Capítulo 34- Park Jin Woo

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 Estávamos na nossa última noite dentro do barco, apesar de um forte vento com sinais de tempestade ao longe, nosso navio estava fora de perigo e assim fui levado pelos meus pensamentos a fazer uma análise dos dias que se passaram. Nunca havia convivido com pessoas pobres pois o meio em que eu vivi sempre foi o palácio. Mesmo fazendo parte do exército e tendo uma rotina disciplinada o que encontrei aqui nestes dias me chocou, uma coisa era escutar rumores da miséria, outra era ver o sofrimento tão de perto. Aqui pude conviver com esta pobreza, foi aqui que eu descobri a história desses jovens e dessas crianças e o que as levou a esse presente tão triste. Muitos foram vendidos por seus próprios pais por conta de dívidas, vários eram órfãos e outros eram ladrões e foram presos por pequenos roubos para sustentar seus irmãos e sua família. O que eles tinham em comum era uma tristeza palpável.  Mas por quê tudo isso? Por quê tanto sofrimento? A troco de que? O que nós ouvíamos de todos era a grande crise que o país tinha entrado por conta da má administração por parte daquele que deveria zelar e proteger seu povo, daquele que tinha assumido um compromisso com todos que estavam naquele barco, e por falha dele foi dado abertura a homens inescrupulosos e corruptos, e por conta disto a população era atingida violentamente. Senti naquele momento que deveria fazer algo mais do que somente observar, gostaria de ter um plano maior para ajudar a todos ao invés de ir atrás de um príncipe e de uma princesa que fugiram de um palácio. Aliás por que eles fugiram? Por quê eles deixaram para trás todo o luxo? O que os motivou a deixar seus palácios? Era algo a se descobrir. Portanto antes de levá-los embora, porque eu sei que vou capturá-los,eu iria descobrir o que os levou a tomar aquela decisão. Agora o que ainda me intrigava era aquela moça. Sua beleza era mais do que notável, perdendo somente para a sua frieza. Pude ver que no começo alguns marujos tentaram tirar proveito da situação, hipnotizados pela sua beleza selvagem, porém a hipnose durou pouco, observei que ela além de linda sabia lutar muito bem, que de certa forma me fez suspirar. No entanto acho que foi por conta da solidão, pois eu não era um homem de romance, não podia perder tempo com essa bobagem, além do mais, eu era um soldado e fui treinado para ter o coração duro como uma pedra e frio como o gelo.

               A noite passou rápida e enfim chegamos, mas para alguns a viagem acabou mais cedo. Senti o barco atracar no porto e minutos depois ouvi passos. Um soldado apareceu e ordenou:

           — De pé agora seus preguiçosos. Uma nova vida os aguarda, e eu garanto a vocês que não será nada melhor do que este navio.

               Nos levantamos com dificuldade e começamos a subir para o convés. Aqueles que tropeçavam apanhavam dos soldados que zombavam de nós quando passávamos. Um deles me deu um soco na costela que me fez perder o ar por alguns segundos.

             Assim que cheguei no convés um vento cálido veio de encontro com meu corpo e penetrou até o fundo de minha alma, fazendo meu corpo estremecer por conta do frio. No céu haviam várias nuvens negras que cobriam o Sol, deixando o dia com uma aparência sombria e triste. Olhei para as filas e tentei achar o Taehyung e quando o encontrei  me assustei com o que vi. Ele estava com olheiras negras profundas, o corpo tão magro que era possível ver todos os seus ossos, a pele não tinha aparência saudável pois ao invés de estar levemente rosada ela estava branca esverdeada, notei também que ele tinha hematomas por todo seu corpo. Seu cabelo estava comprido e ensebado e sua barba havia crescido. Seus braços antes tão musculosos, estavam magros e flácidos. Imaginei que eu deveria estar na mesma situação. 

             Passado algum tempo eu vi o capitão do navio indo até a frente das filas e anunciou:

         — Nós iremos para o palácio agora. Nada de moleza, todos andando. Agora!

             Começamos a caminhada, porém era extremamente difícil e cansativo andar com grandes correntes de ferro em nossos pulsos e pés. Andávamos em um ritmo lento e frequentemente os soldados nos chicoteavam. O capitão e alguns soldados iam a cavalo e os outros iam a pé ao lado das filas para garantir que ninguém tentasse escapar, porém eu não achava que alguém seria louco o bastante para tentar uma fuga. Depois de quase vinte minutos de caminhada a fila ao lado da minha parou. Olhei para o início da fila e pude ver um senhor caído no chão e um soldado o açoitando e gritando para que ele se levantasse. Ao ver aquilo, não consegui conter minha raiva e gritei:

         — Deixe ele em paz!

              O soldado se virou para mim e me encarou incrédulo. Provavelmente nenhuma outra pessoa havia desafiado um soldado. Ele parou na minha frente e me deu um soco na boca e pude sentir gosto de sangue.

     — Cale a boca. Se você falar mais alguma coisa de novo eu cortarei a sua língua. 

              Me mantive em silêncio pelo resto do caminho.

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