Alina encarava seu reflexo no espelho.
Começou a se questionar sobre o que fazia ali, em outro mundo. Se perguntou como havia deixado que Chefe tomasse de conta das rédeas da vida dela. Se lembrou que não foi uma opção. A Academia de Balé, no começo, era apenas um lugar de dança e crianças felizes. Se perguntou o quão azarada havia sido para, dentre todas aquelas crianças, ser escolhida para conhecer outros tipos de dança. A dança da morte. Houveram tantas oportunidades para contar à mãe o que realmente acontecia lá, mas uma jovem com os olhos sobre si mesma e um ego sem proporções, se sentia sortuda e pertencente à algo maior. Traficar Livros era a fumaça que encobria o que ela e Tam eram capazes de fazer. Com apenas um nome na cabeça, culpou Chefe por tudo de errado que aconteceu e iria acontecer com elas duas. Ela sentiu vontade de chorar. Ela se chamou de burra. Ela se chamou de fraca. Ela amaldiçoou sua capacidade de amar, pois o amor que sentia pela mãe e pela amiga, a havia feito agir sem pensar.
Era por causa do amor que ela ainda estava viva.
E era por amor que ela matava e mataria.Olhando aquela mulher de cabelo trançado no espelho, vestida do pescoço aos pés, com uma armadura preta e dois dragões de ouro entalhados sobre lado esquerdo do peito, ela percebeu que era simplesmente o que estava refletido ali. Uma mulher de armadura e não uma guerreira.
Guerreiras buscavam o verdadeiro inimigo e o confrontavam.
Guerreiras não eram marionetes no joguinho de um doutor elfo e de um mafioso.
Guerreiras não sentiam o medo que ela estava sentindo naquele exato momento.
Guerreiras não sentiam um vazio no peito e uma insensibilidade corporal, como ela.
Guerreiras tinham um fogo no lugar do coração e paixão no olhar.Olhando nos olhos daquela mulher fantasiada de guerreira, ela só via escuridão e vazio. Vazio, vazio e vazio.
Ela só queria voltar para aquela tarde em que terminava mais um quadro para vender.
Ela só queria que aquele dia terminasse com ela e a mãe, na mesa de jantar, rindo. Ela riu com escárnio para si mesma. Perguntou-se por que parecia errado estar ali. O quarto começava a clarear com os primeiros raios da manhã. Ela observava os tons de rosa e roxo, típicos do nascer do sol que acontecia às suas costas, refletido no espelho à sua frente. O capitão estava esperando.Ela colocou a capa marrom que havia pedido à uma das criadas sobre a armadura, pegou a espada e vestiu-se de indiferença.

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Um Conto Kyoban
Fantasy"Cada momento que se passava, as batidas de seus corações se aceleravam, a tensão se acumulava nos músculos e seus corpos se preparavam para o desconhecido. Tam não conseguia pensar em mais nada a não ser ir e voltar, viva. Alina estava preocupada c...