Emanuele assim como os rapazes, não se sentia confortável para contar o que acontecia de suspeito na loja. Contudo acabou dizendo que os celulares que ele vendia para Heidi eram entregues para um Hacker, que fazia a limpa nos dados. Este conseguia clonar o código IMEI que servia como identificador do aparelho. Uma das capacidades dos telefones do hacker era que o celular não ficava facilmente rastreável pelas estações rádio base. Emanuele explicou para eles, que essas eram as famosas as torres de telefonia que vemos em todas as cidades.
Dava para ver que Emanuele não sentia muito orgulho em dizer essas coisa, mas Caio entendeu por que ele se colocou naquela situação.
-... Com os negócios indo mal, foi o modo que encontrei para manter a loja em pé, falta pouco mais que cinco anos para meu pai se aposentar, eu não podia deixá-lo falir. Então o que posso fazer é passar o e-mail desse hacker, mas vocês vão precisar pagar por isso e não podem dizer que foi eu quem passou.
- Quanto? Perguntou Caio direto.
- Quinhentos euros.
- Isso deve ser quase o preço desse celular. Mateus contestou.
- Vocês estão aqui pela informação dentro do celular e não pelo celular.
- E quem me garante que vai funcionar? Perguntou Caio mais uma vez.
- Ninguém garante, mas vocês acham mesmo que a garota viria aqui todo mês se não tivesse um motivo? Ela poderia comprar celular em qualquer lugar, mas preferia vir aqui em uma loja de bairro. São quinhentos euros. É pegar ou largar, meu pai já vai começar a desconfiar lá trás.
- Tudo bem. Disse Caio.
O rapaz puxou umas notas dentro da pequena mochila que carregava, contou e entregou para o lojista que logo enfiou o lucro no bolso traseiro.
Emanuele anotou algo meio sem sentido aos olhos de Caio e Mateus e o entregou a eles dizendo o seguinte:
- Esse é um e-mail da dark net, vocês vão precisar acessá-la para falar com o Stainz2bl0od, o cara é meio sinistro, nunca vi pessoalmente, mas sempre fez o trabalho do jeito certo.
- E como a gente faz para entrar nessa dark net?
- Pesquisa que você vai achar, mas se vocês têm dados importantes no computador de vocês eu aconselho fazerem back-up...
Assim que estava terminando a frase, Emanuele ouviu seu pai saindo dos fundos, abrindo os braços, como se dissesse que não achou o que procurava.
- Lascia stare, loro già se ne vanno.- Mais uma vez os rapazes não entenderam o que Emanuele disse, mas em seguida ele falou com os rapazes. - Acho que acabamos por aqui.
- Sim claro. Disse Caio. E junto com o amigo logo saíram da loja.
***
Durante o caminho Mateus questionou o amigo sobre o porquê ele pagou tanto dinheiro para uma informação que poderia não levar a lugar algum, eles podiam pedir para polícia ir atrás dos dados sem eles pagarem nada. Disse também que a polícia tinha aparelhos para desbloquear celulares, Caio retrucou dizendo que demoraria para conseguir uma autorização de algum juiz e que cada minuto que eles perdessem poderia ser um minuto a menos para Heidi.
- Salvar Heidi arriscando a sua vida não vai remediar nada do que já aconteceu, Caio você sabe disso, não sabe?
- Isso não tem nada a ver com a minha irmã.
- Pra mim parece que tem muito a ver sim, mas você que sabe, não sou eu que vou controlar o que você faz, o problema é que você está me puxando para dentro dessa história também.
- Eu já disse que você não precisava vir.
- Claro! E você quer que eu faça o que? Deixe você morrer sozinho? O que você acha que vou fazer? Te abandonar para você carregar o peso mais uma vez de não ter feito o que achava que devia ter feito? Não, não é isso que os amigos fazem e até onde eu puder... tô contigo. Só preciso deixar claro para você que nada disso é normal e que se você quer mesmo fazer isso eu estou aqui, mas preciso que tenha cuidado.
- O que aconteceu com minha irmã não tem nada a ver com isso. Repetiu Caio amargamente.
- Se você quer pensar assim não tem problema, mas você não podia ter feito nada no passado, talvez isso agora também esteja além do seu alcance e não possa fazer nada mais uma vez.
- Com esse espírito eu não faço nada mesmo.
Caio sabia que seu amigo tinha razão, mas todas as vezes que aquele assunto entrava em discussão ele ficava orgulhoso demais para admitir que estivesse errado. Não poder ajudar sua irmã quando ela mais precisou dele, com certeza o marcaria para o resto da vida, ele sabia disso. Ainda que o passado não exista mais, além do que nos lembramos dele, suas marcas são atemporais.
Nos dias que passou com Heidi, Caio aprendeu a gostar dela como nunca tinha se permitido gostar de alguém antes. Era como se por estar em outro país, ele deixasse a versão real dele, a que sempre prendeu dentro de si, sair para ver o mundo. Heidi era carinhosa e atenciosa, mas, ao mesmo tempo, tinha aquele olhar de quem desconfia do mundo inteiro. Foram dias divertidos e peculiares.
Quando se entregaram de corpo um para o outro no quarto daquele apartamento em que estiveram a poucas horas, Caio sentiu-se em paz como não se sentia há quase quinze anos. Talvez ele não estivesse tentando salvar a garota, talvez também estivesse tentando salvar a si das algemas que ele havia se colocado ao longo dos anos. O peso de um passado mal resolvido era pior do que qualquer peso físico.
- Pronto chegamos. Disse Mateus.
Enquanto vagava entre seus pensamentos os minutos passaram tão rápido que Caio sequer percebeu, mas decerto modo estava feliz por isso, pois não estava a fim de esperar.
Mateus embicou o carro na vaga do pequeno estacionamento do lado de fora do prédio e antes de seu amigo desligar o motor, Caio já estava saindo do veículo e quando já estava no lado de fora ele disse:
- Você podia ir pegar algo para a gente comer.
Não era nem meio dia, mas ainda que Caio estivesse sem ânimo para comer, ele sabia que nessa hora o estômago de seu amigo já devia dar urros de ira... que na verdade era fome. Afinal de contas eles não tinham comido nada até agora. Sabia que quando Mateus voltasse já teria resolvido tudo o que precisava fazer ou já estaria com tudo bem encaminhado.
Sem nem esperar o amigo responder, porque sabia que ele não faria, Caio foi para o apartamento.
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Vou te encontrar
Mystery / Thriller1º LUGAR NO CONCURSO BLUE - REINO AZUL. Caio viaja com seu melhor amigo, Mateus, para Roma. Nessa viajem Caio conhece uma garota misteriosa, Heidi, uma turista holandesa, e eles têm um breve relacionamento que é interrompido quando ela é sequestrad...