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Acampado na frente do maldito portal, Asher amaldiçoava a Caçadora.
Listava as diversas maneiras que conseguiu planejar, para matá-la.
A noite havia chegado e uma coisa ele já havia decidido. De mãos vazias, ele não voltaria ao palácio.

Ele só teria que esperar.
E Asher esperou.
Esperou e esperou.
Ele não tinha outro lugar para estar.
Ele ficaria ali, esperando-a.

No meio do dia seguinte, cogitando a morte dela, estendeu o prazo de espera e estipulou que partiria bem cedo, de volta, na manhã seguinte. Teria que relatar a falha da caçadora e sobre ele não conseguir passar pelo feitiço que cobria aquele lugar.

Preparando-se para passar mais uma noite ali, ele foi caçar.
Havia memorizado o mapa que a rainha havia posto sobre a mesa, para informar onde estava o castelo. Pela imagem em sua memória, ele encontrou um rio e seguiu as coordenadas.

Na volta, quando o sol estava prestes a sumir atrás das montanhas à oeste, viu Alina, de pé, em sua armadura preta, segurando duas espadas.
Asher teve um pressentimento ruim de que as coisas não estavam... certas.

Calmamente, ele colocou os peixes em um local seguro no mini acampamento, logo em seguida, voltou-se para a Caçadora, parada ali, à sua frente, com uma expressão que a deixava atraente. Ela parecia determinada e pronta.
Pronta para matar alguém, pensou Asher.

Sem rodeios ela declarou, "Tenho uma proposta para você."

Ele queria ouvir uma explicação antes de cortar a cabeça dela e dá-la de presente à rainha.

"Qual seria."

"Uma luta." Simples e direta, ela jogou uma espada que ele não reconheceu, à seus pés e em seguida começou a se despir da armadura. "De igual para igual." Ela começou pelos braços.

Escondendo sua surpresa abaixo da máscara de desdém, ele esperou que ela continuasse.

"Sabe, capitão..." Ela se ajoelhou, tirando as peças que protegiam suas pernas. "Somos mais parecidos do que qualquer um de nós gostaria de admitir."

Ele olhou para a espada jogada no chão, próxima à seus pés e depois olhou para a figura ajoelhada mais adiante. Seria fácil empunhar a espada e descê-la no pescoço dela.
Mas Asher não moveu um músculo.

"Que proposta seria?" Reformulou a pergunta, pois ela não deixou claro sobre o que estava propondo. As lutas sempre tinham um propósito.

Após retirar as peças de metal, ela começou a amarrar o cabelo.
Por baixo da armadura ela vestia preto, uma calça justa e uma camisa que seguia até seus pulsos. Sem espartilho, seus seios despontavam sob a camisa preta. Lambendo dos lábios, Asher desviou os olhos daquela região, perigosa demais para seu corpo masculino adormecido.

"Se você me vencer, eu durmo com você." Asher amaldiçoou seus próprios olhos por pousarem no sorriso manhoso que os lábios dela exibiam. Maldita. Era uma provocação.

"E se você vencer?"

"Ainda não consegui pensar sobre o que eu quero." Ela estava brincando com ele. Tudo aquilo parecia uma grande brincadeira para Caçadora. Ele se enfureceu. Abaixou-se pegando a espada e se posicionando para luta.
Ele não ficaria à mercê dela.
Atacou, testando-a.

Alina já havia considerado o estilo de luta do capitão. Firme e cauteloso. Estava preparada.

Após o ataque de esquerda, ela se lançou sobre ele dando golpes duplos seguidos. Ele bloquou firmemente e ela recuou.

"Por que você serve à ela?" Alina começou.

Supreendido com a pergunta, ele atacou novamente. Quando as duas espadas chegaram à um impasse ele disse entredentes. "É a rainha."

Habilmente ela desfez o impasse, ultrapassando habilmente as defesas dele, atacando-o em seguida, mas costelas.
Desequilibrado, ele deu passos para trás.

Ela começou a listar, "Você não tem pai. Você não tem mãe. Você não tem esposa e muito menos, filhos." Ela sentiu o triunfo se aproximando quando olhou para a expressão em seu rosto. "O que te prende à ela?" Analisando minuciosamente o rosto dele, conseguiu captar o impacto das palavras, então prosseguiu, "O que ela fez por você?"

Ele atacou. Com facilidade, ela se esquivava dos golpes de sua espada e quando ele partia para a luta corpo a corpo, ela utilizava de sua elasticidade corporal adquirida na Academia. Quando seus rostos se aproximaram em outro impasse de espadas, ela testou o gosto da próxima pergunta, olhando firme em seus olhos, "O que ela fez por sua família?"

Ele não respondeu.
Ela desfez o impasse.

Os dois estavam suados, arfando e se encaravam com intensidade.

Ela era ágil demais. Como uma cobra, concluiu ele. Seus golpes eram fluidos e sincronizados com todos os seus membros. Ela sabia como usar todo o corpo em uma luta e moldar a força do adversário à seu favor. Ele remoía as perguntas dela.

O que ela fez por sua família?

Asher balançou a cabeça, negando. "Não. Eu jurei lealdade. Meu avô e meu pai também."

O que te prende à ela?

Tentando convencer a si mesmo, ele repetiu com firmeza, "Eu sou leal." E foi declarando isso que ele avançou contra a Caçadora.

Cada vez que ela conseguia se desviar das investidas de sua espada e de seus golpes, sua raiva inflava seu peito, fazendo sua pele arder. Ele se sentia como se estivesse em chamas.

"É mesmo Asher?" Alina se sentia desperta e ousada, "Responda-me, você jurou lealdade à rainha..." Para aproximar seus rostos, ela o instigou a entrar em mais um impasse entre espadas, "...ou à coroa?"

Ela sentiu a breve hesitação perpassando pela força da espada que duelava com a dela. Aproveitando o momento de hesitação, continuou, "Eu vi os olhares de ódio para o símbolo do dragão na minha armadura. Você sabe que o povo não a quer mais no poder. O povo sente falta de seu antigo rei. O povo sente falta da família real no trono."

Ele desfez o impasse e com um golpe tão rápido e fluído, deu uma rasteira que a levou ao chão, em seguida esclareceu, "A família real está morta." Ele cuspiu as palavras, apontando a espada para a garganta dela.

Sentada de bunda no chão, ofegante e não desviando o olhar de seu rosto, ela o questionou mais uma vez, "E se houvesse a possibilidade do herdeiro estar vivo," Ela fez uma pausa decifrando suas reações, "você continuaria a ser leal à ela?"

"Um capitão da guarda jura lealdade à coroa." esclareceu, "E consequentemente, à quem a estiver usando. Você perdeu."

Não poderia desistir, mesmo à dez passos da linha de chegada, "O herdeiro está vivo, Asher. Eu sei, eu o conheci."

Alina não esperava que a surpresa daquela revelação, fosse impactante o suficiente para fazê-lo dar alguns passos para trás, como se tivesse sido atingido por algo.

Um Conto KyobanOnde histórias criam vida. Descubra agora