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Ela estava diante de um dragão muito parecido com o que havia visto no vitral, atrás do trono da rainha.

Mas perto daquela criatura que estava bem à sua frente, o vitral parecia apenas um rascunho.

Com as quatro patas curtas e gordas, apoiadas no chão, ele parecia esperar.

Foi o tempo que Alina teve para devorar com os olhos cada detalhe daquela obra de arte da natureza. Os dragões que voavam sobre o céu de seu planeta não chegavam aos pés daquele. Enquanto os dragões da Terra eram magros, médios e com cores sem graça, aquele era coberto por pequenas escamas pretas como nanquim e arabescos de ouro líquido, que iam do pescoço, passando pelo torso e terminando na ponta da cauda que balançava, chicoteando o vento.
Quando ele abriu as asas, a luz do pôr do sol incidiu sobre ele, atravessando suas membranas. Alina olhou em seus olhos  dourados.

Alina nunca tinha visto uma criatura tão linda.
Alina nunca tinha visto uma besta tão poderosa.

Aquele era um dragão de guerra. Feito para esmagar, com apenas uma única pata, dez homens. Era um dragão feito para voar o céu noturno. Era um dragão que as lendas provavelmente contariam.

Alina não queria matá-lo.
Não.
Ela queria subir em suas costas, voar até o palácio e derrubar, pedra por pedra, aquela construção.
Ela queria se sentir como aquela guerreira do vitral. Queria saber como era voar em suas costas e empunhar uma espada.

Sua inquietação era aparente no balanço da cauda e no abrir e fechar nervoso de suas majestosas asas. O que ele estava esperando para engoli-la viva?

Alina não conseguiu sentir a espada. Quando ela caiu, voou longe.
Ela procurou ao redor.
Estava há uns dez passos de distância do sua mão direita.

Alina olhou para o dragão, olhou para a espada e olhou de volta para o dragão.
Ela viu quando os olhos dele se voltaram para a espada longe dela. Ele bufou.
Alina não entendeu.
Sua cabeça se voltava para espada.
Alina entendeu.
Ele estava apontando para a espada. Ele não lutaria com ela desarmada.
Que cavalheiro, ela pensou.
Ele ainda era o homem racional, só que agora na forma de um dragão alado preto e dourado.

Alina se levantou o mais rápido que a armadura permitiu e correu para pegar a espada e empunhá-la de volta.

Alina viu QUANDO ele se preparou. Ele iria rugir e se ele fosse como os dragões que ela conhecia, iria cuspir uma labareda de fogo que a faria virar churrasco.

"Mas eu não vou virar o jantar de hoje", ela declarou.

E correu em direção ao dragão.

Alina não fazia a mínima ideia do que estava fazendo.
Alina não tinha um plano.

Por algum milagre ela conseguiu passar por ele. A labareda de fogo que ele havia cuspindo, por sorte, não conseguiu atingi-la.
Mas havia esquentado a armadura.
Ela agradeceu e amaldiçoou o castelo.
A queda de algumas paredes permitia que o vento circulasse lá dentro, esfriando a armadura em alguns instantes. Mas o castelo era grande demais para um ser humano correr de um lado para o outro.
Atrás de uma coluna ela tentava recuperar o fôlego e pensar no que fazer.
Daquele jeito ela não conseguiria vencê-lo.
Ela teria que matá-lo e achar a mulher.
Um bom lutador sabe escolher suas lutas.
Lutar diretamente contra ele estava fora de cogitação.
Alina percebeu a burrice em que havia se metido.
Ela sabia onde ficava o castelo, mas não sabia em que lugar daquele castelo estava a mulher.
E o castelo era enorme.
Ela espiou o dragão.
Ele era grande e consequentemente, lento.
Ele estava procurando-a.
Ela pensou.
Quando ele cuspiu fogo, provavelmente fechou os olhos, por isso errou onde eu estava. Não considerou que eu estivesse em movimento.
Alina riu pensando, bonito, mas não muito inteligente.

Ela voltou os olhos para o andar de cima do castelo... Escadas.
Se estivesse um lugar onde ela estaria, Alina chutou, seria no andar de cima.

Não. Ela ainda não poderia subir. Não queria sair correndo abrindo todas as portas enquanto ele a perseguia.

Ela olhou de novo para o dragão.
Ele havia parado e estava esperando ela aparecer.

Ela precisava de pelo menos uma direção de onde procurá-la. Olhou novamente para ele. De onde ela estava, poderia vê-lo, abaixando o pescoço, procurando-a no térreo. Alina continuou a olhá-lo.
Um eco da voz rainha soou em sua mente.
A não ser por um dragãozinho de estimação que protege o castelo dela.
Alina o olhou com mais atenção e quando notou, minimamente o movimento repetido de cabeça, ela concluiu, Touché.
E começou a correr até a escada.

A rainha havia errado, ele não protegia o castelo. Ele protegia a mulher. Estava com tanto medo do que Alina havia dito, que inconscientemente, voltava sua cabeça para a direção do quarto onde ela provavelmente estaria. Preocupado com a segurança dela.

Alina subiu as escadas e olhou para ele lá de cima, chamando sua atenção. Ele já estava a caminho, mas ela queria confirmar, então fez um movimento que sugeriu correr na direção que ele havia, sem querer, indicado. Foi quando ele, automaticamente, se posicionou para frente e rugiu, com raiva.

O sorriso que Alina exibiu para ele era de pura vitória e orgulho.
Como dragão, ele não conseguiria subir as escadas, teria que se transformar em humano novamente. E se fosse tão cavalheiro quanto aparentou ser, vestiria as calças. Enquanto Alina corria olhando para os lados, viu que muitos quartos haviam sido destruídos e somente um, no fim do corredor, estava aparentemente intacto.
Torceu para que a mulher que dorme estivesse ali.

Alina sentiu quando a assassina dentro dela despertou, abrindo os olhos e sorrindo maliciosamente.

Então, apertou os dedos no cabo da espada e correu mais rápido, entrando no quarto com uma determinação de ferro.

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