragão virou um jovem." Alina começou a achar tudo aquilo muito romântico, pois era a história deles dois, até que ela confessou, "Você não tem ideia da raiva e decepção que eu senti quando vi que meu dragão, havia se transformado em um garoto." Ela parecia relembrar o sentimento enquanto falava. Uma mulher intensa, concluiu Alina. "Mas não demorou muito até nós dois nos apaixonarmos." Rindo, ela olhou para o canto mais afastado do quarto, onde o homem estava segurando um calmo recém nascido, sobre o peito nu.
Era uma história bonita, mas ela não queria escutar sobre o amor. Queria outras respostas. Respostas sobre a rainha e porque ela queria a cabeça daquela mulher à sua frente. Alina se lembrou de quando ela e Tam chegaram aos domínios do reino e os soldados falaram sobre o rei morto. "Como o rei morreu?"
Apenas duas palavras, "Conselheira Guelya."
Como ela viu que Alina não sabia de quem se tratava, explicou, "Guelya era a conselheira do rei. Se você está aqui para me matar, creio que ela ainda esteja no trono." Ela pensou em voz alta, "De amante à conselheira." Então foi assim... "Eu sabia. Eu via como ela era. Eu sabia que aquela mulher seria a ruína do nosso reino."
Guelya era o nome da rainha. Guelya era uma bruxa que manipulava magia antinatural com esmero. "Ela simplesmente o matou?"
"Não, foi muito sutil. O que a torna realmente perigosa é o modo como ela sabe usar o cérebro e como manipula as pessoas. Foi um golpe planejado e demorado. Bem diante de toda a corte. Eu estava ocupada demais dividida entre meu clã e meu homem-dragão, para ver o que estava bem diante dos meus olhos." Ela coçou os olhos como se ainda sentisse frustração. "Desde o começo foi tudo uma armação dela. Eu não reuni as informações antes de..." Ela parou. Seus olhos corriam de um lado para o outro, como se juntando as peças.
"Antes de...? O quê? O que foi?" Alina não percebeu que estava quase em cima da mulher, até que sentiu que segurava um dos pulsos dela. Elas se encararam.

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Um Conto Kyoban
Fantasía"Cada momento que se passava, as batidas de seus corações se aceleravam, a tensão se acumulava nos músculos e seus corpos se preparavam para o desconhecido. Tam não conseguia pensar em mais nada a não ser ir e voltar, viva. Alina estava preocupada c...