Capítulo 38 - Princesa

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              Eu passei o resto da noite pensando nas palavras do mestre. Acordei várias vezes durante a noite por conta de pesadelos no qual todos acabavam da mesma maneira, meu pai matando um de meus entes queridos. Depois de muitas horas em claro consegui dormir um pouco. Acordei com o Sol batendo em meu rosto, eu sentia como se eu tivesse acabado de fechar meus olhos. Ao julgar pela cor do Sol, o dia havia acabado de começar. Percebi que eu não conseguiria mais dormir e resolvi levantar. Saí da casa e vi que os rapazes ainda dormiam. Passei por eles tão silenciosa quanto um gato. Fui até o riacho, me sentei e coloquei meus pés na água. A grama estava úmida por conta do orvalho e os pássaros saíam de seus ninhos. Escutei um barulho e olhei para o céu, e pude ver uma revoada de andorinhas vindo em minha direção, imediatamente levei as mãos à cabeça, porém percebi que que o alvo delas não era eu e sim o riacho. Elas desciam em grupos e davam rasantes na água. Aquela foi a cena mais bela que eu havia visto em toda a minha vida. No palácio eu não tinha a oportunidade de ver a natureza, muito menos senti-la. Me levantei e voltei para a casa do Myungjun e vi que a mãe dele estava na cozinha preparando chá. Assim que ela me viu falou:

            — Bom dia querida. Acordou cedo… Gostaria de uma xícara de chá?

            — Eu adoraria senhora. - Eu sorri.

            Ela me entregou uma fatia de pão e uma xícara de chá e então se sentou na mesa comigo.

            — Se não for problema para você... eu gostaria de saber o que trouxe vocês à nossa Ilha.

            Engoli em seco, não esperava por aquela pergunta. Tentei responder sem gaguejar:

             — Nós estamos buscando melhores condições de vida. Hoje iremos até a vila para procurar um lugar para morarmos.

             — Ah, certo. Querida - Ela falou afobada — Não quero que você ache que estou te expulsando. Vocês podem    ficar o tempo que precisarem.

            — Muito obrigada senhora. Nunca esquecerei a sua generosidade. — Eu sorri e ela também.

            Assim que acabamos de comer eu me ofereci para tirar a mesa e ela agradeceu. Assim que terminei eu perguntei:

            — Eu posso ajudar com mais alguma coisa?

            — Não precisa se preocupar com isso querida.

            — Por favor senhora, eu ficaria muito feliz em ajudá-la.

            — Tudo bem então. Eu irei cuidar da horta, você pode pegar os ovos das galinhas. Vamos.

            Ela me conduziu até a granja e me entregou duas cestas. Uma vazia e a outra cheia de quirera de milho. Ela me instruiu em como eu deveria fazer para pegar os ovos e depois foi até a horta. É fácil, eu consigo. Abri a porta do galinheiro e  entrei. Respirei fundo porém me arrependi na mesma hora, um cheiro podre entrou por minhas narinas e impregnou meus pulmões, comecei a tossir e percebi que eu havia cometido um péssimo erro. Todas as galinhas olharam para mim e vieram correndo em minha direção. Nunca havia visto animal tão raivoso quanto elas. Numa tentativa desesperada de tentar acalmar aquelas feras penosas joguei toda a quirera no chão, péssimo erro, de novo. Elas começaram a usar seus bicos afiados como navalhas para pegar os pedaços, várias acabaram bicando meus pés. Tentei correr porém elas formaram uma muralha de bicos, penas e garras ao meu redor. Comecei a entrar em pânico e fiz o que qualquer um na minha situação faria, gritei por ajuda. Meu pedido de socorro foi respondido com rapidez, pois segundos depois um cavalheiro apareceu para me salvar, porém quando vi seu rosto, uma decepção profunda caiu sobre mim. Ao invés de receber um príncipe encantado eu recebi um marinheiro metido. Moon Bin com certeza era a pessoa que eu menos desejava ver naquele momento.

            Assim que ele se aproximou do galinheiro abriu a porta e entrou. Ele começou a bater o pé no chão e a berrar e as galinhas desapareceram rapidamente. Ele pegou minha mão, fazendo um formigamento percorrer meu corpo, e falou:

             — Vamos sair daqui antes que elas voltem. — Ele começou a correr e me levou para fora do galinheiro. Assim que chegamos à uma distância segura ele largou minha mão e falou um pouco ofegante:

             — O que você estava fazendo lá dentro sozinha? Você se machucou?— ele perguntou analisando meu rosto.

             — Sim. — respondi —Aqui— coloquei a mão em cima do ponto onde ardia.

            Ele suavemente colocou o dedo em meu queixo e analisou o machucado.

             — Elas poderiam ter feito um estrago bem maior. Você tem sorte de ter sido só um arranhão. Vou perguntar para o médico Sanha o que você pode passar para não infeccionar.

            Ele se virou e foi embora. Voltei para casa à passos arrastados. Eu conseguira falhar naquela tarefa tão fácil, como eu iria conseguir governar um reino se nem pegar ovos de galinha eu conseguia?

The Joseon DynastyOnde histórias criam vida. Descubra agora